Era uma vez no cinema: Bridge of Spies

         É justo afirmar que Steven Spielberg já não tem o fulgor de outros tempos, porém continua a entregar trabalhos decentes, não brilhantes, mas de qualidade. Longe vão os tempos do eterno “Jurassic Park”, do soberbo “Jaws” e do épico “Schindler’s List”. Neste século já nos trouxe o óptimo “Munique”, mas é incontornável que o nível da sua filmografia mais recente baixou (“War Horse” e “War of the Worlds” são uma amostra disso), algo que também é normal devido aos já 69 anos do realizador, natural de Cincinnati. Em “Bridges of Spies”, Spielberg continua na toada dos últimos anos, tratando-se de um bom filme, contudo está longe de ser extraordinário.

         Baseado em factos reais, a trama acompanha a verídica troca de espiões entre os Estados Unidos da América e a União Soviética na ponte de Glienicker, em Berlim. Toda a história é nos contada maioritariamente sob o ponto de vista de James B. Donovan, o advogado de seguros que “negociou” a troca pelo lado dos norte-americanos. Durante toda a sua carreira, Steven Spielberg sempre gostou de trazer acontecimentos reais e marcantes na história da humanidade para o cinema, e foi com eles que alcançou alguns dos maiores êxitos da sua carreira.

          “Bridge of Spies” é um filme muito bem estruturado e de uma técnica irrepreensível, mas nunca consegue aproximar-se do público. Este é de facto o grande problema do filme, este jamais emociona e cria tensão a quem o assiste. Ou seja, é uma obra que não cria um verdadeiro impacto no espectador, tornando-se facilmente esquecível poucos minutos após a sua visualização. No entanto, é preciso frisar que não se trata de um mau filme, pelo contrário, é um filme razoavelmente bom. O argumento é bem desenvolvido, onde se nota perfeitamente o trabalho dos irmãos Coen, não sendo ao acaso que o mesmo está nomeado ao Óscar de Melhor Argumento Original. Tal como a fotografia, vestuário e banda sonora, que ajudam a que seja criado um ambiente digno da época em que é vivido. É verdade que está presente aquele patriotismo típico dos filmes de Spielberg (mais um herói americano, claro), no entanto, não é tão evidente como em outras obras do realizador, pois existe aqui e ali algumas críticas ao povo americano. “Bridge os Spies” é aquele tipo de filmes em que praticamente não existe erros técnicos, muito bem filmado, mas que peca por não ir mais além e não marcar uma posição.

            O elenco também serve para embelezar a obra. Tom Hanks é daqueles actores que independentemente do papel raramente decepciona. É um bom actor e esta sua interpretação de James B. Donovan é só mais uma de qualidade no meio de tantas outras. Ainda assim, o maior destaque no elenco vai para Mark Rylance, um actor praticamente desconhecido para o público (incluindo a minha pessoa). Através da sua interpretação muito bem conseguida, este transforma o seu Rudolf Abel numa personagem interessantíssima de acompanhar. Mark Rylance já levou mesmo alguns prémios para casa graças ao seu trabalho em “Bridge of Spies” e está no lote de nomeados ao Óscar de Melhor Actor Secundário. Mesmo assim, se defendo que é uma boa actuação do actor britânico, também me parece que não é digna de um Óscar. No restante elenco, não há muito mais a assinalar, a não ser o desempenho eficiente de Amy Ryan.

       “Bridge of Spies” é um filme indicado em seis categorias aos Óscares de 2016, incluindo de Melhor Filme (é questionável a sua nomeação), algo que por si só já é mais que suficiente para que mereça ser visualizado. Não é o regresso ao Spielberg de outros tempos, porém não é de forma alguma uma mancha no excelente currículo de um dos grandes realizadores ainda em actividade.