Era uma vez no cinema: Legend

       Como grande apreciador das qualidades de Tom Hardy, no dia em que vi pela primeira vez o trailer de “Legend”, pensei que algo muito bom vinha a caminho. Hardy a fazer de dois gémeos gângsteres! Como poderia dar errado? Infelizmente, “Legend” está bem perto de ser um desastre. Trata-se de um filme completamente vazio que só é suportável graças a um grande Tom Hardy. Brian Helgeland é um bom argumentista (o que é ainda mais de estranhar ter escrito um argumento que seja tão pobre) , com provas dadas no mundo do cinema, com o Óscar ganho pelo seu trabalho em “L.A.Confidential” e ainda a indicação no filme “Mystic River”. No entanto, como realizador, Helgeland tarda a singrar. Agora, num filme sobre a máfia, um género que normalmente é muito bem recebido tanto pela crítica como pelo público, e que já nos entregou alguns dos maiores clássicos da história do cinema, o realizador/argumentista americano volta a dar um passo atrás na sua carreira como realizador.

       Pegando na história verídica dos gémeos Kray, famosos gângsteres britânicos das décadas de 1950 e 1960, Helgeland entrega-nos uma obra completamente desnecessária e desinteressante. Um filme de personagens rasas e de um apuro técnico preguiçoso e desleixado. Esta é a frase que melhor resume este “Legend”. É um filme que nunca define qual o caminho a seguir, perde-se num aglomerado de histórias desinteressantes e deslocadas, o que faz com que no fundo, acabe por parecer mais um romance que outra coisa, tal não é o foque no relacionamento entre Reggie e Frances. Não existe uma construção precisa e aprofundada das personagens, algo que é bem notório na personagem de Ron, o gémeo que sofria de esquizofrenia, que é bastante mal trabalhado. O argumento é fraco, onde quase nunca consegue construir diálogos interessantes, sendo estes do mais cliché e superficial. Ao nível da parte mais técnica é visível um trabalho preguiçoso, para não dizer incompetente. Nunca é criado um ambiente fidedigno de Londres nos anos de 1950 e 1960, algo completamente inaceitável para um filme deste tipo. Tal como as cenas com os dois gémeos, em que raramente vimos ambos ao mesmo tempo, algo que representa muito bem a falta de perícia presente nesta obra. Não há desculpas para tais desleixos!

       A única coisa que faz valer a visualização do filme é o óptimo trabalho de Tom Hardy. Na última crítica, já lhe tinha feito rasgados elogios e “Legend” só comprova como eles são merecidos. Tal como já nos tem habituado, brinda-nos com mais uma actuação de grande nível. Não é nada fácil conseguir interpretar dois gémeos, mas é ainda mais difícil fazê-lo de forma a que quase pareça que são dois actores e não um. Os movimentos do corpo, as facetas, as vozes, tudo é muito bem conjugado na performance de Hardy, que diferencia tão bem uma personagem da outra, algo que só está ao alcance dos melhores actores! É um dos maiores talentos em ascensão em Hollywood, e será certamente um dos nomes mais falados na indústria nas próximas décadas. No elenco secundário, a interpretação de Emily Browning é a única que merece algum destaque, dado o trabalho eficiente da jovem actriz australiana.

       “Legend” é Hardy e nada mais. Tudo o resto, não merece qualquer tipo de comentário positivo. A única coisa que Helgeland conseguiu com “Legend” foi ser uma das maiores desilusões deste ano. A interpretação de Tom Hardy merecia muito mais!