Entrevistas de emprego pitorescas – Sandra Castro

Andei no último mês há procura de emprego, apesar de já ter um, mas como sou apologista do “quem não está bem que se mude” e do “quem não arrisca não petisca”, resolvi aventurar-me numa mudança profissional. Trocar a minha efectividade, que já não era vantajoso em nada e arriscar numa nova empresa com um contrato de três meses. Sim, sou louca, pensam os leitores! Mas a efectividade nos dias de hoje não representa nada a não ser uns meros tostões,  neste país aonde o desemprego é alarmante. E eu vejo os anos a passarem por mim e  não ter um trabalho qualificado, bem remunerado e na qual eu me sinta feliz e realizada.

Sou uma boa profissional, creio que sim (apesar de nos últimos tempos ter ouvido que não ) na área em que trabalho desde sempre, já tentei outras áreas que não são a minha praia e gostava de tentar ainda outras.

Como referi em cima, fui a três entrevistas de emprego no espaço de duas semanas e vi diferenças grotescas na procura de trabalho de há dez anos atrás, quando tinha 18 anos, e actualmente.

Primeira e grande diferença: as páginas de jornais na parte dos anúncios para emprego são escassas. A secção de relax – anúncios eróticos- já nos ultrapassou no numero de paginas. Provavelmente o motivo de tal coisa é que os anúncios eróticos têm fotos e adjectivos muito apelativos.

Quando tinha 21 anos fui a uma entrevista para a empresa PT, foi a entrevista mais direccionada e correcta em que participei. Foram duas mulheres que nos receberam, apresentaram-se, acomodaram as pessoas em salas, aonde deram informações sobre a empresa e qual era o posto disponível, ordenado, horários, etc. Os interessados permaneceram na sala e realizaram vários testes psicotécnicos. Fui chamada duas semanas depois.

Aos 22 anos, entrevista numa empresa nacional, a Sonae, com uma gerente de recursos humanos simpática, acolhedora, que leu atentamente o meu currículo, e me falou de alguns aspectos da sua vida privada e do seu trabalho. Nesse mesmo dia fui enviada para o local aonde ia trabalhar.

El Corte Inglês, uma selecção rigorosa dos candidatos através de vários testes de aptidões e analises clínicas, e mais uma vez, uma voz feminina a dirigir as entrevistas,  muito correcta e profissional. Contactaram-me três semanas depois.

Quando tinha 23 anos fui a uma entrevista para um estabelecimento comercial, uma confeitaria no centro do Porto, o fulano recebeu-me no balcão, no meio dos clientes, com um bloco na mão ( aqueles blocos em que rasgamos facilmente as folhas),e colocou-me duas perguntas: como me chamava e se tinha experiência na área. Sim, tenho três anos de experiência! Nós precisamos de uma pessoa com muita experiência, três anos é pouco…ainda hoje vem anúncios no jornal para essa confeitaria…concluo que a experiência não é o mais importante!

As duas ultimas entrevistas de emprego a que fui foram uma total desilusão, sinal dos tempos difíceis que se vivem neste país.

No centro do Porto, uma confeitaria snack-bar, procura-se empregadas de balcão e mesas, ora lá fui eu, depois de um dia chato e stressante de trabalho. Fui mal recebida pelo gerente (que pela pinta tinha a mania que era o maior, mas era o maior em feiura), atendeu-me no balcão com o bloco da praxe na mão (já bastante preenchido), respondi com simpatia às questões que me colocou, quando lhe expliquei a minha situação profissional e quais as minhas funções na empresa, gozou comigo, sim, gozou comigo o imbecil! Saí da entrevista tão chateada e triste comigo mesma, porque deixei um idiota que se calhar percebe do ramo menos do que eu, mas é gerente porque tem um canudo ou o pai é o dono da loja, me rebaixasse. Devia o ter mandado à merda! Assim talvez me ligasse para trabalhar…

A penúltima então foi de assombro. O senhor também me atendeu no balcão (deve ser norma das empresas deste ramo) e só me colocou três questões: Tem experiência? É casada? Tem filhos? Eu fiquei tipo: what fuck?!!! Mas eu venho trabalhar sozinha! Não venho com o meu marido nem com os meus filhos! Ou se calhar enganei-me no anuncio, será que estava a concorrer para um posto chamado: acompanhante do patrão!?!! Mas o melhor de tudo foi o senhor espertalhão ter dito que ligava para trabalhar já na próxima segunda-feira! Já passaram algumas segundas-feiras…ora, isso não se faz! Dar a certeza de que temos o emprego e depois não nos contactam é de uma frieza incrível. Imaginem uma pessoa desempregada, sente naquelas palavras uma esperança, que na realidade não existe. Outro paspalho.

Eu não quero marcar a minha posição de feminista voraz, mas as melhores entrevistas e aquelas que me contactaram em seguida, foram conduzidas por mulheres. As mulheres entendem a nossa posição social, os horários complicados, o que temos de abdicar, basicamente compreendem-nos, que é uma qualidade que os homens entrevistadores não tinham. Mas sobretudo as mulheres sabem que uma mulher é uma mais valia numa empresa, diria até que é o sucesso da mesma.

Crónica de Sandra Castro
Ashram Portuense