Era uma vez no cinema: The Jungle Book

       Nos dias que correm, é notória uma clara aposta dos estúdios nas adaptações de clássicos infantis em formato live-action, onde num passado recente se evidenciam “Pan”, “Maleficent”, “Alice in Wonderland” e “Snow White and the Huntsman”. Esta nova incursão no mundo live-action, a cargo dos estúdios Walt Disney, é uma adaptação de “The Jungle Book”, livro do escritor inglês Rudyard Kipling que deu origem ao filme de animação “The Jungle Book” em 1967, também pelas mãos dos estúdios Walt Disney (curiosamente, foi o primeiro filme a ser lançado pelo estúdio após o falecimento de Walt Disney). As aventuras de Mogli conquistaram o mundo e é ainda nos dias de hoje uma das obras mais acarinhadas pelo público no cinema de animação. Ao contrário do que muitos pensam, este nem é o primeiro filme live-action de “The Jungle Book”. Em 1994, o realizador Stephen Sammers oferecia uma facilmente esquecível versão do conto infantil de Rudyard Kipling. Doze anos depois, John Favreau faz justiça à magia do conto de animação, entregando-nos uma obra que consegue agradar tanto a miúdos como graúdos.

       Toda a aventura é passada em volta de Mogli, um menino encontrado na selva pela pantera Bagheera, que acaba por entregar a criança ao cuidado de uma família de lobos. Tudo muda quando o temível tigre Shere Khan chega à selva com o propósito de matar Mogli. O menino lobo vê-se forçado a abandonar a alcateia para se juntar a uma aldeia de homens. Pelo caminho, Mogli irá cruzar-se com um grande leque de personagens, desde o divertido e preguiçoso Ballo até à perigosa e sinistra Kaa.

       “The Jungle Book” tem o seu maior trunfo na sua formidável componente técnica, onde animais computarizados são facilmente confundidos com os reais, tal como a intereção de Mogli com eles é feita de forma bastante credível e autêntica. Jon Favreau, o homem responsável pelos dois primeiros filmes da saga “Iron Man”, usa de forma sábia as novas tecnologias que o cinema dispõe na actualidade, criando uma atmosfera elegante e convidativa. Ao contrário de outras adaptações live-action, Favreau optou por não arriscar e fez uma adaptação quase 100% fiel à do filme de animação de 1967, algo que já lhe valeu tantos elogios como críticas negativas. Na minha opinião, este é um factor com pouca relevância quando é analisada a qualidade de uma obra deste género, até poque poderia ser uma versão mais afastada do filme de animação e ser qualitativamente inferior ao que foi feito. Onde a obra de Favreau realmente falha é na desconexão de algumas das suas cenas, que parecem forçadas para introduzir algumas personagens. As sequências do Rei Lou e Kaa, embora a cena de Kaa tenha tanto de especial como de curta, são completamente deslocadas do arco narrativo. Creio que teria mais lógica “guardar” estas personagens para o já confirmado segundo filme (embora seja quase certo que regressarão). A nostalgia, obviamente, é uma arma poderosa neste tipo de filmes e “The Jungle Book” não foge à regra. É impossível ficar indiferente ao ouvir músicas como “The Bare Necessities”, na voz de Bill Murray, ou “I Wann Be Like You”, cantado por Christopher Walken.

       Ao nível das interpretações, a uníca presença fisíca é a do jovem actor Neel Sethi na pele de Mogli, que cumpre o seu papel de forma convincente. Mas o grande destaque vai para as excelentes performances vocais do elenco, algo que ajuda em larga escala para a espectacularidade de todas as personagen míticas de “The Jungle Book”. Os trabalhos de Scarlett Johansson, Bill Murray, Christopher Walken e Ben Kingsley são óptimos, mas é o Shere Khan de Idris Elba que causa um maior impacto. O actor de quarenta e três anos é um profissional incrível e aqui, em “The Jungle Book”, somente com a sua voz consegue construir um vilão tremendo, que impõe um clima de terror e medo em cada cena que entra.

       “The Jungle Book” consegue ser um passo em frente em relação aos últimos filmes live-action do mesmo estilo, sendo uma obra decente e bem conseguida, embora também esteja longe de ser um produto extraordinário. É um entretenimento eficiente e que certamente irá cumprir as expectativas dos fãs no seu geral e sendo asssim, o saldo global é positivo.

6/10