Era uma vez no cinema: Batman vs Superman: Dawn of Justice

       A partir de hoje será atribuida uma classificação a cada filme numa escala de 1 a 10!

       Pela primeira vez na história do cinema, dois dos super-heróis mais famosos e queridos do público, Batman e Suerman, estão juntos num único filme. Os dois heróis mais ricos em termos cinematográficos, tendo em conta que já foram produzidos dez filmes em torno do homem-morcego e seis sobre o Superman, mas nunca antes tinham partilhado a tela. A confirmação do projecto por parte da Warner Bros. originou uma onda de entusiasmo e exultação que no fundo se justificavam. O realizador Zack Snyder, cineasta algo irregular, sendo capaz de assinar filmes de qualidade como “Watchmen” e “300”, mas também obras fracas tal como “Sucker Punch”, foi rapidamente escolhido para o cargo de realizador. Decisão algo controversa visto que o trabalho de Snyder no filme de apresentação do Superman de Henry Cavill, “Man of Steel”, foi abaixo das expectativas. A grande dúvida era agora quem iria dar vida a Bruce Wayne, escolha que recaiu sobre Ben Affleck. Aqui sim, a revolta dos fãs foi audível, chegando ao ponto de serem lançadas petições e organizadas manifestações contra a escalação do actor. Com maior ou menor indignação, Snyder, Cavill e Affleck manteram-se naturalmente no projecto e este iniciou a sua produção sem grandes sobressaltos. “Batman vs Superman: Dawn of Justice” não é o desastre que já li em variados sítios, mas poderia e deveria ser bastante melhor.

       A história decorre dezoito meses após os acontecimentos de “Man of Steel”, episódios esses que chamaram a atenção de Bruce Wayne / Batman, que no desconhecimento das intenções do Superman, começou a temer as consequências que um poder como o dele poderia causar no mundo. Ao mesmo tempo que o conflito entre Batman e Superman aumenta de tom, Lex Luthor prepara um plano que pode colocar em risco toda a civilização.

       Existem assim tantas razões para “Batman vs Superman: Dawn of Justice” estar a ser completamente arrasado pelos críticos? No geral, há umas quantas que se apontam facilmente, mas já se viu bem pior vindo dos estúdios da Marvel (como filmes da saga “Iron Man” e “Thor”) e mesmo assim serem alvos de elogios. “Batman vs Superman: Dawn of Justice” é uma obra pouco esclarecida, algo confusa nas suas decisões e desenvolvimento, dando a entender que Snyder tentou chegar a todo o lado mas que acabou por não ter sucesso com essa escolha. Se os primeiros 2/3 do filme, embora contenham algumas cenas deslocadas e com pouca conexão entre elas, são de uma qualidade aceitável, a sua última parte é um desastre. Inexplicavelmente, as cenas de acção passam completamente ao lado do espectador, que nem no confronto de Batman e Superman consegue promover sequências de luta corpo a corpo decentes e plausíveis. O uso excessivo de CGI (Computer Graphic Imagery) é absurdo, tornando todo o clímax um verdadeiro anticlímax, não conseguindo suscitar qualquer tipo de emoção e adrenalina a quem assiste. É quase um desperdício ver o fenomenal trabalho do músico Hans Zimmer, um génio que já foi responsável pela banda sonora da trilogia “The Dark Knight”,“Interstellar” e muitas outras, como tom de fundo deste filme de Snyder (a música associada à Wonder Woman é viciante). Outro ponto que no passado já nos demonstrou ser fatal nos filmes deste género é o mau desenvolvimento do seu vilão. Quando pensamos nos melhores exemplares de filmes de super-heróis verificamos que possuem todos vilões inesquecíveis, que praticamente roubam o protagonismo aos próprios heróis, como é o caso do Joker de Heath Ledger e Jack Nicholson, o Pinguim de Danny DeVito e o Bane de Tom Hardy. O Lex Luthor de Jesse Eisenberg está abaixo do que se exige a um grande vilão num filme de super-heróis.

       Nem o elenco luxuoso de “Batman vs Superman: Dawn of Justice” consegue salvar a obra, mas onde mesmo assim se conseguem retirar interpretações positivas e promissoras. Começo por Henry Cavill, um actor que tarda em afirmar-se como o Superman e eu digo isto porque me sinto sempre distante do seu Clark Kent, o que não é muito benéfico para o trabalho de Cavill. Sobre Jesse Eisenberg, tal como já tinha referido no parágrafo anterior, não me convenceu com o seu Lex Luthor. Amy Adams, apesar da personagem deveras clichê, acrescenta beleza e qualidade em todas as suas intervenções, enquanto que Jeremy Irons também faz um trabalho tranquilo que corresponde ao que é pedido quando se interpreta o fiel mordomo Alfred (confesso que prefiro o de Michael Caine). Um dos bons destaque no elenco é Gal Gadot na pele de Wonder Woman, que aproveita o pouco tempo em cena para mostrar que é uma personagem interessante se for bem trabalhada no futuro.

       Decidi fazer um parágrafo únicamente para falar do Bruce Wayne de Affleck porque acho justo destacar o seu trabalho dos demais. O actor carregava o fardo de ser o primeiro Batman depois de Christian Bale, que como todos sabemos foi um dos melhores ou mesmo o melhor homem-morcego no cinema. Para além disso, Affleck já tinha tido uma experiência infeliz no mundo dos super-heróis quando protagonizou o horrível “Daredevil”, algo que certamente foi uma das causas para o descontentamento de muitos com a escolha do actor para este papel. Eu gostei muito do Batman de Ben Affleck! Creio que é de longe a melhor coisa que “Batman vs Superman: Dawn of Justice” nos oferece e aí o actor tem muito mérito. Este consegue contruir superiormente um Batman sombrio, amargurado, visivelmente desgastado e ainda acrescentar uma dose de violência que não estávamos habituados a ver no herói. Fico com a sensanção que com Affleck na realização, onde ele é melhor do que no campo da representação, existe muita potencialidade para uma nova trilogia de qualidade do vigilante de Gotham. Acreditem, Ben Affleck é um óptimo Batman!

       “Batman vs Superman: Dawn of Justice” tinha o dever de ser muito mais do que acabou por ser, mas se há algo que podemos tirar de positivo da obra de Zack Snyder é que consegue apresentar alguns personagens com capacidade de originarem projectos de categoria (a apresentação do Flash de Ezra Miller e o do Aquaman de Jason Mamoa foi muito bem conseguida). Apesar de tudo o que este filme representa de mau, creio que o caminho para a “League of Justice” está numa boa direção. Vamos é esperar que Zack Snyder, uma vez que não aprendeu com os erros cometidos em “Man of Steel”, consiga entender agora o que voltou a dar errado em “Batman vs Superman: Dawn of Justice” e entregue-nos futuros filmes à altura da dimensão destes super-heróis!

5.5/10