Eleições Brasileiras 2018 – O que está em jogo

Ron Lesthaeghe (2010) afirmou que, caso não se desse o retorno a uma democracia mais directa, mais próxima daquilo que eram as suas raízes, bem como uma maior abertura dos governos à discussão de assuntos de índole qualitativa, existiria o risco de um aumento da desconfiança na política e nas suas instituições por parte dos cidadãos, o que levaria a um igual aumento na anemia política, que serviria como combustível para o reaparecimento de forças de extrema direita. E é aqui que se percebe o que está em jogo nas eleições brasileiras, mais concretamente no mediatismo em redor de um actor político como Bolsonaro.

Nos últimos meses, é possível que o leitor se tenha cruzado com notícias sobre esta personalidade numa base quase diária, seja ela nas redes sociais, nos jornais, na televisão ou noutro meio de informação.

No passado dia 7, o candidato a Presidente do Brasil conseguiu ter quase 50 milhões de votos, o que se traduziu em 46,03% do total de votos apurados, destacando-se dos restantes 12 candidatos. E obteve este resultado com base numa retórica que facilmente se identifica como sendo de extrema-direita, através das suas constantes intervenções que apelam à discriminação, ao ódio e à intensificação do preconceito contra todos aqueles considerados “diferentes”.

No entanto, tal resultado foi insuficiente para garantir a vitória na 1ª volta, pois o seu principal opositor, Fernando Haddad, conseguiu 29% dos votos e será o opositor de Bolsonaro na 2ª volta, no próximo dia 28.

A tarefa não se adivinha fácil para Haddad. As sondagens indicam que está a 12 pontos percentuais de distância do opositor (44% ante 56%) e os apoios são escassos, pois os opositores da 1ª volta mostram-se renitentes em expressá-lo, e a poucos dias da 2ª volta, Haddad irá precisar de toda a ajuda possível caso queira vencer.

Mas o que está em jogo não é apenas um resultado eleitoral. É a visão de que o Brasil deve ser uma sociedade tolerante, inclusiva e aberta a todos contra uma visão antónima, que acredita que o rumo a seguir deve ser um onde o medo, a cólera e a violência sejam as palavras de ordem. É igualmente importante que fique claro para todos que nada disto é diferente do que aconteceu nos anos 30, mudando apenas a forma como se faz a propaganda, e que não estamos imunes a que tais movimentos surjam no nosso país (O Movimento Nova Portugalidade e o PNR são exemplos disso).

É necessário que o povo brasileiro faça um introspecção profunda sobre o tipo de sociedade que quer ser e, em que tipo de país quer viver. Ainda vai a tempo disso.