Enormes Gverreiros do Minho

Em Portugal é tradição, quase diária, ignorarem-se as equipas que estejam fora do leque dos crónicos candidatos ao título. Este desprezo é feito nos media tradicionais e, muitas vezes, na internet só pelo facto de serem clubes com menor massa associativa e adeptos, podendo com isso trazer menos receitas, lucro ou visualizações em publicações a eles dedicados. As equipas mais pequenas têm pouco tempo de antena e quando conseguem feitos importantes como derrotar um dos ditos “Grandes”, o destaque que é dado ao jogo é mais pelo ponto de vista do perdedor do que pelo ganhador. Com o intuito de contrariar um pouco esta tendência e de fazer justiça em nome de um clube que se está a portar lindamente este ano, decidi escrever e dedicar este texto aos “Gverreiros do Minho”. Sim, estou a falar do Sporting Clube de Braga para aqueles que andam mais distraídos!

O Sporting de Braga tem crescido a olhos vistos no panorama futebolístico nacional. Para além de crescer em número de apoiantes e simpatizantes, desportivamente também tem dado cartas. O clube presidido por António Salvador é um excelente exemplo de gestão de recursos desportivos. Modelo que outros clubes portugueses deveriam tentar replicar, aliás. Sem orçamentos estonteantes, principalmente quando comparados com os orçamentos de Benfica, Porto ou Sporting, o clube tem contado com jogadores muito interessantes nas suas fileiras, alguns deles resgatados aos grandes e a outros clubes da 1ª Liga e já com provas dadas. A nível de saídas, o clube minhoto também tem sabido vender sabiamente. Só no início desta época foram vendidos Zé Luís, Éder e Rúben Micael por um total de aproximadamente 15 milhões de euros. Notável para um clube desta dimensão! Numa altura em que os orçamentos financeiros tanto peso têm no futebol moderno, aquilo que o Braga tem feito é, sem dúvida alguma, digno de registo.

E no banco? No banco do Braga já se sentaram alguns dos melhores treinadores portugueses da actualidade. Jorge Jesus, Manuel José, Manuel Machado, Jesualdo Ferreira, Domingos Paciência, Carlos Carvalhal, Jorge Costa, José Peseiro, Leonardo Jardim e Sérgio Conceição apenas para mencionar alguns nomes. Também tem sido frequente os treinadores do Braga “darem o salto” para algum dos “grandes” desenvolvendo um bom trabalho no Minho ou, no sentido inverso, não atingindo os objectivos num clube de maior dimensão e acabando a treinar o Braga, sem nenhum desprestígio diga-se de passagem. Paulo Fonseca é apenas o caso mais recente disso mesmo. No Futebol Clube do Porto nunca foi bem-amado e no Braga parece estar como peixe na água. Está a desenvolver uma grande temporada e a mostrar a sua qualidade para treinar. A política que passa pela escolha de treinadores de nacionalidade portuguesa que conheçam bem a realidade nacional também me parece bastante correcta por parte da direcção.

Nesta altura da época, a equipa de Paulo Fonseca ainda se encontra a lutar em várias frentes e não será de espantar se vencer algum troféu. No campeonato está confortavelmente no quarto lugar com mais 6 pontos que o quinto classificado, o Arouca (também a desenvolver uma impressionante temporada) e gerindo bem os jogos que faltam, pode manter-se nessa honrosa posição. Na Taça da Liga, vai disputar a meia-final contra a equipa com mais vitórias na prova, o Benfica. Também não seria de espantar que a equipa arsenalista vencesse um Benfica mais concentrado na Liga dos Campeões e no campeonato. Para a Taça de Portugal, o Braga enfrenta o Porto na Final agendada para dia 22 de Maio no Jamor. Mais uma vez, não seria nenhuma surpresa se a equipa orientada por Paulo Fonseca erguesse o troféu. Sobretudo após a vitória conseguida há pouco tempo atrás na “Fortaleza de Pedra”, o Estádio Municipal de Braga.

Na Europa o Braga também se tem agigantado. Grandes exibições complementadas com óptimos resultados tem sido algo recorrente na Liga Europa. Contudo, na semana passada, os bracarenses perderam na Turquia, por 1-0, frente ao Fenerbahçe orientado por Vítor Pereira onde actuam os portugueses Nani, Raúl Meireles, Bruno Alves e também os craques Markóvic e Robin Van Persie. Um jogo decidido perto do final e no qual a equipa portuguesa não foi propriamente inferior ao elenco turco, recheado de estrelas internacionais. Não sou adepto do Braga nem tão pouco aquele adepto de futebol que apoia incondicionalmente as equipas portuguesas nas provas estrangeiras, mas na segunda mão desta eliminatória vou estar a torcer pelo Braga! Não por ser uma equipa portuguesa, mas sim por ser uma equipa que merece ir mais além por tudo o que tem feito até aqui. Na eliminatória anterior, eliminou o atrevido Sion (4-3) e na fase de grupos o apuramento foi exemplar, num grupo onde estavam Slovan Liberec, Groningen e um histórico do futebol europeu, o Marselha. A equipa portuguesa foi mais forte e ficou em primeiro lugar. De forma justa e clara.

Agora, embalados pela raça dos seus fiéis adeptos, Alan, Rafa, Josué, Wilson Eduardo e companhia têm tudo para virar a eliminatória e passar à próxima fase. Não será fácil para o Braga, mas não será igualmente fácil para a equipa turca enfrentar a pressão. Recordo que há uns anos atrás, quando ainda era jogador do Benfica, “O Mago” Pablo Aimar disse que jogar no estádio do Braga era o reduto mais difícil onde se podia disputar um jogo em Portugal, isto por culpa da pressão causada pelos adeptos bracarenses. Eles sim, podem fazer a diferença se a equipa corresponder da mesma maneira em campo.

Em campo a equipa tem estado muito bem! Recentemente perdeu com o Belenenses por 3-0, num jogo onde houve alguma gestão por parte de Paulo Fonseca, mas também já vimos esta equipa arrancar enormes exibições. Grandes exibições não só do ponto de vista do resultado mas também do ponto de vista do espectáculo. Os jogos frente ao Sporting Clube de Portugal para o campeonato e para a Taça de Portugal foram dois dos jogos mais emocionantes e espectaculares que esta época desportiva já nos ofereceu. Golos e reviravoltas. Quem não gosta, não é verdade? A nível pessoal foram mesmo os melhores que vi em Portugal este ano. Já nem vou falar da Final da Taça de Portugal do ano passado onde o Braga, por muito pouco não venceu o troféu contra o mesmo adversário.

Este Sporting de Braga tem andado muito perto de conquistar mais troféus e eu já estive mais longe de discordar com as recentes palavras de Pedro Proença, o actual Presidente da Liga, que falava da “inevitabilidade” de o Braga vir a ser campeão nacional mais tarde ou mais cedo. Convenhamos que quando se vê a qualidade de treinadores que o Braga tem tido, os campeonatos bem disputados até final que já teve com Porto ou Benfica, as grandes exibições europeias que já tem arrancado e jogadores que consegue juntar nas suas fileiras, seja por descoberta do seu competente staff seja por aquisições aos “Três Grandes” de jogadores sub-aproveitados, é difícil não acreditar que num ano bom o Braga não possa vencer a principal competição nacional. Para o futebol português era bastante positivo, mesmo que isso custe à maioria dos adeptos. Já aconteceu com o Belenenses e com o Boavista, mas já lá vão uns bons anos. Se há clube bem posicionado para surpreender desta maneira é o Sporting de Braga. Inequivocamente o “Quarto Grande” do futebol português nesta altura. No futebol as coisas mudam muito depressa, mas nesta altura não há mesmo concorrência por este estatuto.

Estando ainda nas competições europeias (o único clube português na Liga Europa), confortavelmente posicionado na Primeira Liga, nas meias-finais da Taça da Liga e na Final da Taça de Portugal, o Braga pode fazer da época 2016/17 uma época inesquecível para os seus adeptos. Inesquecível pela positiva e pela negativa. Pela positiva porque qualquer troféu conquistado será, desde logo, um grande feito para um clube pouco habituado a ganhar. Pela negativa porque quanto mais troféus se disputam mais se podem, naturalmente, perder. Será esta época uma mão cheia de nada para o Braga? Eu não sei. Aliás, ninguém sabe. Há condições para ganhar, mas também há fortes possibilidades de perder. As equipas mais habituadas a estas andanças, por vezes, acusam o desgaste físico nos momentos decisivos. Este pode ser um factor decisivo para um plantel com menos experiência como é o do Braga.

Até aqui os “Gverreiros do Minho” têm sido inesgotáveis e fazem os seus seguidores sonhar. Na “Fortaleza de Pedra” estes guerreiros estão habituados a vencer batalhas e a dar luta aos seus oponentes. Fora dessa fortaleza, onde se vão disputar os derradeiros confrontos finais desta época, estes guerreiros podem ver as suas fraquezas expostas de outra maneira. Conseguirão proteger-se da melhor maneira e atacar os troféus tão ambicionados pelos seus adeptos?