Era uma vez no cinema: Everest

            Há certos momentos numa carreira, seja ela de um cineasta ou outra profissão qualquer, em que é preciso dar o salto para outro patamar. “Everest” era uma grande oportunidade para Baltasar Kormákur marcar uma posição na indústria, para mostrar que realmente consegue fazer cinema de qualidade e com identidade, mas continua a não conseguir que os seus filmes sejam mais do que obras banais e facilmente esquecíveis. Como é óbvio, a carreira de alguém não tem um prazo de validade e o realizador islandês poderá muito bem ainda elevar o nível do seu cinema, todavia, é de recordar que este já trabalhou com óptimos actores e orçamentos avultados sem nenhum resultado assinalável.

               Baseado em factos verídicos, a trama acompanha a trágica subida de um grupo de alpinistas e turistas ao topo do monte Everest, em 1996.  Na primeira hora, são apresentadas todas as planificações e preparativos da subida, tal como as inúmeras personagens do enredo. Um dos grandes problemas do filme é exactamente o excesso de personagens em tela. As muitas personagens estereotipadas e insignificantes  tiram espaço a uma construção adequada das personagens principais. Na altura em que os acontecimentos fatídicos começam a acontecer, chegamos ao ponto de praticamente nem reconhecer quem morreu e sobreviveu, de tantas que são as personagens apresentadas nas duas horas e meia de filme . Mas os erros de “Everest” não se resumem apenas ao excesso e má construção das suas personagens. A sua composição dramática também é terrível. Kormákur nunca consegue arranjar um equilíbrio na construção dramática da obra, derivando de situações completamente amenas para outras com uma vertente dramática completamente excessiva, e nem mesmo as cenas mais dramáticas criam o impacto desejado, visto que as personagens são de tal forma desinteressantes, que o público quase que não sente nenhuma compaixão por elas. O argumento também é sofrível, repleto daquelas frases clichê que qualquer espectador mais atento antecipa com facilidade.

               No entanto, há que realçar que visualmente “Everest” é um espanto (também era o mínimo). Como assisti em IMAX, toda a espectacularidade e imponência das paisagens são ainda mais realçadas. Este formato ajuda também a que algumas (poucas) cenas de suspense sejam bem sucedidas, como é o caso da cena da escada com a personagem interpretada por Josh Brolin. No meio disto tudo, há ainda espaço para uma clara crítica ao mundo dos negócios. Do aproveitamento de qualquer situação para promover riqueza, embora muitas das vezes esses negócios sejam construídos com base na irresponsabilidade e desumanização, como é o do caso apresentado no filme.

               Jason Clarke, Jake Gyllenhaal, Keira Knightley, Josh Brolin, Sam Worthington, Michael Kelly, John Hawkes e Robin Wright, são alguns dos actores que pertencem ao elenco de “Everest”. Sim, é um elenco extraordinário que se vê poucas vezes num filme, mas mesmo assim, nenhum consegue ter uma prestação transcendente. Não é que estejam mal, mas as personagens que vivem são tão vazias que é difícil fazer um grande trabalho com elas. Um autêntico desperdício de talento, vejamos o exemplo de Robin Wright e Keira Knightley, que juntas têm cerca de 5/10 minutos em cena. Incompreensível!

               As expectativas eram altas para “Everest”, pois tinha tudo para ser um dos grandes filmes do ano, mas acabou por ser uma das grandes desilusões deste ano cinematográfico!