Época 2013/2014, ano encarnado!

Conforme prometi há duas ou três semanas atrás, volto ao comentário futebolístico, para fazer a minha humilde e parcial análise aos resultados desta Época 2013/2014, ano encarnado!

Como já se previa, este foi o ano encarnado interrompendo, o Benfica, mais uma série de triunfos tripeiros. Este acontecimento é cíclico, uma vez que nos últimos 30 anos, tendo o FC Porto dominado a cena no futebol sénior nacional, tem existido sempre um ano ou dois de interregno de vitórias por parte do clube do norte, que normalmente sucedem a uma série de boas épocas, as quais fazem valorizar os seus quadros, principalmente os melhores, que são cobiçados por emblemas europeus mais poderosos financeiramente e dispostos a “bater a chapa” das chorudas cláusulas de rescisão sabiamente negociadas pelo seu presidente. Estas interrupções já foram feitas por Benfica em meia dúzia de vezes, por Sporting por duas vezes e por Boavista por uma vez. Isto, no que diz respeito ao Campeonato/Liga. Já no que diz respeito à Taça de Portugal, houve uma maior variedade de clubes intervenientes que a conseguiram conquistar. A Supertaça portuguesa, também tem sido dominada pelo FC Porto na grande maioria das épocas, sendo que mais recente Taça da Liga tem sido dominada por SL Benfica (5 vitórias em 7 edições) e o FC Porto não ainda qualquer destes “canecos”. A nível europeu, o futebol português tem-se mostrado bastante competitivo, sendo que esta época, ultrapassámos inclusive, em pontuação, a agrade e temível Itália, principalmente graças às boas épocas de Porto e Benfica na Europa nos últimos anos, não esquecendo também o surpreendente Braga – não esta época, mas nas anteriores. É muito difícil para os nossos clubes irem muito longe na Liga dos Campeões, porque aí a concorrência com orçamentos imensamente maiores, ditam saídas prematuras da prova, mas no novo formato da Liga Europa, os clubes portugueses têm dado cartas, sendo que o FC Porto já ousou essa conquista, o SL Benfica tem recentemente duas finais e uma meia-final vencidas, assim como o SC Braga, que também soma uma final vencida.

Para o Benfica, esta foi uma época de sonho, tendo lutado em todas as frentes até ao fim, conquistado três títulos e perdido a final da Liga Europa contra um Sevilha perfeitamente ao alcance dos encarnados, que só a atuação – sobejamente conhecida e comentada – do ábitro alemão, não permitiu que o clube português saísse vencedor de todos os troféus em que esteve envolvido. Terá ainda direito a disputar com o Rio Ave mais uma vez a Supertaça no início da próxima época, portanto, terá a hipótese de somar mais um título “trabalhado” nesta época de 2013/2014.

Este ciclo interrompido de vitórias do FC Porto porém, parece-me que se reveste, desta vez e, ao contrário de outros ciclos nos últimos trinta anos, de contornos diferentes, uma vez que, para além do fracasso desportivo e psicológico do FC Porto, nota-se também um clima de desgaste no modelo de gestão levado a cabo pelo presidente do clube nortenho e, ao invés, nota-se também um crescendo de resultados, por parte do Benfica, não só a nível desportivo, como a nível anímico e de governação, implementados com insistência por este presidente que, ao longo destes anos em que está no clube com as suas funções, conseguiu levar a cabo: saneou as finanças do clube (apesar do passivo ainda grande, mas estável e confiável); apostou numa formação a sério (academia), que já está a dar frutos, com diversos jogadores da sua formação a militar com titularidade na equipa principal e com a sua equipa júnior a disputar a final da Liga dos Campeões de júniores (1.ª edição este ano) com o Barcelona, que perdeu, mas atingiu; é o clube do mundo com maior quantidade de sócios; possui um complexo desportivo de qualidade para as modalidades; condições ímpares em Portugal para os seus atletas; consegue encher por diversas vezes numa época o estádio, que é o maior em Portugal e um dos maiores da Europa e trás satisfeitos os seus adeptos e simpatizantes. Parece que conseguiu rodear-se das pessoas certas – após alguns erros nos primeiros anos – para conseguir obter os necessários sucessos desportivos e, contra muitos, manteve a aposta no treinador após uma dececionante época passada, em que também podia ganhar quase tudo até ao final e tudo perdeu aos 92’…

Quanto ao Sporting, após alguns anos de más classificações no campeonato/liga, reaparece como grande candidato a voltar a disputar títulos, depois de partir para um ano contando com uma equipa maioritariamente formada por atletas da formação, muito novos e com pouca experiência, mas que tiveram no mister Jardim o mentor necessário, que catapultou o clube para os lugares cimeiros, tendo até muito cedo – o que não é hábito – assegurado uma presença na Liga dos Campeões do próximo ano. Parabéns à equipa diretiva, técnica e desportiva do Sporting pelo feito importante, inesperado e atingido com um orçamento tão longe dos outros clubes “grandes”.

Por falar em “grandes”, a grande deceção da liga deste ano foi de facto o SC Braga, que nos últimos anos tinha conseguido conquistar um lugar entre “os grandes” e que, nesta época, ficou quase a meio da tabela. Ao invés, o Estoril que aparece quase do nada, em duas épocas consegue uns notáveis 5.º e 4.º lugares respetivamente, duas presenças na Europa e o reconhecimento e respeito dos seus adversários.

No que toca ao futuro, prevejo épocas mais renhidas com mais clubes a disputar os primeiros lugares nos próximos tempos. Não me parece que o FC Porto surja na próxima época com muito maior preponderância do que a época agora finda, uma vez que deixou sair os seus melhores ativos dos últimos anos e não teve imaginação suficiente – como era habitual – para substituir as pedras fundamentais. Já com o Benfica, isso não sucedeu: quase não se notaram as saídas importantes do final da época passada, assim como de Matic a meio desta época. “Não joga o Matic, joga o Manel…” – dizia Jorge Jesus e, de facto, não se enganou muito. Para o Benfica, há deverá embandeirar em arco, porque os adversários continuam a ser temíveis, não se sabe o que poderá trazer de novo o treinador espanhol contratado pelo Porto e quanto ao Sporting, confirmada que estará a contratação do treinador do Estoril, poderá continuar o trabalho de sucesso de Leonardo Jardim, de malas aviadas para o milionário Mónaco.

Agora, é tempo de defeso, de férias e de pensar e acompanhar e apoiar a seleção portuguesa no Mundial, esquecendo para já rivalidades, uns acalmando a euforia, outros enxugando as lágrimas e outros ainda esfregando as mãos para a preparação da próxima época.

Para a próxima época, daremos ainda as boas vindas ao tradicional Boavista, assim como teremos mais 4 jogos para cada clube, uma vez que haverá alargamento para 18, portanto, para os que forem às finais, poderão vir a disputar 60 ou mais jogos na época, o que é obra…

Desta vez, como quase sempre, venceram os que persistiram até ao fim, com garra, com querer, com mentalidade elevada, muito trabalho e pouca conversa. Talvez estes sejam mesmo os ingredientes para que apresentar um bom trabalho, não só no desporto e no futebol em particular, mas em tudo na vida!

 

Crónica de Rafael Coelho
A voz ao Centro