E a vida continua…algures por terras de Santo Tirso!

Assim continua o “Romance da minha Vida”, uma infância dolorosa, uma adolescência conturbada e eis que em 1962 se inicia uma nova etapa na vida do Sr. Fagundes. Deixa de estar aos cuidados da família, mais propriamente do tio e passa agora a viver numa quinta em Santo Tirso, pertencente ao Convento da Bela, congregação das Irmãs Franciscanas. Com um trabalho bem diferente do que fazia, começa assim esta etapa…mas será esta mais risonha, menos sofrida? …É o que vamos ver… Este capítulo serve apenas para mais um desabafo na vida deste senhor, uma forma de escrever a sua história, indo aos pormenores que marcaram cada etapa! Podemos aqui comparar a diferença entre o trabalho actual e o trabalho de uma época passada, onde tudo era feito manualmente, onde as dificuldades eram bem maiores, onde os meios eram tão precários. Podemos verificar os perigos existentes em certos trabalhos e o pânico vivido pelos trabalhadores.

“…Entrei na quinta no dia 15 de agosto de 1962. É de perguntar: – Em quarenta e oito anos o que fiz eu na quinta? Pois bem! Muita coisa. Logo de início como os poços de rega e consumo não satisfaziam, contrataram mineiros para exploração de mais água. Atendendo á profundidade dos poços, foi necessário arranjar artificialmente ar para os mineiros poderem trabalhar. Usaram um tubo de plástico numa ventoinha e era o que a tocava para produzir ar para as minas desses poços. Um tinha vinte e seis metros e as minas tinham catorze. Outro tinha mais ou menos vinte.Como se pode compreender só com este sistema artificial se resolveu o problema. Eram três mineiros pertencentes a uma firma. Quem lidava com os ordenados era o mestre, vinha sempre contactar o patronato. No decorrer do tempo começou-se a notar incompetência nesses artistas. Então, o patronato além de ser composto por mulheres (freiras), de imediato os puseram a andar. É de dar a conhecimento que quem fazia de feitor era uma religiosa. Como precisava de mais água chamou dois mineiros por conta da casa. E esses praticamente eram vizinhos, um pertencia a Santa Cristina do Couto e o outro desviado da casa trinta metros. Esses dois homens trabalhavam no poço e eu continuava a dar-lhes ar para tocar a ventoinha. Tudo correu bem um certo tempo. Eles trabalhavam lá no fundo e dois trabalhadores da quinta tiravam o entulho que era sempre ás cinco horas pois despegavam ás seis.Passado algum tempo deu-se uma tragédia. Despegaram do trabalho, chegaram cá fora e diz um para o outro:-o tempo está muito nublado e como o poço tinha um barraco de chapas de zinco e tinham afastado uma para dar claridade para baixo, pensaram em coloca-la no sitio para não molhar o motor que estava pendurado com uma corda. Um deles, por sinal o de Santa Cristina do Couto, vai lá acima e com as pernas abertas a puxar a tal retirada para o lugar dela, com o movimento do corpo fez com que as outras chapas fugissem e ele cai de cabeça só parando no fundo do poço. Os homens que tiravam o entulho iam perto eu chamei por eles, mas nesse intervalo o outro mineiro já andava á procura dele pois o poço tinha degraus. Chegou junto dele e atravessou-os no cabo de uma picareta na argola dos ganchos dos caixotes de entulho e apoiou-o, ele com o pé num dos ganchos e com uma mão abraçava o que tinha caído e a outra agarrava-se ao cabo. Nós a puxar ao sarilho trouxemo-los até cá cima. Tendo uma prancha para pousar os caixotes. Como ele trazia a cabeça inchada pegou na dita prancha e eu próprio fui desviá-la, e ao desviar recorda-me que meti os dedos numa fenda que ele trazia. O outro estava tão exausto que não se aguentava e caíram novamente os dois. Depois chamaram os bombeiros, tiraram-nos para fora e o que tinha caído duas vezes estava completamente morto. O outro apenas tinha duas costelas partidas e um arranhão na testa. Foram para o hospital, só que os bombeiros exigiram a delegação de saúde. Chamou-se assim a delegação e logo apareceram e foram para o hospital. Não falei de ferramentas que usávamos, picaretas, ponteiros, marretas, e sacholas. Enquanto foi o mestre ele ocupava-se de levar ao ferreiro, quando o despediram fui eu o vitima! Havia um ferreiro em Tarrio (Sta. Cristina Couto) junto da fábrica Abel Ales Figueiredo e eu no fim do trabalho toda a ferramenta que precisasse tinha que devolver. Um certo dia que a ferramenta ficou para outro dia, em vez de vir para casa fui passear…”

Deixo-vos aqui na fase do passeio, certamente a seguir virão melhores dias!

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Crónica de Aida Fernandes
A última Etapa