Editorial de Janeiro

Ora sejam muito bem-vindos à primeira edição de 2015 do Magazine Mais Opinião! Depois dos presentes, da família reunida e da algazarra que as crianças provocaram no Natal, assim como do champanhe que todos bebemos na passagem de ano, foi duro regressar à rotina, não foi? Como eu vos compreendo! Mas chegados ao décimo dia do mês já sabe que é altura de vir novamente visitar o seu Magazine Mais Opinião, pois aqui estarão mais de uma mão cheia de crónicas de grande qualidade!

E este é um mês especial. É especial porque é o primeiro do ano, mas acima de tudo porque a liberdade de expressão sofreu um doloroso ataque. Na passada semana o semanário satírico Charlie Hebdo foi alvo de um atentado terrorista. Doze pessoas perderam a sua vida nesse ataque e outras quatro conheceram o mesmo destino quando os irmãos Kouachi se barricaram no dia seguinte numa empresa nos arredores de Paris. O mundo está unido, e de luto, pelo Charlie Hebdo e pela liberdade de expressão e o Magazine Mais Opinião não podia ficar indiferente a estes trágicos acontecimentos.

Após o atentado de Paris a internet encheu-se de cartoons, mensagens pungentes e gritos revoltados. Mas o que realmente se tornou viral foi a frase “Je Suis Charlie”. Foi partilhada milhões de vezes por todo o mundo pelos quatro cantos da internet. Mas será que somos mesmos todos Charlie? Vocês não sei, mas eu não sou Charlie. E com esta afirmação não estou a apoiar e defender os terroristas. Aliás se há alguém que sempre se manifestou contra ataques terroristas e tentativas de limitar a liberdade de expressão fui eu. Sabem porque é que eu não sou Charlie? Porque os profissionais dessa brilhante publicação faziam algo que poucas pessoas fariam se estivessem no lugar delas.

Faziam humor com tudo o que os rodeava, mas principalmente com matérias sensíveis: religião, futebol, política e tantos outros temas actuais e pertinentes. Tinham plena noção do alcance da sua publicação, da genialidade de todos os que ali trabalhavam assim como do perigo que corriam. Já tinham sido alvo de um ataque, em 2011, quando uma bomba foi colocada nas suas instalações (felizmente sem gerar feridos ou mortos). Estavam na lista negra da Al Qaeda, tinham protecção especial das forças de segurança e o prédio onde se encontram não está identificado para prevenir situações como a da passada quarta-feira.

E mesmo tendo plena noção do risco que corriam olhavam nos olhos do medo, do perigo e da maior organização terrorista do mundo. Nunca mudaram a sua linha editorial. Nunca deixaram de fazer piadas e cartoons com matérias sensíveis. Para fazer humor não devia de ser preciso ter tamanhas doses de coragem.  Mas infelizmente é. E aquele jornal, e aqueles profissionais, tinham-na (e ainda a têm).

Aposto que se estivessem no lugar de qualquer um daqueles profissionais teriam pensado duas vezes antes de continuar o vosso trabalho. Teriam pensado na vossa família, nos vossos amigos, no vosso futuro. E, provavelmente, a maioria não teria a coragem que aqueles homens e mulheres tiveram. Eu sei que não teria. Teria recuado, certamente. Talvez isso faça de mim menos corajoso, não sei. Mas não tenho dúvidas que teria recuado. Por isso mesmo é que não sou Charlie. Nunca na vida serei Charlie. Estou na linha da frente no combate ao terrorismo e aos atentados à liberdade de expressão, mas apenas posso invejar o talento e a coragem de quem é verdadeiramente Charlie.

Voltando ao nosso Magazine posso-lhe dizer que este mês temos muitos artigos e todos de uma qualidade que você nem imagina! Na poesia o nosso mestre de serviço, Nuno Vicente, criou mais uma obra-prima tendo por base o tema do momento: a liberdade. O hilariante Gil Oliveira debruçou-se sobre…a morte e é disso que nos fala na sua crónica de humor deste mês. O Luís Antunes apresenta-lhe mais uma crónica de cinema, desta vez para o fazer pensar seriamente sobre a trilogia “The Hobbit”.

Na música os nossos dois cronistas têm muitas, e boas, notícias para si. Vasco Wilton apresenta-lhe todos os concertos que vão acontecer no decorrer do ano de 2015 em Portugal (incluindo os Festivais de Verão), tendo inclusivamente espaço para os habituais rumores que polvilham a internet. Por sua vez o Nuno Pitt continua o seu abecedário musical, (no fundo são sugestões de músicas e artistas que deviam de estar incluídos na sua playlist), assim como as suas apostas pessoais para artistas revelação deste ano que ainda agora começou.

A Ana Flora centrou a sua atenção nos jogos de sorte e azar e na razão para serem tão populares entre a população portuguesa enquanto que a Cláudia Melo deixou vir ao de cima a domadora que há em si para lhe trazer uma profunda reflexão sobre a recente lei que impede os circos de terem (e utilizarem nos seus espectáculos) animais.

Quem este mês teve trabalho redobrado foi o nosso cronista de política. Exactamente, falo do Diogo Spencer! Á sua crónica habitual (onde aborda a situação da TAP) juntou uma outra, extra, abordando o tema do momento: o atentado ao jornal francês Charlie Hebdo.

E para finalizar (mas não menos importante e genial) temos o Sérgio Martins e o seu “Regresso ao Futuro”, a Patrícia Lopes e as doenças de Inverno e a Joana Valente e o seu “Um Estudo em Vermelho” do mestre Arthur Conan Doyle.

No fundo são mais do que razões para que permaneça connosco largos minutos e para partilhar com o mundo a genialidade destes cronistas que lhe dão tanto de si, dos seus interesses e do seu talento.

Aqui o espero, no próximo dia 10, para mais um Magazine!

Editorial por Bruno Neves