Emigrar ou ficar?

É triste quando a nossa pátria-mãe não consegue criar condições para que os seus filhos nacionais possam viver e trabalhar honesta e condignamente dentro da sua estrutura económica e social e dentro das suas fronteiras. Emigrar ou ficar?

O drama da sangria emigratória continua, apesar dos recentes dados de um crescimento económico timidamente consistente e apesar dos recentes apelos dos nossos governantes para que os jovens e outros cidadãos que saíram do país pela falta de razões para ficarem, voltem ao país.

Mas voltem como? Já há lugares para eles? Já existem colocações para os engenheiros, enfermeiros e professores licenciados, alguns mestres e outros doutores? Onde? Em que empresas? No Estado?

E os que cá continuam a insistir? Muitos, encontram-se sob a alçada dos pais, residindo e sendo sustentados pelos seus pais ou avós, sem condições para procurarem casa, constituírem família, programarem ter filhos… os mais corajosos e afoitos, não conseguem estar nesta situação e arriscam tudo no estrangeiro, onde os esperam, muitas vezes, trabalhos que nada têm a ver com a sua formação – salvo honrosas exceções e alguma sorte também. Os que ficam, arrastam-se entre cursos, alguns financiados, outros – aqueles que os pais podem financiar – esticam-se nos estudos até ao máximo. Nunca se viu neste país “Mestres” com 24, 25 anos de idade. Mestres de quê? Nem uma profissão sabem desempenhar, apenas possuem muitos conhecimentos teóricos… Outros com 30, 35 anos são doutores!!! Ora, já lá vai o tempo em que apenas pessoas com alguma carreira de sucesso conseguiriam tirar doutoramentos. Hoje em dia, com a dificuldade financeira por que passam as Universidades e Politécnicos, aceitam-se todos os possam pagar, para aumentar obviamente os seus magros orçamentos, banalizando-se assim o conceito de “Mestre” e ainda mais o de “Doutor”.

Nada contra, mas temos que admitir que o dinheiro continua a falar mais alto quando se pretende aceder aos melhores serviços neste país, quer seja na educação, quer seja na saúde, quer seja na justiça…

Conheço professores com 15/20 anos de licenciatura, que nunca exerceram…

Conheço licenciados a aceitar trabalhos em limpezas e em call-centers, a auferirem 300, 500, 600€, mas trabalhando ou com um esforço descomunal ou sob uma pressão psicológica doentia, por meia dúzia de patacos que levam para casa ao final do mês…

Durante quanto tempo?

Enquanto o nosso Estado ficar com mais de metade da riqueza deste país, como é possível que os seus cidadãos contribuintes consigam obter a sua realização pessoal, profissional, constituam família e contribuam para a natalidade?

Estou certo de que, se as empresas pagassem muito menos impostos, conseguiriam pagar melhor aos seus colaboradores e, aí, o Estado conseguiria recolher mais dinheiro de IRS, não pela via da enorme percentagem de incidência sobre os rendimentos singulares, mas pelos salários mais altos dos seus contribuintes. Com mais dinheiro no bolso, os cidadão consumiriam mais e, por isso, seria recolhido maior volume de IVA… Com mais rendimento mensal, os jovens casais certamente quereriam constituir família mais cedo, ter filhos e, assim, contribuir para a futura sustentabilidade da segurança social…

Tudo isto parece ser tão simples… mas ao mesmo tempo nos parece tão distante de realizar…

Teremos futuro assim?

Iremos ainda a tempo de corrigir?

Tenho dúvidas, mas só espero que os meus filhos consigam obter deste pobre país muito mais do que eu consegui.

Assim esperamos todos.