Dono de casa desesperado

Como é certo e sabido, cinquenta por cento da população portuguesa está em confinamento. Os outros cinquenta por cento estão a viver numa realidade paralela e, segundo parece crer, não estão com muita vontade de regressar a esta realidade. É a segunda vez que estamos em confinamento devido à maldita pandemia da Covid-19 e, como tal, já deveríamos ter aprendido a lidar um pouco melhor com esta história de estarmos encarcerados com putos em casa. Quanto ao caro leitor não sei, mas eu aprendi e tirei notas durante o anterior confinamento — notas essas que estou a colocar em prática neste segundo confinamento.

Não é fácil estar enclausurado as vinte e quatro horas do dia em casa. Ainda para mais, quando existem filhos e mulheres. As mulheres, enfim, já sabemos que são capazes de levar um homem à loucura ao ponto de começar a pensar em suicídio. Mas quando existem igualmente filhos, aí é que a porca torce o rabo. Porque, inevitavelmente, quem vai ter de aturar a saturação materna não é o filho, mas sim, o homem lá de casa. E foi a pensar nesta importante questão, que eu decidi pegar no bloco de notas e colocar em prática as ideias lá apontadas pela minha pessoa durante o confinamento de 2020.

A melhor opção, sem sombra de dúvidas, é transformarmo-nos numa espécie de dona de casa, mas no masculino. Aspirar, limpar o pó e lavar o chão é uma boa opção para evitar confusões com a mulher e filhos, mas, na minha mais sincera opinião, existe algo mais libertador e capaz de transformar divórcios eminentes em casamentos felizes e duradouros. Falo, obviamente, do simples acto de lavar a loiça. Sim, eu sei que existem máquinas que fazem isso por nós, mas, acreditem, lavar a loiça à moda antiga durante o confinamento é remédio santo para uma boa estabilidade familiar. Neste momento, estou apto para afirmar a pés juntos que, para o homem, o refúgio da casa-de-banho já não é a solução para o sossego. Porque, se se fica demasiado tempo na casa-de-banho, eis que a mulher — ou mesmo os filhos — vão achar estranho e interrogar-se sobre o que raio está o marido/pai a fazer durante tanto tempo na casa-de-banho. Ao lavar a loiça, o marido/pai está a fazer algo útil para a saúde psicológica familiar.

A meu ver, o melhor a fazer neste novo confinamento é, sempre que exista loiça para lavar, prontificar-se a fazê-lo. Pegar nuns auriculares, colocar música no volume quase no máximo, ao ponto de sentir que os tímpanos vão explodir a qualquer instante e desatar a esfregar loiça como se o mundo fosse acabar no dia a seguir — o que fica sempre bem, porque assim garante-se que, à chegada ao Paraíso, as portas irão estar sempre abertas para uma pessoa asseada, que gostava de lavar sempre a loiça. Diz que o Senhor das barbas brancas aprecia pessoas asseadas.

E, para mais, o acto de esfregar loiça traz outros benefícios.  É uma desculpa perfeita para uma pessoa estar pacatamente sozinha com os seus pensamentos, o que evita em muito o risco do surgimento de uma depressão. Faz bem à musculatura das costas, porque está-se constantemente em luta para corrigir a postura. O movimento de esfregar, faz fortalecer os músculos e tendões dos braços, evitando assim o aparecimento de tendinites. E para arrematar, nos tempos que correm, é o ideal para desinfectar as mãos — o que serve de proteção à Covid-19. Dizem que uma gota de Fairy dá para lavar uma centena de pratos, visto que eu uso à volta de cinco gotas por lavagem, acabo por criar uma camada de proteção extra contra o Coronavírus que ele acaba por falecer só por proximidade. E mesmo que, no final do confinamento, o divórcio acabe por ocorrer, acaba-se sempre por sair por cima aos olhos dos vizinhos e amigos mais próximos — pois, coitadinho, ele é uma jóia de rapaz, até lavava a loiça todos os dias, ao contrário dela que nunca tocava sequer num prato. Quem é que aguentava uma mulher assim…