No dia 22 de Setembro de 2014, foi divulgado na internet o discurso que Emma Watson fez na ONU.
Emma Watson é actriz, modelo e desde há seis meses que é Embaixadora da Boa Vontade da ONU pelos Direitos das Mulheres.
Neste discurso falou sobre a deturpação que a palavra “feminismo” veio a sofrer e promoveu a campanha, que iniciou, He for She.
Esta campanha foi feita porque nos dias de hoje os homens são discriminados por mulheres. He for She é um movimento solidário que une homens e mulheres pela igualdade de género, tanto para homens como mulheres.
Para que fique aqui esclarecido o significado de feminismo é:
- Doutrina cujos preceitos indicam e defendem a igualdade entre homens e mulheres
- Movimento que combate a desigualdade de direitos entre homens e mulheres
- Ideologia que defende a igualdade, em todos os aspectos (social, politico, económico), entre homens e mulheres
O resultado deste discurso corajoso e que apela ao fim do ódio resultou em mais ódio, Emma Watson foi ameaçada por hackers que afirmaram que dentro de poucos dias as suas fotografias pessoais (principalmente fotografias de foro sexual) iriam ser divulgadas na internet. A justificação dos hackers: “Ela faz discursos feministas estúpidos na ONU e agora as suas fotografias nua aparecerão online” – fonte TVI24. Felizmente o site onde iam ser publicadas as fotografias encontra-se de momento fora de serviço e com apelos para encerrar o encerrar.
O feminismo defende a igualdade de direitos para as mulheres, o feminismo não é uma doutrina que promove ódio ao género masculino e muito menos superioridade feminina.
Em Portugal foi tarde que se implementaram o direito à igualdade entre mulheres e homens, apenas depois da revolução a 25 de Abril de 1974, que as mulheres tiveram direito a votar, pode-se dizer que antes do 25 de Abril as mulheres tinham dono, este sendo o seu marido. Era o marido que lhes dava permissão para trabalhar. Sem dúvida que se vivia numa época machista.
Depois da revolução dos cravos, as mulheres foram adquirindo o direito à igualdade, os mesmo salários, direito a trabalhar sem ter que pedir permissão a quem quer que seja, o direito aos contraceptivos orais e só muito recentemente direito a abortar sem qualquer risco para a sua saúde ou pena de prisão. A igualdade de género foi algo que se adquiriu ao longo dos anos em Portugal. Hoje em dia, a igualdade de género (de quem é contra) é apenas uma questão de educação e mentalidade.
Facto, há inúmeras campanhas contra a violência doméstica, estas campanhas são direccionadas a mulheres.
Facto, os homens também são vítimas de violência doméstica.
Facto, os homens também são violados.
Facto, se um homem demonstrar insegurança, pouca confiança, enfim, emoções, é rebaixado porque ser emocional é um direito exclusivo das mulheres.
Estes factos não são registados, não há estatísticas absolutas, porquê? Porque o homem é rebaixado e menos “macho” por ser vítima de qualquer tipo de abuso.
Estou a falar de Portugal e da, ainda existente, mentalidade pré 25 de Abril. Estou a falar da deturpação da palavra “feminismo” e o feminismo hoje em dia faz dos homens vítimas.
Há relativamente pouco tempo o dicionário urbano acrescentou mais um conceito, o Stare Rape. A definição de Stare Rape é, se um homem olha para uma mulher, é equivalente a violação. Quem inventou este conceito, certamente nunca foi vítima de abuso sexual.
As mulheres queixam-se que o cavalheirismo morreu, pois bem, foi a grande maioria do género feminino que o matou. O homem que abrir uma porta para uma senhora passar é considerado sexista.
Em Portugal as mulheres são privilegiadas. Mas é verdade que no mundo ainda há mulheres que são apedrejadas até à morte, há mulheres que são propriedade do marido, há mulheres que não têm direito ao ensino secundário, há mulheres que não têm acesso a contraceptivos, ainda há mulheres que nascem apenas com objectivo de serem (perdão pela expressão que normalmente tem uma conotação ofensiva) vacas parideiras, ainda há mulheres vítimas de abuso sexual porque “estavam a pedi-las” e isto não é dito só em países subdesenvolvidos!
Como diz Emma Watson no seu discurso, este feminismo tem que acabar.
Isto já nem é feminismo, é fanatismo e o pior… os fanáticos são uma maioria.
Para compreenderem melhor o objectivo da campanha deixo-vos aqui o site http://www.heforshe.org/ .
Homens, juntem-se a nós para lutar pelos nossos direitos, EU quero a vossa ajuda, EU quero parar a discriminação
Citando Emma Watson “If not me, who? If not now, when?”
“Esta campanha foi feita porque nos dias de hoje os homens são discriminados por mulheres.” Primeiro, não. Segundo, não outra vez e vou explicar porquê: essa discriminação aqui falada é segundo o que me parece a discriminação patriarcal. Esta define-se pelo vácuo machista exibido pelos chamados “alpha males” que acham que se um homem exibe comportamentos femininos, então é uma mulher. Isto obviamente que tem conotação negativa, porque um homem ser chamado de mulher é como um iPhone 5 ser chamado de Nokia 3310. Simplesmente soa mal porque as mulheres são inferiores. Em palavras super simples: os homens é que discriminam os homens que não se integrarem na definição de homem que eles bem entenderem é a correcta. Nunca vi uma mulher a gozar com um homem que tivesse a chorar, já agora. Mas claro, devem andar por aí.
“Emma Watson foi ameaçada por hackers que afirmaram que dentro de poucos dias as suas fotografias pessoais (…)” Falso. O site emmawatsonyourenext foi apenas uma campanha de marteking por uma empresa. http://www.dailyedge.ie/emma-watson-hacking-threat-rantic-1687170-Sep2014/
“Facto, se um homem demonstrar insegurança, pouca confiança, enfim, emoções, é rebaixado porque ser emocional é um direito exclusivo das mulheres.” Direito ou defeito? Porque o facto das nossas emoções serem descartadas como produto da nossa menstruação não me parece nada apelativo.
“Estou a falar da deturpação da palavra “feminismo” e o feminismo hoje em dia faz dos homens vítimas.” Claro que sim. No dia em que as mulheres começarem a assobiar aos homens na rua e a dizer o que lhes fariam se os apanhassem de joelhos falaremos sobre isto. Para já, com todo o respeito, esperava isto dos Men’s Right Activists, não da boca de uma mulher.
“Há relativamente pouco tempo o dicionário urbano acrescentou mais um conceito, o Stare Rape.” Isto teria piada se o Urban Dictionary não fosse um site de humor.
“As mulheres queixam-se que o cavalheirismo morreu, pois bem, foi a grande maioria do género feminino que o matou.” Não sabia que os homens tratarem as mulheres com respeito era a definição de cavalheirismo. Ou estaremos a falar da cena dos homens pagarem os jantares às mulheres (que vem do facto das mulheres ganharem muito menos que os homens e que é uma manipulação para as mulheres ficarem a “dever” sexo)? Ou talvez das mulheres não poderem fazer trabalhos pesados? Porque o trabalho delas é parir! Então o que é o cavalheirismo? Já agora, por que é que precisamos dele? Eu só quero ser tratada com respeito, mas para isso não preciso de cavalheirismo, preciso de feminismo. Além de que, só para rematar, o cavalheirismo é também patriarcal, que advém do facto das mulheres serem seres super frágeis e que por isso precisam de um homem para tudo. Se foi ESSE cavalheirismo que morreu, eu ajudo a enterrá-lo, porque não o quero.
“Em Portugal as mulheres são privilegiadas.” Onde está o estudo? Onde estão as estatísticas? Onde está a fonte? Qual Portugal? Em que mundo?
Aqui o único fanatismo que estou a ver é o fanatismo anti-feminismo da quarta vaga, que sim, tem as suas falhas, e sim, há muitas mulheres que realmente não ajudam a causa, mas a maneira de lutar pela igualdade não é culpabilizar as mulheres como está aqui descrito. Eu vi e ouvi o discurso da Emma Watson, mas em nenhuma parte ela defendeu as ideias desta crónica. Todo este texto me passou ao lado no discurso dela. Onde é que ela disse que os homens eram discriminados pelas mulheres? Onde é que ela disse que o feminismo de hoje era fanático? Onde é que ela falou do cavalheirismo? Onde é que ela disse que há mulheres privilegiadas?
O que ela disse sim, é que o feminismo é uma luta dos dois sexos. O que ela disse sim, é que os homens também sofrerão enquanto as mulheres sofrerem. O que ela disse sim, é que devemos lutar pela igualdade de direitos. Ela não disse anda do que está aqui escrito, e apoiar o discurso dela com opiniões que não vão a encontro do que ela disse é algo que eu e muita gente dispensa.