E se o Mundo Acaba? – Amílcar Monteiro

Nos últimos meses, a hipótese do mundo acabar tem-me deixado bastante preocupado. No entanto, esta inquietação não se prende com o temor da existência de um apocalipse que dizime o planeta e, provavelmente, também a minha própria vida. Nada disso. Aliás, penso que se tal acontecesse não só seria um lindíssimo espectáculo, como também iriam ser eliminados os principais problemas da humanidade: guerras, fome e o sistema bancário. Para além disso, poderia ainda ter a sorte de assistir de perto ao momento em que o Cláudio Ramos era consumido por lava incandescente.

O que me tem deixado apreensivo quanto à derradeira hecatombe é mesmo ter-me apercebido de um terrível futuro. Eu passo a explicar: se porventura, como muitos prevêem, o mundo for assolado por uma série de catástrofres naturais que extermine a maior parte da população mundial, quem terá hipóteses de sobreviver? Não adivinha, leitor? Pois bem, eu digo-lhe: serão os profetas do apocalipse. Sim, esses psychos que andam há uma data de anos a preparar-se para esta ocasião, transformando as suas caves em abrigos subterrâneos abastecidos de água, comida e armas.

Será este o perfil de pessoas que sobreviverá: psychos armados que vivem caves. Bem agradável, não é? E para piorar a situação, como de facto aconteceram as catástrofes que previram, esta gente passear-se-à ainda mais confiante pelo que restar da superfície terreste, achando-se uma espécie de semi-deuses. Se é este o futuro da raça humana, então espero mesmo que o planeta seja destruído por uma chuva de meteoritos.

E, tendo em conta este hediondo cenário, o que me assusta é mesmo ficar vivo. O que me ando a perguntar há meses é: Como sobreviver num mundo pejado de lunáticos armados que se acham especiais? Pois bem, depois de muito pensar, cheguei à conclusão de que precisaria de ter algo para a troca. Um pequeno luxo que aguentasse muito tempo sem se estragar e que mais ninguém possuísse, o que faria de mim um tipo especial. Já adivinhou, leitor? Não, não são cotonetes. Isso é ridículo! Aqui vai: pastilha-elástica. Brilhante, não é?

 Enquanto estes profetas lunáticos se abasteceram de água, conservas e outras coisas que tal, eu armazenei cinco toneladas de pastilha-elástica na minha cave. Lei da procura e da oferta. Serei a única pessoa a possuir este bem no mundo pós-apocalíptico e, por isso, provavelmente terei imenso poder e sobreviverei sem problemas. Serei o magnata da pastilha-elástica da nova era!

No entanto, surge agora um novo problema: se o mundo não acabar, o que faço com este carregamento de pastilhas-elásticas?



Crónica de Amílcar Monteiro
O Idiota da Aldeia
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