E a responsabilidade, onde anda?

Enquanto oposição, Pedro Passos Coelho defendeu que os governantes deveriam ser responsabilizados criminalmente pelos seus actos. Espero bem que sim, mas duvido que isso aconteça, até porque  que me lembre não houve qualquer iniciativa legislativa que facilitasse essa possibilidade. Porque será ? Basta percorrer as mensagens do actual Primeiro Ministro na rede social twitter para ver que ele tem alguma dificuldade em cumprir o que diz.

Mas mesmo em matéria de responsabilização politica, recordo-me de Jorge Coelho, então Ministro das Obras Públicas, se ter demitido após a queda da ponte em Entre os Rios; recordo-me de António Guterres, então Primeiro Ministro, se ter demitido a meio do segundo mandato, depois de o PS ter perdido as autárquicas, por ter entendido a derrota como rejeição ao governo; recordo-me de Manuel Pinho, então Ministro da Economia, se ter demitido, após ter feito uns “cornichos” ao ex-deputado do PCP Bernardino Soares (hoje presidente da CM Loures); e recordo-me de Álvaro dos Santos Pereira, então Ministro da Economia, ter sido afastado, pouco tempo após ter mostrado intenção de reduzir as taxas que o Estado paga aos gigantes do sector energético (nomeadamente, à EDP).
No entanto, nos tempos de hoje, uma ministra que teima em avançar com uma reforma que incluía uma transformação numa plataforma informática muito importante, mesmo depois de vários relatórios, incluindo da equipa que desenvolvia a referida plataforma, reportarem que a mesma não iria funcionar, não sofre qualquer implicação. Da mesma forma, um ministro que sempre disse querer mais rigor, mais eficiência no sistema educativo, elabora uma formula (ou plano, como quiserem) para colocação de professores que erra grosseiramente nessa tarefa e depois anula a colocação de centenas de profissionais quando estes já estão a dar aulas nas escolas e instalados nas cidades onde foram colocados. Dias depois, novas falhas em novas colocações e, em suma, muitos alunos continuam, mais de um mês depois do inicio das aulas, sem professor, sem que o ministro sofra as consequências deste caos.

Esta noite, na peça do Telejornal sobre uma homenagem aos mortos da I Guerra Mundial em Coimbra, Passos Coelho não consegue ouvir as perguntas dos jornalistas devido a manifestantes que aproveitaram a ocasião para o vaiar e diz que “os nossos amigos da CGTP” não o deixavam prestar declarações. Fez lembrar o então Primeiro Ministro Aníbal Cavaco Silva quando, quer na celebre manifestação dos policias “Secos contra Molhados”, quer “Buzinão da Ponte 25 de Abril”, respondeu aos jornalistas que as mesmas eram obra do Partido Comunista e da extrema esquerda. Ainda bem que os portugueses, nas últimas duas legislaturas, já provaram que quem se manifesta, quem se mostra descontente, fá-lo independentemente da sua filiação ou simpatia politica.

Crónica de João Cerveira