E porque a vida não é só feita de trabalho…

Um movimento católico, umas férias no mínimo caricatas, eis a continuação do “Romance da Minha Vida”…é de notar a linguagem genuína, não me canso de o dizer, é a forma simples como escreve, mas que nos faz imaginar tal e qual as coisas ocorreram!

…Mudando de assunto! Houve alguém que apreciou a minha maneira de ser e veio convidar-me a ver se eu queria participar num movimento de oração que se chama Fonte de Vida. Inspirado por um sacerdote padre Manuel Vieira. E disse-me, deste movimento, já tem saído padres. Eu aderi e” usei-o” diversos anos. Quando fez vinte e cinco anos o director ou seja, o padre Manuel Vieira veio cá a Santo Tirso. A nossa orientadora disse para nós, devíamos arranjar umas quadras em poesia para o elogiar. Eu vendo um pouco de timidez entre eles, disse, não quero tirar a vez a ninguém. Se houver quem o faça tudo bem. Não havendo eu não me importo de o fazer. Sendo assim fica por sua conta disse a responsável. Usando a capacidade que Deus me deu, comecei desta maneira:

Fontiscos de Santo Tirso…que desejavas o director…ei-lo aqui presente…pela Graça do Senhor.

Todos nós ficamos contentes…com o seu conhecimento…resta-nos trabalhar…para engrandecer o movimento.

É movimento Fonte Viva…por todas as terras, tens sido espalhado…podemos dizer com firmeza…que és o movimento mais amado.

Deus hajas director…de teres sido perfeito…alcanças- te do Senhor…amor e respeito.
Na próxima reunião entreguei, leu e disse, está muito bem. O mesmo disse o director no dia da festa. Estes movimentos trazem-nos alegria, que nos fazem reviver.

Voltando agora novamente ao trabalho, relativamente ao mandato da tal freira, ela não lhe deu saída. A própria secretária dizia-lhe, veja o que pode fazer, nós estamos a ter prejuízo.

Nessa altura a minha irmã mais velha tinha emigrado para França. Casou com um rapaz que era de Fátima, fizeram lá uma casa. Como se tinha passado o 25 de Abril, eu passei a ter férias.

Quando eles vinham cá eu ia passar as férias com eles. Diversas vezes fomos para a praia da Nazaré. Houve um ano que não puderam vir cá, para arranjos de vida. Como eu tinha estado em Montalegre, lembrei-me de ir lá passar as férias. Falei com o meu irmão mais velho e ele próprio me levou lá. Aqui, saí-me mal! Ao fim de oito dias, fui ter com a filha deles, a mais velha, pedindo-lhe se me deixava vir o seu filho trazer a mala cá baixo à estrada. Na passagem da camioneta de Chaves para Braga, eu seguia nela. Olha:- diz-me ela:-O Armindo é fornecedor de materiais de construção civil, ele vai sempre antes da camioneta passar, ele leva-te. Assim aconteceu. No dia seguinte lá vim eu para a paragem. Entrando na camioneta comecei logo a imaginar coisas. Na quinta das freiras tinha um colega de trabalho, de Vieira do Minho, este tinha uma sobrinha nas Serdeirinhas, que já é perto de S. Bento da Porta Aberta. Tendo outro colega dessa localidade, resolvi e disse ao cobrador:- eu tirei o bilhete para Braga mas resolvi sair aqui nas Serdeirinhas. Ele foi buscar a mala e eu saí lá. Essa sobrinha do meu colega de Vieira do Minho, tinha um talho de carnes verdes. Só que nesse lugar havia três talhos. Eu ali fiquei um pouco embaralhado! Mas tive sorte, entrei num deles e perguntei se alguém conhecia um senhor de Vieira do Minho que trabalhava em Santo Tirso. Uma senhora logo respondeu, é meu tio! Disse-lhe então, somos companheiros de trabalho, chamo-me Faustino. O que pretendia da senhora era se me guardava esta mala, amanha viria busca-la. Prontificou-se logo. Meti pés a caminho, mas até S. Bento da Porta Aberta ainda me levou duas horas. Quando cheguei, perguntei por fulano assim assim e indicaram-me logo onde o poderia encontrar. Como eram lá as festas, ele disse-me, assistes as festas e estás o tempo que quiseres. Eu disse-lhe que tinha uma mala nas Serdeirinhas a guardar e que a ía buscar no dia seguinte. Não há problema, diz ele, vais lá com o meu irmão e fica resolvido. Assim foi. Estive naquele belo sitio quatro dias e depois vim-me embora. Quando cheguei á entrada da quinta, os filhos do porteiro vêm ter comigo e dizem: Ó Tino, já andamos á sua procura para o convidar se queria vir connosco para Lisboa passar oito dias de férias, mas você não estava. Tínhamos pedido aos nossos pais e eles aceitaram. E disseram que gostavam que eu fosse e eu aceitei. Lá fomos nós para a capital! Mais oito dias bem passados. Vê-se que foram umas férias um pouco agitadas, não acham? No ano seguinte a minha irmã também não veio a Portugal. As freiras tinham uma casa em Espanha. Tinham lá um quintal que precisava de um certo arranjo, pediram ao porteiro se queria ir lá passar quinze dias. Ele aceitou, mas pensaram logo em mim. Os filhos vieram ter comigo e disseram-me, Ó Tino nós vamos passar quinze dias a Espanha, venha com a gente. Eu tinha passaporte bilhete de identidade em dia, resolvi e lá fui eu. Esse tal quintal era em Tui. Na verdade tinha necessidade de um grande arranjo. Havia lá árvores de fruto, totalmente cobertas de silvas. Para se classificar a diferença, quando chegamos era uma mata, depois do trabalho feito, era um jardim. Nós trabalhamos, mas também tivemos algumas folgas. Estávamos desviados de Vigo trinta quilómetros e fomos no autocarro visitar o porto de Vigo. Havia a uma certa distância, uma espécie de ilha e nós atravessamos para lá de barco e lanchamos lá. Mais um ano que assim se passou. No ano seguinte a minha irmã veio a Portugal e fui passar férias com ela. Estávamos desviados da Cova da Iria, quatro quilómetros e meio. O lugar chamava-se Boleiros. Por vezes a minha irmã tinha afazeres em casa, então eu ía para a Cova da Iria. Andava por lá apreciar até á hora do terço. Acabando vinha novamente a pé para Boleiros. Foi a a partir dessa altura, que o meu cunhado começou a meter na cabeça á minha irmã, que queria montar ali um café. E dizia para ela, o Tino vem para junto de nós e safamo-nos. A minha irmã concordou e abriu-se o dito café. Eu cheguei a despedir-me do emprego. As minhas patroas ficaram muito tristes. Houve algumas que até choraram. Outras diziam, O senhor é um pilar nesta casa, uma pessoa de toda a confiança, não saia de cá. Quando o café ficou pronto, eu nesse ano já fui para lá passar as férias. O que eu não sabia era o temperamento do meu cunhado. Para mim parecia-me uma coisa, mas era outra. Só lidando com as pessoas é que se ficam a conhecer. Para que não houvesse chatices, eu desisti no fim das férias e vim novamente para a quinta. Contei o que se tinha passado, elas entenderam. Ficaram todas contentes, algumas até diziam:- foi o filho pródigo que voltou! Assim sendo a minha vida voltou ao normal, continuando a trabalhar e nos afazeres normais da quinta…

Já quase no final desta viagem, restam ainda alguns dias de experiências…é o que vamos ver na próxima semana!