Doenças de inverno

Este novo ano de 2015 veio acompanhado de descidas de temperatura. Há um risco acrescido para infecções respiratórias, que são provocadas sobretudo por vírus e bactérias, cujo crescimento e desenvolvimento é ajudado pelo frio e humidade que se fazem sentir no Inverno.

As doenças mais comuns no Inverno são gripe, faringite, otite, amigdalite, constipação e pneumonia. No texto deste mês, irei abordar em que consiste cada uma delas, assim como o tratamento adequado e formas de as prevenir.

No período invernoso, é frequente o agravamento das situações de rinossinusite – uma infecção do nariz (causada pela infecção dos seios perinsais – cavidades nos ossos da cara que comunicam com o nariz). Esta é caracterizada por febre, nariz entupido e secrecções nasais espessas e com pus de cor amarela, verde ou castanha, dores de cabeça e/ou nos ossos da face, diminuição do olfacto, mau hálito, tosse (pela descida das secrecções do nariz para a garganta), dor nos ouvidos e dentes do maxilar superior, mau-estar e cansaço. O tratamento passa pela drenagem adequada as secreções e tratamento da infecção, através da ingestão de líquidos (para tornar as secrecções mais fluidas) e lavagem das fossas nasais com soro fisiológico esterilizado e água do mar. Se estas medidas não forem suficientes consulte o médico para que lhe prescreva um fluidificante do muco ou um descongestionante e, eventualmente, um antibiótico.

 

 

Outras estuturas anatómicas, como a faringe, laringe, amígdalas e ouvidos, estando em contacto directo com o exterior, estão também sujeitas a inflamação ou infecção, originando faringite, laringite, amigadalite e otite. Os sintomas mais frequentes são dor (na faringite e amigadalite sobretudo ao engolir), vermelhidão e inchaço dos órgãos. A rouquidão é típica da laringite (é na laringe que se situam as cordas vocais). Se apresentar febre deve consultar um médico.

A constipação é uma doença infecciosa que se transmite através das secrecções respiratórias (tosse, espirros). É incómoda, mas pouco grave, e causa sintomas como: congestão nasal (nariz entupido), olhos húmidos, espirros, irritação da garganta e dor de cabeça. Pode ocorrer, raramente, febre alta ou dores corporais. É normalmente uma doença auto- limitada, que se resolve espontaneamente em três a cinco dias. Se tal não acontecer, pode-se recorrer a anti-histaminicos ou descongestionantes nasais para o incómodo “pingo”, e analgésicos para as dores. É essencial que a pessoa repouse e ingira bastantes líquidos, bem como que evite o fumo e o frio.

A gripe é causada pelo vírus influenza, e pode também ser transmitida através de tosse ou espirros. É uma doença perigosa, sobretudo pelas complicações que dela podem advir: lesões provocadas pelas toxinas do vírus, lesões das mucosas que favorecem o aparecimento de outras infecções, agravamento de doenças já existentes (como asma, doença pulmonar obstrutiva crónica, diabetes). São mais sensíveis a contrair gripe pessoas com mais de 60 anos e doentes crónicos, como os asmáticos e trabalhadores da área da saúde. É caracterizada por febre elevada (38-40º), dores musculares, dores de cabeça, calafrios, tosse (seca ou com expectoração) e mal-estar geral. O tratamento normalmente baseia-se na toma de antipiréticos e/ou anti-inflamatórios (para a febre e dores), e xaropes ou comprimidos para facilitar a saída das secrecções/expectoração, complementando com repouso e ingestão de bastantes líquidos. Relembro que esta infecção é causada por um vírus e, por isso, a toma de antibióticos não é producente (os antibióticos só “matam” bactérias). Assim, não se auto-medique (primeiro de tudo, não tem que ter “stock” de antibióticos em casa e depois, automedicando-se, está a agravar um problema para a sua saúde e de saúde pública: a resistência aos antibióticos). Procure ajuda médica se os sintomas persistirem, ou se tiver uma doença crónica.

 

A pneumonia pode surgir após uma gripe forte, e é caracterizada por acumulação de pus, muco e liquido nos pulmões, dificultando a respiração. É habitualmente causada por bactérias, mas pode ter também origem em fungos ou vírus. São mais frequentes em idosos (sobretudo os institucionalizados), fumadores, pessoas mal nutridas e pessoas com doenças crónicas ou com diminuição das defesas do organismo (pessoas sem baço, com Sida ou em tratamento de quimioterapia, por exemplo). É caracterizada por febre alta (39-40º) que sobe repentinamente, pontadas (dor no tórax que agrava com os movimentos da respiração), tosse com expetoração amarela/verde/castanha ou ferruginosa) e que podem ser acompanhados por diminuição do apetite. Neste caso, deverá procurar ajuda médica, pois será necessário realizar exames (como o raio-X) e tomar antibióticos. Pode ser necessário internamento.

Apesar de o aconselhar sobre alguns tipos de medicamentos que pode tomar em caso de alguma destas doenças, é importante que tenha conhecimento de alguns aspectos, nomeadamente:

Os descongestionantes nasais ajudam no alívio dos sintomas nasais, como espirros e corrimento nasal. Devem ser tomados entre três a cinco dias, e devem ser interrompidos se surgir hemorragia nasal ou dificuldade em respirar.

Existem diversos medicamentos, com diversas formas de apresentação (pastilhas, spray, rebuçados, soluções tópicas) que podem ser utilizados para a dor de garganta. Estes devem ser tomados entre três a sete dias. Se mantiver dores de garganta fortes, rouquidão  ou se apresentar dificuldade a respirar ou febre, deve interromper esta medicação e procurar ajuda médica.

Os analgésicos e antipiréticos actuam, respectivamente, na dor e na febre (os mais usuais são o paracetamol (ben-u-ron, dafalgan), ácido acetilsalicílico (aspirina) e ibuprofeno (brufen)). Respeite a dosagem máxima de cada um (para adultos: 4000mg de paracetamol, 2400mg de ibuprofeno e 3g de ácido acetil salicílico). Se tomar algum destes comprimidos no sentido de aliviar as dores, avalie a temperatura antes de os tomar, pois pode estar a mascarar a febre.

Os antitússicos, como o nome diz, utilizados para a tosse (seca e persistente) devem ser tomados até um máximo de 5 dias. Deve parar de os tomar se sentir dores no peito, dificuldade a respirar ou febre; se aparecer muita expectoração ou se esta for de cor amarela, verde ou com sangue (a tosse é protectora pois ajuda a expelir a expectoração e, consequentemente, microorganismos e toxinas nela depositadas).

Os mucolíticos são utilizados para tornar as secrecções menos espessas, para que seja mais fácil expulsá-las. Têm várias apresentações (xaropes, comprimidos efervescentes, cápsulas…) e devem ser tomados até um máximo de sete dias. Se surgir expectoração com sangue, dores no peito, febre ou dificuldade a respirar, a sua toma deve ser interrompida.

Prevenção

Já diz o velho ditado: é melhor prevenir que remediar. Assim, há várias medidas que pode tomar, entre elas:

  • Vacine-se – especialmente se for uma pessoa com risco acrescido de desenvolver alguma destas infecções (idosos, doentes crónicos ou imunodeprimidos), é recomendado que lhe seja administrada a vacina da gripe e, eventualmente, também a antipneumocócica (pneumonia). A vacina da gripe deve ser administrada no inicio do Outono (Outubro), todos os anos (uma vez que os vírus se modificam de uma época para a outra, é-lhe administrada a vacina com a estirpe (tipo de vírus) provável para essa época).
  • Mantenha medidas de higiene – evite tocar no nariz, boca e cara e assoe-se com regularidade, com lenços descartáveis papel, desinfectando as mãos após; Lave as mãos com frequência, sobretudo antes das refeições, após cada ida ao quarto-de- banho e, uma vez mais, após tocar no nariz, boca e olhos; Ao espirrar ou tossir, proteja a boca e nariz com a zona do antebraço ou cotovelo ou com lenço descartável de papel e não com as mãos. Lave as mãos de seguida. Tenha atenção às mãos em espaços públicos como os shoppings e os transportes.

  • Evite locais com humidade em casa, uma vez que este ambiente facilita o crescimento de bolor (fungos) e outros microorganismos.
  • Evite alterações bruscas de temperatura, ambientes com ar muito frio e húmido ou seco, ambientes poluídos (fumo, poeiras, cheiros intensos ou substâncias químicas).
  • Evite contactar com pessoas com infecções respiratórias.
  • Não fume (nem activa, nem passivamente)
  • Agasalhe-se bem (cachecóis, gorro)
  • Respire pelo nariz e não pela boca (os pelos do nariz têm a função de filtrar e aquecer o ar).
  • Mantenha/adquira um estilo de vida saudável, com um bom aporte de nutrientes (especialmente vitamina C, presente nos citrinos, kiwis, tomate, hortaliças,…)

Se, ainda assim, for afectado por alguma gripe ou constipação, evite ao máximo sair de casa, especialmente se tiver febre: assim minimiza o risco de agravar o seu estado e evita o contágio de outras pessoas. Pelas mesmas razões, evite ao máximo recorrer a serviços de urgência (a menos que surja alguns dos sinais de que lhe falei). Pode sempre aconselhar-se com a linha Saúde 24.

 

Artigo de Patrícia Lopes