Entrevista a Filipe Pinto

Ainda ontem trouxe-nos até si uma entrevista exclusiva (como assim não sabe do que estou a falar? É favor ler a entrevista à cantora espanhola La Otra o mais depressa possível!) e já hoje estou de regresso com mais material do qual são feitas as lendas!

Lembram-se do mítico casting do Ídolos em que o rapaz parecia não querer seguir em frente na competição? Pois bem esse rapaz chama-se Filipe Pinto, hoje tem dois discos editados e está prestes a editar o terceiro! E é precisamente o seu novo “E Tudo Gira” o motivo desta nossa conversa! Mas antes permitam-me fazer dois agradecimentos: ao Sérgio Martins (pela simpatia com que fez a ponte entre o Ideias e Opiniões e o Filipe Pinto) e ao próprio entrevistado que desde a primeira hora aceitou este nosso desafio!

Filipe Pinto que referências musicais tinhas durante a infância e a adolescência? O pequeno Filipe Pinto, que vagueava pelo norte do país nos anos 90, já queria ser músico ou na altura os sonhos eram outros?

Ser criança nos anos 90 teve as suas vantagens porque a música entrava numa era do pop e rock  muito evidente! Talvez por influência da irmã e dos amigos lá em casa ouvia-se Metallica, Nirvana, Smashing Pumpkins, Kelly family  Zeca Afonso, Mafalda Veiga,  Rui Veloso, Silence4 , Mamonas Assassinas, Pearl Jam, Sound Garden, Oasis, REM, etc…

Como a família sempre foi muito de cantares, e por influência do meu pai, comecei a tocar guitarra em cordas de aço, extremamente agressivas para os dedos de uma criança, mas a vontade de cantar superava os calos e feridas nos dedos!

É frequentes os músicos escolherem nomes artísticos para si ou para os seus projectos, criando quase que uma segunda pele, contudo preferiste apresentar-te sempre com o teu próprio nome. No início da tua carreira chegaste a pensar neste tópico ou para ti uma carreira na música só faria sentido com o teu nome próprio?

Bem a minha decisão não foi inconsciente! Prendeu-se com o facto de no programa me reconhecerem como “Filipe Pinto” e seria uma desconsideração para com o Público começar a adjectivar um nome ou criar um pseudónimo ou alcunha. Sempre gostei de ser eu mesmo, sem vestir segundas peles, que o meu trabalho fosse reconhecido pelo nome que me chamam diariamente…

Filipe Pinto
O Filipe Pinto já está pronto para cantar e encantar o país com o seu novo álbum!

O teu primeiro casting no programa Ídolos (em 2009) tornou-se num dos mais míticos de todas as temporadas do programa. Quando saíste por aquela porta com o tão desejado papel amarelo nas mãos, e tantos elogios dos membros júri na bagagem, já estavas completamente convencido a ir a Lisboa ou ainda pensaste em desistir e deixar tudo aquilo para trás?

Creio que o espanto foi imenso por ter sentido o júri, a figura que avalia a prestação dos concorrentes, ter aceite e ter demonstrado uma outra visão das coisas! Isso me fez reflectir…mas só se veio a confirmar totalmente durante a fase do teatro, em Lisboa. Aí sim estava consciente que tinha de fazer as coisas bem para avançar!

Com o passar das semanas, e o aproximar do final do programa, começaste a considerar-te um dos candidatos à vitória final? Como era o espírito entre os concorrentes: havia amizade e entreajuda ou a concorrência era tanta que não havia espaço para mais nada?

Não se pode dizer que não existia competição, isso sentia-se, mas os companheiros foram sempre trabalhadores demonstrando respeito em todas as fases! Gostava de pensar mais sobre o que tinha feito em vez do que sobre aquilo que ia acontecer.

E de repente, escassos meses após aquele mítico casting, e para alegria de largos milhares de portugueses, venceste a edição de 2009 do Ídolos. O prémio levou-te até Inglaterra, mais concretamente à London Music School. Filipe Pinto hoje, quando olhas para trás e relembras essa experiência, sentes que aqueles seis meses foram importante no início do teu percurso na música?

A experiência em Londres foi de 1 ano sensivelmente, sendo que estive 6 meses na London Music School, o que foi proveitoso para iniciar os meus estudos em música. Londres foi uma cidade importante para o meu amadurecimento e profissionalização do que faço hoje em dia, mas ainda hoje sinto que estou a crescer e aprender mais nesta área!

Venceste o Ídolos em 2009, no entanto o teu primeiro disco apenas foi editado em Setembro de 2012. Como é que conseguiste resistir à “pressão mediática” de lançar o primeiro álbum no menor espaço de tempo possível?

Pois, foi uma altura muito turbulenta e em que ainda tive de me concentrar em concluir a Licenciatura em Engenharia Florestal. Apesar de alguns convites de editoras para gravar um disco ter sido aliciante eu tinha a missão de seguir para Londres e aprender mais. Eu sempre preferi ter canções concluídas sem estar com a pressão de ter de editar um disco porque o tempo mediático difere em muito do meu tempo de crescimento.

Por norma os programas de talentos tendem a produzir tudo menos verdadeiros cantores. Mas se havia desconfiança do público em relação ao teu talento tu dissipaste-a com o teu primeiro álbum! Aquilo que me vinha à cabeça de cada vez que ouvia o “Cerne” era: maturidade e coesão. Filipe Pinto como é que um artista tão novo consegue criar, e produzir, um primeiro álbum tão “adulto” e com uma identidade e mensagem tão vincada?

Agradeço a cortesia das palavras! Por um lado viver em Londres fez-me sentir carências emocionais e falta da Portugalidade. O disco revela um lado introspectivo de uma experiência que começou ainda antes do programa, e que se prolongou no durante e no pós Ídolos, em Londres. Canções como o “Crua Carne” ou o “Projecto Despedida” relatam uma altura de exposição da imagem e da excessiva pressão que senti em alguns momentos, por exemplo. “Mandato de Paz” e “Vila” são canções de saudosismo e de algumas constatações que me apercebi com essa distância. Tudo o que está no disco “Cerne” são sensações e experiências que fui vivendo e vivenciando com outras pessoas e culturas.

"Cerne" foi o primeiro disco de originais de Filipe Pinto
“Cerne” foi o primeiro disco de originais de Filipe Pinto

Este disco trouxe-te não só o reconhecimento merecido (do público e da crítica) como muitos palcos cheios pelo país fora. Mas trouxe também uma nomeação (que se viria a tornar em vitória) para a categoria “Melhor Artista Português” dos MTV Europe Music Awards (EMA). Tendo em conta a qualidade dos restantes concorrentes e o facto daquele ser o teu primeiro disco este foi um prémio especial para ti?

Sem dúvida! Estar entre os nomeados da altura e conseguir receber esse prémio foi um final de 2013 maravilhoso! No entanto, sinto que devo continuar a melhorar mais, pois tenho consciência que os outros artistas e bandas nomeados têm uma expressão e trabalho fortemente reconhecidos pelo Público, e isso tem muito valor também.

A vitória no Ídolos, os seis meses em Londres e o primeiro disco a solo vieram adiar a tua carreira de Engenheiro Florestal ou conseguiste conciliar ambas as actividades?

Bem adiaram um pouco a perspectiva que tinha, que era de ausentar do País, antes sequer de eu saber que tinha sido inscrito no programa. Acabei por utilizar a minha formação no meu projecto infantil editado em Dezembro de 2013, “O Planeta Limpo do Filipe Pinto”.

Entretanto chegamos a 2013 e ao projecto “O Planeta Limpo do Filipe Pinto”. Esta foi uma forma de juntares as tuas duas paixões (o meio ambiente e a música) e de, ao mesmo tempo, ainda contribuíres para o enriquecimento educacional das crianças portuguesas?

Este projecto surgiu de algumas canções melodiosos que eu compunha ao Ukelele e de uma parceria que se veio a firmar com a Betweien para avançarmos com um projecto infantil (mas algo que não fosse só um disco e não tivesse nenhum conteúdo). Assim surgiu um teatro musical resultante de um livro, um jogo, um CD e um DVD. Arrisquei ao nível da carreira ao fazer um projecto infantil logo no segunda edição, mas acho que uma coisa não choca com a outra, e este é um dos muitos projectos que tenciono fazer!

"O Planeta Limpo do Filipe Pinto" fez sucesso entre os mais pequenos!
“O Planeta Limpo do Filipe Pinto” fez sucesso entre os mais pequenos!

Passadas sete edições do livro e quase 200 mil unidades vendidas em três anos é impossível não reconhecer o sucesso deste teu projecto! Filipe Pinto já estás a preparar o novo capítulo desta aventura?

Sim, já estamos a desenvolver um novo fascículo do Planeta limpo! Neste caso será sobre a poluição do Planeta e as energias renováveis. Acreditamos que será também muito interessante desenvolvê-lo pelo País fora!

Musicalmente falando este projecto revelou um Filipe Pinto desconhecido da maior parte dos portugueses. Das letras aos arranjos, ou da voz à componente visual, tudo é, claramente, dedicado aos mais pequenos. Este foi um desafio fácil de superar ou o facto de abordares temáticas diferentes dificultou o processo?

É sair fora da caixa, sim. Acredito que fazer canções para os mais novos não é tarefa fácil, pois eles dão opiniões muito concretas se gostam ou não das canções. Além de que tive de cantar num registo médio agudo difícil, mas que sabia que seria mais próximo das vozes dos mais pequenos.

Por entre tantos concertos, e actividades, com crianças qual foi o episódio mais caricato que te aconteceu?

Houve vários, mas lembrei me agora de um que aconteceu num dos locais a que fomos. Os professores e miúdos fizeram camisolas do Planeta Kimpo para identificarem o projecto! Quase que parecíamos os soldados da paz do planeta limpo! Outro momento engraçado foi quando as crianças subiram ao palco no final do teatro de forma completamente espontânea. A partir daí comecei a fazer isso nas restantes apresentações ao vivo.

E assim chegámos a 2016 e ao teu novo disco! Quando poderemos ouvir este “E Tudo Gira”? Do que trata, e o que inspirou, este teu mais recente trabalho?

O “E Tudo Gira” estará disponível nas lojas no dia 1 Julho e marca toda a passagem que a vida nos dá. Tudo é efémero e giram mil um acontecimentos que nos ligam. E daí se constroem relações, pensamentos e acções. O local que escolhi para a capa do disco foi Bragança pela particularidade de haver lá um banco com rodas. Neste, e em outros bancos, tudo gira: pessoas sentam-se, conversam, pensam, e tudo se movimenta mesmo estando imóveis.

"E Tudo Gira" promete conquistar tudo e todos a partir de 1 de Julho!
“E Tudo Gira” promete conquistar tudo e todos a partir de 1 de Julho!

Os dois singles já conhecidos deste disco (“E Tudo Gira” e “(In)Fortúnios”) possuem uma vertente visual muito interessante. Fala-nos um pouco dos videoclips que acompanham cada um destes temas.

O “E Tudo Gira” remete para o primeiro amor da infância e situa as personagens no jogo das escondidas onde o sonho as transporta numa viagem de cor e poesia. “E tudo gira a quem compra e vende a mentira / E tudo gira a quem te dá uma falsa partida / E tudo fica se nenhum de nós ceder”.

“(In)fortúnios” retrata a superação de obstáculos e da inactividade. “Não fico à espera do que o tempo me dá” é a mensagem central desta canção que através da dança e coreografia da Filipa Sininho e do patinador Emanuel Salvadinho trouxeram ao campo visual respectivamente a beleza e a força desta canção.

Equacionas a possibilidade de colaborar com outros músicos e/ou cantores no futuro? Se pudesses escolher qualquer um em Portugal quem te acompanharia?

É um dos meus objectivos. Mas acho que essas parcerias têm de ser espontâneas e com vontade de cada um dos lados. Não específico nomes pois não acho correto mas existem muitos talentos em Portugal e isso é algo que gostaria que acontecesse.

O que aproxima, e o que separa, o Filipe Pinto de hoje do Filipe Pinto que em 2009 concorreu ao Ídolos porque uns amigos o inscreveram?

O crescimento e a profissionalização desta atividade enquanto cantautor que desejo que perdure mesmo tendo outros objectivos profissionais para a minha vida.

As tuas músicas e letras têm uma mensagem muito forte e marcada. Num mundo recheado de músicas vagas, sem qualquer conteúdo e irritantemente semelhantes e repetitivas, em algum momento tiveste medo que o público não compreendesse o que te move?

O que se torna mais difícil é a exposição do trabalho. Creio que as pessoas têm a sua forma de interpretação e não devemos tratar o público direcionando constantemente as mensagens que pretendemos das canções que escrevemos, devemos deixar ouvir e sentir o que lhes transmite determinada música. As canções vagas ou com semelhanças entre si é difícil de mesurar. Tudo é tão relativo que depende da circunstância e do ambiente onde estamos.

Portugal ainda é um país muito importador (o que não é necessariamente mau dada as influências recebidas), mas a dimensão que os artistas e bandas nacionais dispõem para divulgação do seu trabalho é substancialmente menor, e isso torna tudo um pouco mais difícil mas tende a mudar.

Cantar em inglês é algo que está nos teus planos ou tencionas manter-te fiel à língua portuguesa nos teus próximos discos?

A língua portuguesa é a que me ajuda a exprimir melhor o que sinto, mas não repugno a língua inglesa (até porque já escrevi algumas canções em inglês).

Mesmo que me peçam uma canção em espanhol ou outra língua…porque não!? É um desafio! Mas como artista acho que devo ser coerente nos discos com a língua em que me expresso melhor.

A vida de músico é feita de contrastes: da solidão que envolve a criação e a escrita de músicas e letras em casa ou no estúdio, à apoteose e loucura que pode ser estar em palco em frente a centenas de pessoas, por exemplo. É-te fácil gerir os pensamentos, as emoções e as expectativas ou todos estes altos e baixos (e variações de adrenalina) tornam a tua profissão numa autêntica aventura?

Costumo dizer que quem vive da música tem de procurar ser versátil na forma como interage. Não só nos momentos de solidão, mas também quando lidas com trabalhos menos conseguidos, e ao mesmo tempo tens concertos onde dás a cara e deves procurar ser tu mesmo a estar com as pessoas e chegar a casa e estar com a família. Num mesmo momento as circunstâncias mudam e tens de ter a mente treinada para isso, a psicologia deve estar em pleno, mas umas idas ao consultório não fazem mal nenhum.

Filipe Pinto
Filipe Pinto prepara-se para lançar um novo álbum, o terceiro da sua carreira!

Imagina que encontras uma lâmpada mágica e que essa lâmpada te permite pedir um desejo muito particular e que te garante que nunca ninguém saberá que a usaste. Com um estalar de dedos o génio da música pode fazer com que três músicas (de qualquer cantor/músico do mundo, de qualquer era e de qualquer língua) passem a ser uma criação tua (com todo o prestígio, reconhecimento, lucros e fama que isso traria, claro). Que músicas escolhias e porquê?

Qualquer música dos Queen….gosto de é todas! Não há literalmente uma que não goste! Acho que foram uma banda que nunca mais vai existir nada igual…e o Freddie foi um homem soberbo!

No Ideias e Opiniões somos curiosos por natureza e gostamos tanto de descobrir jovens projectos quanto de ouvir música por isso impõe-se colocar a seguinte questão: na tua opinião que jovens cantores/bandas, portuguesas ou estrangeiras, é obrigatório que o Ideias e Opiniões oiça assim que terminar esta entrevista?

Elias, Prana e João Pequeno.

Que músicas, álbuns ou artistas mais têm rodado ultimamente no teu MP3/Computador/Carro?

Tenho ouvido muito rádio e o CD do “E Tudo Gira” do Filipe Pinto…

Estamos sensivelmente a meio de 2016 por isso esta é a altura ideal para um balanço musical do ano. Na tua opinião qual é, até agora, o melhor álbum nacional e o melhor álbum internacional do ano?

Melhor Álbum Nacional? “Talvez Queiras Ficar” – Elias. Melhor Álbum Internacional não estou tanto a par…mas o trabalho dos Coldplay tem sido excelente!

Onde nos podemos manter actualizados sobre a tua carreira?

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Site:
www.filipepintooficial.com

Canal youtube
https://www.youtube.com/c/filipepintomusica

Agradecimentos: Sérgio Martins e Filipe Pinto.