Era de Madeira o meu pião!

Era de madeira o meu pião, gasto pelo tempo e por tanta pancada que levou!

A faniqueira em corda de linho, sempre bem enrolada, como se fosse um abraço, antes do impulso, antes de o mandar ao chão.

“Vamos ver qual fica a rodar mais tempo!” Gritavam…

Desafio lançado e aceite pois então.

Questão de jeito, talento ou talvez não!

“Peguei-lhe mal, saiu-me da mão!”

Sacana do pião, bateu na parede e parou.

Perdi tantos desafios, ganhei outros tantos, gritos, histéricos da pequenada, como se os gritos fizessem o pião rodar mais…

Mas não!

Passei algumas tardes, a “treinar” sozinho, para conseguir ganhar na roda do pião, tantas vezes na parede bateu, amassado e com a ponta de aço o chão riscou!

Dentro de casa, a minha mãe não me deixava brincar com o pião, ela sabia, que a qualquer momento o pião saía disparado contra o móvel ou contra a cristaleira!

100 Escudos, salvo erro, custou-me o primeiro, as faniqueiras eram baratinhas, quando por alguma razão rebentavam ou se perdiam, lá ia eu à drogaria cá do sítio, ainda tentei com a corda da minha mãe estender a roupa, não deu e não ganhei nada a não ser uma chineladas por ter estragado a corda!

Na quelha, na minha quelha, entre muitas aventuras e brincadeiras, faziam-se campeonatos de pião, até que o lampião da rua acendesse!

Era hora de guardar o pião, na faniqueira abraçado!

Belos tempos, bela infância…

A minha infância!

Não se esqueçam de recordar e sonhar porque a vida é feita de sonhos!