Em Lisboa a festa foi Madrilena e “La Décima!” a palavra de ordem

Já está. O maior evento desportivo do ano, a nível de clubes é claro, passou por Portugal. Mais de 400 convidados, 500 voluntários, 61 mil espectadores e mais 60 mil espanhóis que nos invadiram por estes dias, tudo isso redundou num número, num só número que descreve o que se passou nestes meses, nestes dias, nestes 120 minutos. 10. A décima. La décima. Foi assim que acabou a edição de 2013/2014 da “Liga Milionária”, vulgo, Liga dos Campeões.

Nos últimos dias de Maio, quem se passeasse pelas ruas do centro de Lisboa pensaria, por certo, que estaria perdido numa qualquer rua madrilena, tal a quantidade de “nuestros hermanos” – mais vossos que meus, mas isso são outros quinhentos – que por lá se encontravam. Uma invasão. Uma maré imensa de espanhóis fez-se representar no nosso país para ver uma final entre duas equipas do mesmo país, pior – ou melhor dependendo da perspectiva – da mesma cidade! Madrid transferiu-se em peso para Lisboa. Portugal já não se sentia assim tão invadido desde Julho de 1810, data da última invasão, mas desta feita, francesa.

Um embate histórico. Em jogo estava a conquista da prova mais importante do mundo a nível de clubes. Em jogo estava a Taça que faz sonhar milhões, que apaixona milhares, que devasta centenas e que faz vibrar outros tantos. Frente a frente estavam duas equipas da mesma cidade, algo inédito na competição. De um lado tínhamos um super-motivado Atlético de Madrid que via neste jogo a oportunidade perfeita para coroar aquilo que foi, sem dúvida nenhuma, umas das melhores épocas de sempre do clube madrileno liderado por Simeone. Do outro lado, um “todo poderoso” Real Madrid que 12 anos e 1.2 biliões gastos depois procurava, cegamente, a 10ª Liga dos Campeões e assim mais um marco no seu, vastíssimo, palmarés.

Às 19h45 do dia 24 de Maio de 2014 o mundo parou. Todas as cameras, todos os holofotes, todos os olhos estavam postos em Lisboa, mais precisamente no Estádio da Luz. Assim que se deu o pontapé de saída as respirações ficaram suspensas e o ritmo cardíaco mudou para a “frequência” final da Champions. Do jogo haveria muito mais a falar, mas importa só salientar que, foi futebol. Foi o futebol no seu estado mais puro, mais bonito, mais seu. Quando já todos davam a vitória ao Atlético e os seus aficionados se preparavam para festejar, eis que, lá de cima, surge Sergio Ramos e aos 92 minutos inverteu o estado de espírito de milhões de pessoas, levando uns ao desespero imediato e outros ao êxtase total. Foi desta forma que o Real Madrid levou o jogo para prolongamento, onde acabou por vencer a qualidade individual e a frescura física. Os homens de Simeone não aguentaram mais e o resultado acabou por se fixar em números exagerados.

Com o término dos 120 minutos, as emoções eram diametralmente opostas. De um lado um clube que viu finalmente a 10ª Liga dos Campeões a ser conquistada. Do outro, um clube que viveu um conto de fadas e que acabou por perder a segunda final disputada, um pouco à semelhança do que se havia passado em 1974 contra o Bayern de Munique. O certo é que a Taça mais desejada do mundo vai para Espanha, para Madrid. Os espanhóis continuam assim no topo do universo futebolístico, sendo que actualmente são campeões do Mundo, da Europa e têm duas equipas como detentoras da Liga Europa e da Liga dos Campeões. É obra.

O dia 24 de Maio ficará marcado pelo dia em que Portugal voltou a ser o epicentro do mundo. De um mundo futebolístico, de um mundo que arrasta multidões e que move milhões. Foi esse mundo que teve em Lisboa a sua capital. Nós por cá só nos podemos dar por satisfeitos. Três portugueses ganharam um troféu, com o melhor do mundo a estabelecer mais um recorde e com mais uns milhões encaixados à conta dos vizinhos do lado. Mostrámos ao mundo o que sabemos fazer, como sabemos receber e a extraordinária forma como organizamos eventos. Na festa da décima, o anfitrião não podia ter sido outro.

AntónioBarradasLogoCrónica de António Barradas
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