Entrevista Exclusiva a Mariana Lopes – Jogadora do Boden Handboll

O Ideias e Opiniões continua a sua forte aposta nas entrevistas exclusivas trazendo, sempre que possível, profissionais talentosos das mais variadas áreas que merecem a nossa atenção e destaque! E desta vez inovamos, rematamos contra o preconceito da imprensa generalista e marcamos um golo a favor do andebol feminino em Portugal!

Raro é o destaque a esta modalidade, mesmo contando nós com inúmeras jogadoras de grande qualidade a actuar em Portugal e nos melhores campeonatos da Europa (algo absolutamente incompreensível na nossa opinião)! E para combater essa injustiça estivemos à conversa com uma das mais brilhantes executantes portuguesas desta modalidade. O seu nome é Mariana Lopes, é portuguesa, pratica andebol e foi, muito recentemente, contratada para jogar num grande campeonato europeu. Conheça a sua história, e o seu talento, aqui, no seu Ideias e Opiniões!

Antes de avançarmos é obrigatório endereçar um agradecimento muito especial à Mariana Lopes (que aceitou prontamente o nosso desafio e que provou o quão injusto é que Portugal não conheça o seu enorme talento!), ao seu ex-clube português (o Alavarium) e ao seu novo clube, o Boden Handball da Suécia.

Mariana Lopes, como é que uma modalidade como o Andebol se cruzou na tua vida?

Desde criança que sempre pratiquei desporto e fiz exercício regularmente. Com 5 anos de idade entrei na piscina onde evoluí até à competição nacional, no entanto achei que um desporto individual não era o indicado para mim. Aos 10 anos de idade, decidi abandonar a natação e através de amigos do meu pai, nomeadamente o Carlos Neiva, fui experimentar andebol no Alavarium, clube de que fiz parte 11 anos.

Como definirias o teu estilo de jogo? E qual consideras ser a tua maior qualidade?

Considero o meu estilo de jogo rápido, explosivo e forte. A minha maior qualidade é o remate de longa distância.

Quantas vezes ouviste os que te rodeavam perguntar: “Andebol? Porquê o Andebol e não outra modalidade qualquer?”.

Nos últimos anos, a modalidade de andebol tem vindo a ter mais visibilidade e conhecimento em Portugal, principalmente na minha cidade, Aveiro, com a nossa conquista do tri-campeonato no ano passado as bancadas passaram a encher-se muito mais e os nossos adeptos estão cada vez mais numerosos. Ouço mais vezes dizer “Andebol porquê? É um desporto tão agressivo!” e eu tenho de concordar, mas é sem dúvida o que me completa mais!

Mariana Lopes, ainda te lembras do teu primeiro jogo? Como correu e como te sentiste no final?

Não me consigo lembrar do primeiro jogo porque tinha apenas dez anos e com a emoção e a adrenalina todo esse início se apagou um pouco da minha memória, mas lembro-me de ser pequena e correr com a bola na mão, como se jogasse râguebi, para a baliza só porque tinha muita vontade de marcar.

Infelizmente, o andebol é um desporto a que os portugueses dão pouco valor. Embora haja vários/várias atletas, e muito bons/boas praticantes, a sua visibilidade mediática é reduzida, principalmente no género feminino. Concordas com esta análise?

MarianaConcordo que o andebol tem muito pouca visibilidade comparativamente com futebol, mas mesmo comparando com os restantes desportos não podemos dizer que se qualifica como o segundo ou terceiro mais visualizado ou com mais importância e isso entristece-me porque cada vez mais temos conseguido mostrar bons resultados a nível internacional.

Mariana Lopes, qual foi o melhor momento da tua carreira?

A primeira chamada à Selecção Nacional foi realmente um marco na minha carreira como jogadora, foi a partir desse momento que me foquei no futuro.

 

Estatisticamente falando quantas jogadoras profissionais de andebol temos a actuar no estrangeiro?

Temos neste momento 10 jogadoras a jogar activamente no estrangeiro.

Qual a tua maior referência desportiva?

É a Cristina Neagu, a lateral esquerda da Roménia.

Mariana Lopes, qual é a sensação de ser Campeã Nacional? E como é este sentimento repetir-se por três vezes, seguidas?

Ser campeã nacional foi a maior conquista que tive a nível nacional e poder fazê-lo com a minha equipa, com aquela que cresci e sempre sonhei, foi incrível. Conseguir fazê-lo três vezes seguidas com a minha equipa foi um autêntico sonho.

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Mariana Lopes, qual foi o golo mais saboroso que já marcaste?

Uma vez marquei um golo a 30 metros de distância numa falta e foi um momento incrível! Mas os golos internacionais às grandes figuras são sempre muito importantes para mim.

Foste considerada a melhor jogadora do ano nas últimas duas épocas. Certamente que isto foi um motivo de orgulho, e também de motivação, para continuares com o teu excelente trabalho! Mariana Lopes, como te sentes em relação a estes prémios? Esperavas conquistá-lo pela segunda época consecutiva?

Nunca pensei conquistar estes prémios, para mim mostram quem o público português considera a melhor jogadora e é realmente importante! Como é óbvio sinto um orgulho enorme e faço sempre por estar à altura!

A tua colega de equipa, Mónica Soares, também esteve nomeada para o prémio de “Melhor Jogadora do Ano”. Houve algum tipo de conversa ou brincadeira entre vocês antes de saberem quem seria a vencedora? O facto de ambas estarem nomeadas uniu ainda mais o balneário?

Acho que esta nomeação nunca foi um obstáculo para nós, aliás, no último ano eu acreditava verdadeiramente que iria ser a Mónica a ganhar e até lhe dei os parabéns antes. Ela achava o contrário, por isso foi mais uma brincadeira entre nós.

Mariana Lopes, qual foi o pior momento da tua carreira?

Eu tenho mais facilidade em recordar os maus momentos que os bons e, todos para mim, tiveram bastante importância, por isso não consigo dizer apenas um. No entanto, na Selecção de Juniores não termos passado para a fase seguinte por um golo e as constantes derrotas durante esta época não foram fáceis de ultrapassar. Todas as derrotas são difíceis para mim, é a pior parte do desporto!

Dadas as tuas qualidades técnicas e tácticas se não jogasses na posição de lateral esquerda, que outra posição te imaginas a desempenhar?

Gosto muito da posição de Central, por poder decidir o curso do jogo e iniciar um movimento para as minhas colegas finalizarem. No entanto, também gosto da arte de ser Ponta.

Qual é a sensação de representar a Selecção Nacional?

É a melhor sensação de sempre! Vestir a camisola da Selecção é sempre uma sensação diferente, olho-me sempre ao espelho várias vezes, para confirmar que está tudo como deve estar, antes de entrar no campo. É sempre um orgulho enorme!10690089_1030017437024852_1245167859910762855_n

Mariana Lopes, qual é o sentimento de cantar “A Portuguesa” com a camisola de Portugal vestida?

Ainda me emociono a cantar o hino, acho que nunca vou superar isso! Canto sempre a plenos pulmões e a agarrar as minhas colegas com força. Adoro o espírito da minha equipa a cantar o hino!

Quem é a tua maior referência na vida?

Não considero que tenho uma referência de vida, mas existem algumas pessoas que me inspiram, como os meus pais, os meus avós e o meu namorado. Todos por razões diferentes, mas muito únicas.

Fisicamente falando, até que idade é normal vermos uma mulher a jogar andebol ao mais alto nível (seja em Portugal ou no estrangeiro)?

Uma Lateral, devido ao contacto físico, consegue jogar a um bom nível até por volta dos 30 anos de idade. Mas existem jogadoras na Liga dos Campeões, Guarda-redes e Pivots, que ainda jogam aos 37/38 anos de idade!

No futebol, um dos temas mais discutidos é o elevado número de atletas estrangeiros a actuar no nosso campeonato. No andebol, este fenómeno também acontece, ou os clubes tendem a apostar mais nas jovens atletas nacionais?

Não existem grandes fundos monetários no andebol feminino, por isso esse fenómeno não acontece com frequência.

Mariana Lopes, quando te fizemos esta entrevista estava a decorrer a Fase de Grupos do Euro 2016. Ora apesar das exibições (e dos resultados) de Portugal terem deixado muito a desejar, a excessiva cobertura da imprensa a Cristiano Ronaldo e companhia mantém-se. Quando vês tanta atenção mediática para o futebol pensas: “Se ao menos nós tivéssemos um terço desta cobertura mediática no Andebol Feminino…” ou já te habituaste a lutar em condições desiguais com o futebol?

Já estou habituada a esse facto. Portugal é um país de futebol e sempre será, os restantes desportos, como o andebol, só têm de continuar a mostrar bons resultados para ganhar o seu espaço lentamente.

És uma desportista de alta competição e estás a terminar um curso superior em Fisioterapia, uma área indissociável do desporto. Aquilo que estudaste pode trazer-te mais-valias no plano desportivo, sobretudo ao nível de alguma lesão que possa surgir na tua carreira, por exemplo?

Sem dúvida! A fisioterapia está intimamente ligada ao desporto e considero que seja uma mais-valia para a minha vida desportiva, porque tenho melhor noção sobre postura, eficiência e biomecânica, por exemplo. Tenciono sempre acompanhar a fisioterapia, juntamente com o andebol!

Mariana Lopes, onde é que te vês daqui a 10 anos? Um dia que termines a tua carreira profissional apostarás na Fisioterapia ou ponderas a hipótese de permanecer ligada ao mundo do Andebol (como treinadora ou preparadora física, por exemplo)?

Daqui a dez anos espero ainda conseguir jogar andebol, mas assim que isso deixe de ser possível quero focar-me na minha carreira profissional como fisioterapeuta, de preferência sempre ligada ao andebol.

Como te sentes em relação ao panorama nacional e na tua opinião, que medidas poderiam ser tomadas para a modalidade ganhar outra projecção e reconhecimento?O andebol feminino tem vindo a ganhar mais importância com a nova direcção da Federação de Andebol de Portugal, que considero ter feito um bom trabalho nos últimos dois anos. No entanto, enquanto o andebol feminino não tiver melhor qualidade e mais investimento nunca poderá ser comparado com o masculino.

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Sempre que se fala em atletas de alta competição a maior parte das pessoas pensa logo no Cristiano Ronaldo e nos valores monetários associados ao mesmo. Porém tal não podia estar mais distante da realidade (principalmente no Andebol Feminino). Sentes que se a população portuguesa tivesse noção dos sacrifícios a que vocês são sujeitas ao longo da carreira, das condições de que muitas vezes dispõem para treinar e jogar e dos valores associados a vocês, reconheceriam mais o vosso talento, esforço e mérito?

Sem dúvida! Eu sinto isso pelos meus colegas de universidade que durante todo o percurso sempre disseram que não percebiam como é que eu conseguia conciliar tudo. Mas isso aplica-se para todos os atletas profissionais no nosso país. Todos merecem respeito e admiração!

Mariana Lopes, transferiste-te recentemente para o Boden Handboll. O que esperas do teu novo desafio na Suécia? Já acompanhavas este clube/campeonato?

Não acompanhava este campeonato, mas tive a proposta do clube e fui convidada a fazer uns dias de treino lá e quando fui apaixonei-me pelas pessoas e pelo clube. Senti-me em casa e relacionei-me com o projeto, por isso fez todo o sentido para mim, juntar-me a ele.

Os países do norte da Europa são tidos como um exemplo nos mais variados parâmetros e o desporto não é excepção. Mariana Lopes, esperas encontrar na Suécia uma sociedade e uma imprensa, que reconheça mais o talento e os feitos das atletas da tua modalidade?

Sem dúvida! Assim que acabei o primeiro treino do try-out, ainda nem tinha decidido nada em relação ao clube e já tinha três jornais da cidade a entrevistar-me e a verem o treino! Todas as pessoas envolvidas no clube e na cidade olhavam para mim e perguntava se eu era a nova portuguesa, por isso a visibilidade e importância é totalmente diferente!

Ser emigrante não é fácil, mesmo que estejamos a falar de atletas de alta competição. Do que achas que vais ter mais saudades em Portugal?

Do que vou ter mais saudades é definitivamente da comida, principalmente dos meus pais. Estou habituada a boa comida, não vai ser fácil! Mas o sol e a praia, também vão ser uma grande saudade. Claro que a minha família é a maior dificuldade de superar.

Mariana Lopes, que conselhos podes dar a todas as raparigas que, como tu, sonham em praticar e vingar no Andebol?

Muito trabalho e dedicação é o mais importante! A vontade e a paixão pelo desporto são uma peça fundamental para vingar no andebol!

Existe alguma forma de acompanharmos a tua carreira (através das redes sociais, por exemplo)?

Claro que existe! Tenho uma página de Facebook chamada Mariana Lopes #2 que é a página de atleta oficial. É lá que coloco todas as coisas relacionadas com andebol. Estão todos convidados para me seguir e acompanhar!

Agradecimentos: Mariana Lopes, Alavarium e Boden Handball.