É tudo uma questão de confiança – Bruno Neves

Antes de mais espero que tenham passado uma boa passagem de ano e que tenham entrado em 2013 com o pé direito. “Ah, mas isso são só superstições.” Nisso têm razão, mas vamos precisar de toda a ajuda que conseguirmos para sobrevivermos a este novo ano. Antes da crónica em si falemos já de algo urgente: diz-se dois mil e treze e não “dois mil e treuze”, entendido? É certo que a esmagadora maioria de nós vai cometer este erro pelo menos uma vez mas controle-mo-nos todos um pouco de forma a mantermos o pouco juízo que ainda nos sobra.

Nesta primeira crónica de 2013 tenho uma proposta para todos vocês: vamos falar de confiança. Ou mais concretamente da falta dela. Sim, porque todos nós precisamos de acreditar e de confiar em algo ou alguém, seja quem for. E a quantidade de pessoas ou instituições em que acreditamos está hoje em dia reduzida a meia dúzia de nomes.

Senão vejamos, não existe uma única pessoa que acredite nos políticos, locais ou nacionais. Sejam eles quem forem: desde os elementos do Governo aos da oposição. Assumimos que independentemente do partido político que defendem são literalmente iguais e que a sua preocupação é o seu próprio bem-estar e não o do povo. Este sentimento é muito mais notório quanto aos membros do actual Governo, mas o Presidente da República também não se safa de tamanho sentimento. É certo que a sua posição política em nada se compara ás dos restantes nomes enunciados e que as suas obrigações não são as mesmas, contudo existe a noção de que ele podia fazer incomparavelmente mais do que aquilo que faz actualmente.


Mas existem outros exemplos a respeito da falta de confiança. Por exemplo, quem é que hoje em dia no seu perfeito juízo confia numa agência bancária ou num advogado?  Pois é, muito pouca gente. As profissões continuam a ser merecedoras de respeito e status social, contudo a relação do povo para com os profissionais destas (e de outras áreas) mudou drasticamente. Passou a imperar um clima de desconfiança constante. É que agora ponderamos muito bem cada passo que damos com receio de que ao virar da esquina esteja alguém para nos pregar uma rasteira. É o risco de cair nas rasteiras da vida e de ser enganado que nos tirou a confiança que antes possuíamos de forma natural.

Mas todos nós temos de nos virar para algum lado e certamente que muito boa gente encontrará a sua paz e conforto na religião. Mas até esta área está a ser afectada. Sim, porque o número de católicos praticantes é cada vez menor e a tendência é para que continue a baixar. Enquanto a igreja católica não aceitar o facto de que a sociedade muda e evolui não irá conseguir alterar esta tendência, porque se se quer manter actual tem de também ela actualizar-se e alterar um pouco o seu próprio discurso. E naturalmente que o aumento desenfreado de casos de pedofilia entre membros da igreja não é propriamente uma ajuda a inverter esta tendência. Ou seja, aquele que durante séculos foi o “escape” da população está também ele a passar por uma crise de confiança.

Passamos por tempos complicados e desafiantes, esta é uma altura de mudança do paradigma actual pois o mundo como o conhecemos está a mudar. Não sabemos bem para onde vamos, mas sabemos que não queremos estar onde estamos. Todos nós precisamos de acreditar em algo ou alguém, e esta crise está a tornar-nos pessoas mais desconfiadas e cautelosas. Ninguém sabe em quem podemos ou devemos acreditar, mas algo ou alguém surgirá, é só uma questão de tempo!

Boa semana, boas leituras.

Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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