Era uma vez no cinema: Deadpool

       No meio do Universo Marvel, entre o vasto número de heróis e vilões, há um que consegue destacar-se pela sua irreverência e excentricidade, um tal de Deadpool. Estas características que o afastam do modelo generalizado de super-heróis fizeram de Deadpool uma das personagens mais adoradas da banda desenhada, sendo por isso natural todo este entusiasmo em torno do primeiro filme a solo do herói. A pobre passagem de Deadpool no fraquíssimo “X-Men Origins: Wolverine” foi uma desilusão para os fãs, que “exigiam” um filme à altura da importância da personagem, desejo que é agora finalmente concretizado. Um dos grandes responsáveis por este regresso de Deadpool é Tim Miller, perito em efeitos especiais, que aos cinquenta anos faz a sua estreia como realizador em “Deadpool”. Uma estreia promissora para Miller, visto que conseguiu quebrar o recorde de maior bilheteira e de filme mais lucrativo realizado por um realizador estreante.

       “Deadpool” relata a história de Wade Wilson, um homem que divide o seu tempo entre pequenos “trabalhos” de ética discútivel e a sua cara metade, Vanessa. A tranquilidade dos dois vai ser abalada quando Wade descobre que tem um cancro em fase terminal, algo que naturalmente vai modificar o quotidiano do casal. Eis que Wade é abordado por um sinistro homem que promete curá-lo da doença e ainda dotá-lo de poderes que qualquer homem invejaria. Receptivo ao início, Wade acaba por aceitar submeter-se ao “tratamento” proposto, o que vai mudar a sua vida para sempre, transformando-o no Deadpool.

       Antes demais, é preciso enquadrar “Deadpool” no cenário actual dos filmes de super-heróis. Vivemos numa era em que os projectos que envolvem super-heróis se multiplicam, com inúmeras estreias todos os anos e quase todas elas a seguirem modelos narrativos muito semelhantes, algo que começa a promover algum cansaço e a necessidade cada vez maior de trazer algo novo ao género. Tudo isto tem uma explicação muito simples, é que se trata de uma indústria bastante lucrativa, que alia dispendiosas campanhas de marketing a uma enorme legião de fãs para conseguir bilheteiras fantásticas em quase todos os seus produtos. Alguns filmes da saga “X-Men” e a trilogia “The Dark Knight” de Christopher Nolan conseguiram marcar a diferença no mundo dos heróis e nesse campo, “Deadpool” traz alguma frescura e originalidade ao género. Quando nos dispomos a ver “Deadpool” é necessário que tenhamos a noção do tipo de filme que se trata, ajustar o nosso espírito e expectativas a isso, pois aquilo a que “Deadpool” se propôs, o humor ácido e politicamente incorrecto, cumpre com nota positiva. Ninguém esperava que “Deadpool” fosse um grande estudo de personagem como os Batman de Nolan ou uma abordagem séria aos problemas da actualidade como a xenofobia em “X-Men”. Não, “Deadpool” é uma comédia recheada de sarcasmo e ironia como era esperado e nada mais que isso. A história é fraca e banal, não existe grande importância na construção das personagens, mas diverte e muito (embora nem todas as piadas funcionem) durante os seus 108 minutos.

       O grande destaque do elenco vai obrigatoriamente para Ryan Reynolds. O actor que já tinha tido uma passagem pouco feliz pelo mundo dos super-heróis em “Green Lantern”, parece ter encontrado em Deadpool uma personagem que encaixa na perfeição no seu perfil. É bem visível o enorme gozo que dá a Reynolds dar vida ao carismático Deadpool. O restante elenco cumpre o seu papel de forma mais ou menos eficiente.

       “Deadpool” está longe de ser um grande filme, mas era uma obra necessária no parâmetro actual, sendo um projecto revigorante e essencialmente eficaz. Com a sua sequência já assegurada para um futuro próximo, resta esperar que o segundo filme pelo menos consiga manter a vertente cómica apresentada neste primeiro. “Deadpool” é o que chamo de puro entretenimento!