“Encontro” – Um poema de Carnaval

“E quando todos dormiam,
trajou-se de capa negra e fogo,
colocou a sua máscara de porcelana,
e rasgou as vestes do zelo e da preocupação…

Voando para bem longe dali,
máscara reveladora da essência e do Eu…
Sem medo, de olhos fixos no destino,
percorreu as escuras ruas da cidade…

Caminhou junto ao rio de águas de prata,
olhando os corpos adormecidos nas esquinas,
rescaldo de uma noite de Carnaval,
suspiros libertadores que embriagam a alma…

Olhares cansados e dormentes,
enchem os becos e ruelas,
Corpos trajados do nada…
O Id saiu à rua desmascarando-os…

Andando em leve passo, percorre os passeios,
oferece um sorriso a quem vagueia por ali…
Em busca de um olhar firme e seguro,
que abrace a alma e a envolva…

Cruzam-se os olhares, finalmente,
trocam-se parcas palavras,
Onde foi que se perderam?…
Como foi que se encontraram?…

Um abraço perpétuo, para além do tempo,
Para além da morte…
Máscaras que omitem os rostos,
revelando sentimentos e verdade…

Passa o tempo e o tempo aqui é escasso…
Há trabalho a fazer…
Varrem-se as ruas da dor…
Dá-se amor, leva-se fé…

A noite vai… O abraço não se desfaz…
Retorna cada um deles à sua casa.
De vestes trajam os corpos, almas despidas,
Despem-se do trajo, vestem-se de si…

Olham as máscaras pousadas agora…
Sorriem, em silêncio…
Os olhares jamais mentem…
É pelo olhar que as almas se encontram e se tocam…”