Dragon’s Dogma: Dark Arisen (PC Review)

De tempos a tempos, um port tardio vem reavivar o nosso interesse por um jogo que nos chamou a atenção anos antes, mas que por falta de plataforma para jogar resolvemos ignorar. Em Maio de 2012, Dragon’s Dogma era o assunto do dia e um exclusivo para consolas, sendo principalmente bem sucedido no seu mercado de origem, o Japão. Falar de RPGs por terras nipónicas é falar de uma categoria completamente à parte que tem até a sua própria sigla JRPGs (Japonese Role-playing Games), e esta denominação tem uma razão de ser, não só porque são criados no Japão mas também porque seguem um certo conjunto de categorias que são características da produção naquele determinado país. Muitas vezes estes JRPGs parecem pertencer a um mundo impenetrável pelo jogador habituado a RPGs Ocidentais, as mecânicas mudam e os próprios gráficos e interface são característicos. Dragon’s Dogma, produzido pela CAPCOM criou uma ponte, se é que essa ponte era necessária, de forma a que qualquer gamer se sinta em casa o quanto baste. Mas o que destaca de facto este videojogo, e qual a sua relevância 4 anos depois do seu lançamento que justifique este port para PC?

Dragon’s Dogma: Dark Arisen é a junção do jogo original com a sua expansão, que apresenta melhoramentos e toda uma nova zona para explorar. Digamos que é uma versão melhorada que conta com várias adições que em 2012 estavam em falta e que combatem para evitar algum tédio. Por exemplo, o sistema de fast travel existia, mas para isso era necessário gastar ferrystones, estes items eram particularmente raros no jogo original e eram consumidos a cada utilização o que se traduzia numa constante passagem pelos mesmos locais e viagens de ida e volta que demoravam mais do que muito do conteúdo das quests. O problema foi agora resolvido com uma eternal ferrystone que não desaparece com o uso, embora sejas necessário que o jogador visite os locais e coloque portcrystals que permitam que regresse ao local. Este, entre outros conteúdos são fundamentais, e se olharmos para eles em perspectiva e passado algumas horas percebemos a sua necessidade, e também o que os jogadores mais antigos terão passado sem eles.

As primeiras horas de Dragon’s Dogma: Dark Arisen tem tanto de épico como de aborrecido. O jogador começa por controlar um guerreiro e derrota uma quimera nos seus primeiros 15 minutos de jogo, mas depressa é motivado a criar a sua personagem, o verdadeiro protagonista da história. E falta de opções não há! É possível criar um pouco de tudo com opções distintas o suficiente para que nenhum jogador se pareça igual.

Embora esta seja uma aventura single-player os jogadores interagem indirectamente uns com os outros através de um sistema que abordarei mais à frente. Depressa a personagem do jogador é confrontada com um dragão, e note-se que tem de defrontá-lo vestido com farrapos e uma espada ferrujenta. A batalha obviamente não corre bem, e no meio de sangue e vísceras, o dragão retira o coração ao protagonista e desaparece. O jogador sobrevive por algum motivo tornando-se assim no Arisen, um herói com um destino ligado directamente à criatura que o “matou”. Assim começa a narrativa principal de Dragon’s Dogma, e passado tantas horas, esse pareceu ser o ponto alto de uma longa jornada onde a maior parte da quest principal parece pálida e desinspirada em comparação.

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Quando possivelmente o último boss do jogo aparece e “mata” a personagem principal.

Se a história por vezes treme, o mesmo não pode ser dito das cutscenes, que são na sua generalidade uma experiência cinematográfica que recorre ao motor do jogo de forma a que o protagonista possa aparecer exactamente como o jogador o criou. O realizador responsável é o notável Hideaki Itsuno, uma presença assídua e residente em títulos da CAPCOM e que mostra aqui a sua mestria, que torna os gráficos do jogo já desactualizados em obras de arte através de uma sensibilidade única em termos de utilização de perspectiva e luz.

Visualmente, com raras excepções, Dragon’s Dogma: Dark Arisen está preso no ano do seu lançamento. Algumas paisagens destacam-se mas nem a preocupação em dar maior resolução a certas texturas nesta edição salva o jogo de parecer isso mesmo, um veterano de um outro ano, e principalmente, de uma outra geração. Dando um “desconto igual à idade” não deixa de ter a sua magia, especialmente quando uma personagem passa através de uma cascata e as roupas ficam encharcadas, um detalhe realista que se traduz visualmente num efeito fantástico até para 2016. Não há falta de ambiência! O mundo do jogo é palpável, tem o seu próprio dinamismo artístico, mas luta para se manter visualmente apelativo e actual. Mas será o conteúdo transcendente?

Dragon’s Dogma: Dark Arisen é uma aventura open world que parece tirar alguma inspiração tanto em clássicos como Dragon Age, Fable ou Skyrim, como nalgumas franquias nipónicas como Dark Souls. Num mundo repleto de desafios e dificuldade o conteúdo parece escasso e repetitivo. A maior parte das quests é completamente baseada em matar um número especifico de monstros ou no coleccionar de algum tipo de item. Estas quests surgem quase como adição à exploração e a maior delas está centrada na principal capital do jogo, Gran Soren, de onde todo o conteúdo parece irradiar.

Fora da cidade, poucas quests surgem e embora haja alguma variedade nas localizações o mapa parece maior do que realmente é. Excepto pelas raras cutscenes estas demandas têm pouca cor e por vezes obrigam a visitar o mesmo local por onde o jogador já trilhou na missão anterior. No meio destas aventuras algumas histórias ficam, como desmantelar um culto sombrio com um líder psicótico a mando do Duque Gran Soren, ou até aquela missão de escolta, onde o nosso protagonista derrotou dois ciclopes que aleatoriamente se cruzaram no caminho.

Num mundo onde o RPG sofreu drásticas mudanças que tornaram muitos novos títulos mais épicos e mais longos, Dragon’s Dogma: Dark Arisen não oferece a mesma magia, apresentando-se com uma história não muito mais longa que a de The Elder Scrolls: Oblivion ou Skyrim. Isto não é propriamente mau não fosse a natureza das suas quests basearem-se na repetição com pouco conteúdo que tenha uma historia rica ou significativa.  

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Em dragon’s Dogma cultos secretos e masmorras obscuras é coisa que não falta

Infelizmente, as personagens responsáveis por muitas das quests não são nem um pouco icónicas, passando despercebidas na multidão ao contrário do que acontece em videojogos como Dragon AgeDragon’s Dogma não está claramente à procura que nos identifiquemos com as personagens com quem nos cruzamos. Já naquelas que acompanham o protagonista está a parte mais original de toda a aventura, embora nenhuma delas tenha uma história ou acesso a linhas de diálogo ou conversações como noutros títulos que ajudem a criar empatia…

Pouco tempo depois do inicio da aventura, o jogador deve criar o seu pawn, um ser inferior mas aparentemente igual a qualquer humano, sem vontade própria que segue a vontade especifica do Arisen. Esta personagem é também totalmente personalizada e é a única maneira de verdadeiramente interagir com outros jogadores. Os pawns estão acessíveis para formarem parte da party de outros jogadores, e estes últimos podem no momento da devolução enviar items ao seu dono original e categorizar o desempenho da personagem. Note-se que o pawn não desaparece do seu jogo de origem, podendo estar na equipa de vários jogadores em simultâneo. Jogar com os pawns de outros jogadores é também quase imperativo para ter uma equipa completa. Este conceito é particularmente inovador e mesmo tantos anos depois não teve grande implementação noutros títulos da indústria.

É no combate que Dragon’s Dogma: Dark Arisen tem as suas características mais redentoras, e por momentos todos os problemas que parecem assombrar este titulo acabam por desaparecer quando qualquer batalha começa. Dragon’s Dogma requer conhecimento do inimigo e o que usar em cada circunstância. Isso requer planeamento, e requer que se oiça pawns que através de outros jogadores já tenham passado pela mesma demanda. Os conselhos e as interacções com as personagens da party são muitas vezes excessivas, falam de mais muitas das vezes e enchem o ecrã de diálogos, mas algumas destas falas são importantes para compreender o que está para vir. Os Pawns avisam sobre a possibilidade de uma cilada, o tipo de monstro que está numa determinada área ou os encantamentos certos para combater uma ameaça.

O combate é frenético, sendo mais dinâmico que noutros títulos. No caso de bestas gigantes como quimeras ou golems, é possível ao jogador e aos pawns saltar e agarrar-se à besta podendo com facilidade cortar um membro especifico ao inimigo incapacitando-o e facilitando a sua morte. Os casters da party são principalmente importantes não só pelos seus feitiços de dano, mas principalmente porque possuem encantamentos que atribuem dano elementar às armas dos outros membros da equipa e que podem ser a diferença entre a vida e a morte. Uma criatura de fogo cairá mais facilmente se as armas dos jogadores estiverem embutidas em magia de água, etc.

O sistema de skills só permite que cada personagem escolha uma certa combinação, nem sempre um caster tem todos os meios para combater um determinado monstro, e no caso dos jogadores que lutam corpo a corpo com os inimigos, alguns skill estão restringidos pela arma utilizada ou não combinam entre si para um combo avassalador. O equipamento, que é comprado ou encontrado, é também importante especialmente pelas resistências e atributos que podem beneficiar a luta contra certo tipo de monstros. O jogador pode vestir duas peças em quase todas as slots estando todo o equipamento de jogo dividido entre peças de roupa e de armadura que permitem uma variedade de escolha e um balançar de atributos que pode ser fulcral nas diversas quests.

Toda esta atenção ao pormenor é melhorada pela imprevisibilidade de muitos dos encontros que mudam consoante a altura do dia. A mudança de dia para noite é fundamental e se há conselho para qualquer jogador, novo ou veterano, é apenas este: Não explorar nada à noite! Um campo verde completamente inofensivo à luz do dia é um campo cheio de mortos vivos assim que o sol se põe. De noite, a dificuldade do jogo aumenta substancialmente e a probabilidade de sobrevivência é muito reduzida. Para isto também contribui a ausência de luminosidade, a fiel lanterna é uma necessidade básica, e óleo para manter a chama não é assim tão escasso.

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O Sol está a desaparecer no horizonte? Foge! Uma caminha espera na cidade… de manhã há mais!

A musica é também um ponto forte embora por vezes pareça sofrer de demasiada repetição, o que se pode tornar irritante. Nada consegue bater, no entanto, a musica épica que acompanha a queda de um inimigo de grande porte. Há a tendência para o festejo assim que qualquer uma das grande criaturas morre e se segue uma pequena fanfarra com direito a coro.

Dragon’s Dogma: Dark Arisen foi construído a pensar no jogador que adora acção desenfreada, e de se envolver em todos os pormenores técnicos que um combate necessita. Para jogadores que procuram uma historia rica, com side quests complexas e decisões morais este não é o titulo aconselhado. É possível afirmar sem qualquer tipo de dúvida que é um excelente port que corre às mil maravilhas sem grandes restrições, o que é mais do que se pode afirmar de outros títulos.

Analisando-o como um JRPG e pelo ano de origem é um jogo notável principalmente pelo combate e pela sua inspiração clara noutros títulos. Pena é muito do conteúdo parecer oco, o que se agrava quando nos últimos anos muitos RPGs têm desafiado as barreiras de outrora para criarem experiências transcendentes…

DD rating

Volto para o próximo mês com mais videojogos…