Era uma vez…a família Carvalho – Sandra Castro

Caros leitores, tenho a honra de vos apresentar a família Carvalho. Com um núcleo composto por 7 pessoas (o numero do azar é mera coincidência), os avós Carvalho, a mãe Helena, o pai João, a tia Ester e os filhos Carolina e Ricardo, esta família portuense representa o melhor das famílias portuguesas. Respeito, bondade, amizade e amor são palavras existentes no dia-a-dia desta linhagem perfeita.

O que vos relato a seguir é um jantar de família, feliz, harmonioso e divertido como só os Carvalho o conseguem ser.

Dia 3 de Setembro de 2013, 20 horas e 15 minutos, sete pessoas à volta da mesa.

Cardápio: Cozido à portuguesa, sopa de penca, vinho branco, cerveja Super Bock e de sobremesa bolo de bolacha.

O jantar está servido…bom apetite!

-Pai, mãe, avós, tia Ester…tenho uma coisa para vos contar.

O Filipe que costuma vir aqui a casa muitas vezes é o meu namorado. Eu sou gay…

– Mas que porra de merda é esta? Estás a brincar comigo? O Filipe? Foi ele que te pôs assim?

– Assim como, pai? Eu sou gay desde sempre! Gosto de homens, qual é o problema?

– Filho não fales assim para o teu pai! É uma noticia muito chocante para uma hora destas, filho! Carolina, sabias deste problema do teu irmão?

– Dah, mãe, problema?!!! Não sei aonde está o stress! O Ricardo é homossexual, e daí?

– Não quero um filho paneleiro! Põe-te a andar daqui para fora! Vai-te curar e depois voltas!

– Estás a expulsar-me de casa pai?

– Fora desta casa paneleiro de merda! Fora!

– João, não faças isso ao nosso filho!

– Cala-te! A culpa é toda tua, tantos mimos e beijos ao miúdo deu nesta merda!

O Ricardo foi embora, o ambiente ficou tenso. Recomeçaram o jantar…

– Pai, mãe, avós, tia Ester…já que estamos em maré de confissões, também tenho uma coisa para vos contar..

– Vais nos dizer que gostas de gajas? Ah ah ah…

– Tia Ester, agora não é hora para brincadeiras! Eu estou grávida…

– O quê? Filha, mas tu és virgem! Como é que isso aconteceu?

– Mas que porra de merda é esta? Que se passa com vocês hoje?  Tu tens 14 anos, foda-se! Não vais para a escola estudar? Tens muito que me explicar Carolina!

– Filha eu não entendo, nunca falaste comigo! Eu nunca te dei preservativos, nunca te deixei sair depois das onze da noite! Como é que é possível? Ai meu Deus, é a desgraça a cair na nossa família!

– Fora desta casa, sua vadia! Eu sou teu pai e não vou admitir uma filha grávida adolescente na minha casa! És uma vergonha par mim! Fora.

A filha sai de casa lavada em lágrimas…

–  A culpa é tua! Sempre a incentivares a tua sobrinha a dar uns beijos, a sair à noite, a ir para o facebook e deu nisto! Como é que vai ser, minha nossa senhora? Ela tem de abortar!

– A minha sobrinha é que vai decidir se quer o bebé! Essa decisão só lhe compete a ela! E ninguém engravida pelo facebook, sua anta! Talvez se vocês fossem pais mais presentes isto não acontecia!

– Ai sim, Ester? E tu devias arranjar um emprego e um marido, porque estas encalhada na MINHA casa há dois anos! Nós e os teus pais a sustentar-te e não vejo forma de te pôr daqui para fora!

– Não te esqueças querido cunhado, da divida que tens para comigo no valor de 7562 euros! E eu não vejo forma de a pagares, seu presunçoso da merda! E eu não fico nesta casa nem mais um minuto! Mas vou te deixar um conselho! Em vez de pores os cornos à minha irmã constantemente, presta mais atenção aos teus filhos!

– Mana, porque é que estas a dizer isso agora, depois de tudo o que já ouvi hoje? Não vês que já estou alterada o suficiente?

– Helena, eu adoro-te irmã, mas está na hora do teu querido marido te dizer o que andou a fazer nos últimos dois anos. Vou-me embora!

– João, desembucha antes que eu também saia por aquela porta!

– Helena…eu tenho outra mulher! E outro filho também…

– Não, não, não! Isto não está a acontecer! Diz-me que é um pesadelo! Mas porquê, João? Em que é que eu falhei?

– Helena, tu só vivias para os miúdos, para a casa, para o trabalho. Desleixaste-te, já não estás atraente como antes. Eu deixei-me levar e aconteceu…

– Eu fiz tudo por ti, prescindi de um cargo de directora na firma para poder passar mais tempo convosco! Prescindi das saídas com as minhas amigas para poder estar convosco! Tinha sempre o jantar pronto, a roupa lavada e passada, a casa arrumada, a tua marmita e fato prontos para o dia seguinte.Como pudeste fazer isto comigo? Eu não merecia! Rua! Desaparece da minha frente!

– Eu volto…com os papeis do divorcio…

Ainda nessa noite, a avó e o avô Carvalho com toda esta situação sentiram-se mal e foram por precaução para o hospital.

Helena ficou sozinha em casa, a enxaguar as lágrimas, confusa com tudo o que acabara de acontecer, sentada na mesa ainda posta.

Assim foi o  jantar de família! Feliz, harmonioso e divertido como só os Carvalho o conseguem ser.

Crónica de Sandra Castro
Ashram Portuense