Emprego (in)sustentável!

Caro leitor, antes de mais gostaria de justificar a minha ausência desta coluna durante algumas semanas, pedindo desculpa pela falta e que se deveu não a qualquer problema de saúde, doença ou familiar, mas apenas devido a um período de ausência e outro por excesso de trabalho.

Feitas as devidas desculpas, volto em reentré atrasada, para voltar ao tema do emprego/desemprego e sobre o qual posso relatar situações reais ocorridas na família, por isso nada inventadas nem especulativas.

Na cidade onde resido – Coimbra – nota-se alguma tentativa de alguns novos empreendedores ou velhos empresários em reagir à crise, abrindo ou reabrindo espaços comerciais ou negócios que tinham dado como inviáveis.

Muitos, aproveitaram a crise para despedir antigos empregados dos quais já estavam fartos e voltaram para explorar diferentes áreas de negócio: notam-se menos lojas de roupas e calçado e mais lojas de artesanato e voltadas para o mercado tradicional e da saudade.

Esses, voltaram contratando novos empregados, mas mais baratos. Muitos, sem contrato nem os descontos legais e com infindáveis períodos experimentais. Pagamentos, nem sempre certos, mas como o empregado precisa de agarrar o tão escasso trabalho, vai aguentando o mais que pode.

A restauração está a regressar com alguma inovação, explorando novos e diferentes conceitos em pequenas “tasquinhas” ou balcões de rua ou ainda o ressurgimento como cogumelos da tradicional “roulote” – novos (velhos) conceitos de “fast food”.

Nos serviços, as ofertas que proliferam são na área dos “call-centers”, onde o trabalho é psicologicamente árduo para tão pouca remuneração e, ainda por cima, explorado por empresas de trabalho temporário, em vez de serem as próprias empresas a contratarem diretamente os seus colaboradores. Há ainda o trabalho comercial nas ruas e empresas, que não criam qualquer tipo de riqueza efetiva no mercado nacional, uma vez que apenas visam a cada operador de telecomunicação ou eletricidade ou gás ou cartões de crédito – isto para nomear alguns exemplos – retirarem mercado uns aos outros. As pessoas, por um lado, estão fartas que lhes batam à porta dia sim, dia não, para lhe tentar vender um pacote quase igual ao que tem e nos quais dificilmente se conseguem encontrar motivos para argumentação. Tanto residências como empresas.

A crise e a troika, a par das enormes necessidades de ganhar algum dinheiro fazendo alguma coisa, levam as pessoas a aceitarem quase tudo aquilo que lhes oferecem. O mercado de trabalho deteriorou-se, portanto, e é hoje frequente vermos licenciados a fazerem-no, enquanto as pessoas com poucas habilitações, continuam a engrossas as matinas filas do centro de emprego.

Neste capítulo e, para estes, existe a possibilidade de continuarem a aumentar as suas competências através de cursos de formação – de preferência financiados – mas para isso, é muito difícil para muitas das entidades formadoras, incluindo o IEFP e empresas associadas ou em parcerias, encontrarem os formandos em número suficiente para que os cursos sejam abertos. É que as pessoas precisam de ganhar a vida e, com uma pequena bolsa de 80 a 100€ mais o pagamento de subsídio de transporte/alojamento e de alimentação, não chega para ajudar a sustentar-se a si próprio, quanto mais se tiver uma família para sustentar ou para ajudar.

A solução é, para os licenciados, quando são jovens e ainda não têm família constituída, a emigração. Para os menos qualificados também, no entanto, nos dias que correm, esses emigram para trabalhos pesados e muitas vezes escravizados ou não tão bem pagos como antigamente: na agricultura, na construção civil, na restauração.

Cá estamos para ver que consumidores conseguirão sustentar as vendas dos novos pequenos negócios/lojas que proliferam e até quando eles conseguirão aguentar-se.

Cá estamos para ver até quando o sistema da segurança social atual consegue resistir à contínua diminuição do rácio de “pagantes”/pessoas ativas contra pensionistas e reformados.

Cá estamos para ver até quando as empresas de telecomunicações/eletricidade/gás continuam a sustentar algum precário rendimento a muitos dos nossos jovens qualificados que têm a coragem de não emigrar.

A nossa situação atual enquanto país, só faz lembrar uma mesa de casino, em que se trocam fichas em cima da mesa, sem que se crie qualquer riqueza, mas apenas existe a transferência de riqueza de uns paga outros jogadores.

Isto é crescimento económico?

Claro que não!

Crescimento económico tem que ser sustentado, ou seja, tem que ser baseado no aumento da produção de um país, não dos serviços mas setor produtivo: agricultura, extração, pescas e transformação. O único setor produtivo que parece crescer no nosso país, mas que não é suficiente é na área informática e tecnológica. Sustentaremos para sempre as nossas exportações no setor do turismo ainda tão mal explorado? É uma possibilidade, até porque pode mexer com outros setores produtivos, mas se é isso, então que nos digam definitivamente o que se quer para este país, em vez de andarmos a brincar aos bancos.