Ele quer voltar para Marte! (Mas não o deixam…) – Teresa Isabel Silva

Antigamente o povo português era conhecido por ser um povo hospitaleiro, mas agora para o marciano que está de visita (quase forçada) a Portugal, o povo português tem sido conhecido como “aquele que vive mal”.
Imaginem bem que depois do recibo com o IVA a 23% o pobre marciano descobriu que não conseguia fazer a nave levantar voo para fugir desta terra lusa porque alguém lhe tinha roubado o combustível.
Redimido com a sua falta de sorte (e de dinheiro) coisa que os portugueses já estão de veras habituados a estar, o marciano saiu da sua nave e foi até ao posto de combustível mais próximo.
Imaginem o choque do pobre visitante quando viu os preços dos combustíveis. Mais uma vez ele lamentou ter saído do seu planeta. Sem dúvida que Portugal era um mundo á parte. E desta vez não só da Europa nem do mundo, mas sim de toda a galáxia.
O assaltante da crónica anterior, se os meus caros leitores bem se lembram, tinha-lhe levado tudo, e os trocos que tinha deixado na nave por segurança, nem para um litro de gasolina davam. Pelo menos podia tomar mais um café… Aproveitar enquanto o preço destes também não aumentavam…
Depois de se informar com alguns transeuntes que estavam no posto de abastecimento descobriu que para ter dinheiro precisava de trabalhar. E para trabalhar precisava de um emprego, e para ter um emprego tinha que ir ao centro de emprego…
Achou que existiam muitas burocracias, e depois de ir ao centro de emprego descobriu que era mais fácil ser-se desempregado do que empregado.
Para ele não fazia o mínimo sentido que o Estado desse mais de mil e um tipo de subsídios de ajuda aos desempregados. Se o estado precisa de dinheiro que tal dar emprego á pessoas em vez de lhes dar acesso ao dinheiro do Estado?!
No planeta dele as coisas funcionavam melhor. Pelo menos eram mais lógicas…
Oh!!! Ele estava com saudades de coisas lógicas. Para ele parecia que este pequeno país onde tinha aterrado estava sabotado pela falta de lógica!
Finalmente, chegou ao centro de emprego, estava cansado de andar, não tinha dinheiro para os transportes e não tinha dinheiro para comer. Percebeu que ser pobre era ser português. Tirou a sua senha e percebeu que á sua frente na fila de espera deviam de estar mais de 5 mil pessoas. Lembrou-se da notícia de um despedimento recente de um número elevado de pessoas.
E alí estavam todas elas. Pessoas que queriam trabalhar, cujo emprego lhes fora arrancado por uma crise que só aumenta em vez de se resolver. Ali estava mão-de-obra e jovens licenciados que podiam muito bem, se a hipótese lhes fosse dada, fazer crescer o país.
Em vez de ajudarem, estão contra a sua vontade a fazer secar os cofres do estado com o pagamento de mais subsídios.
O marciano achou esse facto completamente lamentável, e então decidiu imigrar. Afinal de contas o extraterrestre mau da galáxia tinha razão quando mandara o seu povo imigrar: Nesta terra não se vive. Sobrevive!


Crónica de Teresa Isabel Silva
Crónicas Minhas