Era uma vez no cinema: Warcraft

       O mundo dos videojogos é quase tão fascinante para mim quanto o do cinema. As duas indústrias movimentam muitos milhões, tanto de fãs como de cifrões. Por isso, foi com alguma naturalidade que começaram a surgir as primeiras adaptações de videojogos para o cinema na década de 90. Daí em diante, a tendência para este tipo de projectos foi crescendo. Obras derivadas dos videojogos “Mortal Kombat”, “Lara Croft: Tomb Raider”, “Resident Evil”, “Hitman” e “Prince of Persia”, foram as mais significantes nos últimos anos. No entanto, estes filmes tem outra coisa em comum, embora muitos deles tenham sido bastante lucrativos, também foram praticamente todos alvo de críticas bastante negativas. É neste ambiente que nos chega “Warcraft”, filme baseado num dos videojogos mais populares e jogado em todo o mundo, pelas mãos de Duncan Jones. É a estreia do realizador inglês nos grandes blockbusters, depois de dois bons filmes antecedentes, “Lunar” e “Source Code”.

       A premissa de “Warcraft” é bastante simples. Com o seu mundo destruído, os Orcs decidem colonizar Azeroth, reino dominado pelos homens. Rapidamente, as duas civilizações entram numa guerra que trará inúmeros sacríficos para ambos.

       Este género de épicos de fantasia não tem tido tempos fáceis.  Muito por culpa do enorme peso que é “The Lord of the Rings” para as obras que lhe sucederam, sendo quase impossível não surgirem as comparações com a fabulosa trilogia de Peter Jackson, mesmo que sejam apenas na nossa cabeça. “Warcraft” é mais uma obra que vem com esta díficil missão, algo que poderá ter influenciado algumas escolhas na produção. Digo isto porque “Warcraft” é claramente um filme feito para os fãs do videojogo. Aliás, este factor foi para mim o que mais contribuiu para o pouco consenso tanto no público como na crítica. Se para os que já conheciam o mundo do videojogo o filme foi bem recebido, os que desconheciam o reino de Azeroth não ficaram muito impressionados com o mais recente projecto de Duncan Jones. Eu, como perfeito desconhecedor do mundo Warcraft, saí do cinema relativamente satifeito, até porque as minhas expectativas em torno do mesmo eram baixas. Mas afinal o que falhou em “Warcraft”? Primeiro que tudo, se nos é apresentado uma civilização orc razoavelmente interessante, jamais conseguem fazer o mesmo em relação aos humanos. Há excepção do protagonista Lothar (e mesmo assim…), todas as outras personagens, desde o rei Wrynn ao feiticeiro Medivh, são pouco ou nada cativantes. Os grandes planos de batalha também estão longe do nível épico que uma produção deste género deveria ter, tanto ao nível de espetacularidade como de emoção, sendo os momentos mais emocionais sempre acompanhados por uma boa dose de previsibilidade. No entanto, também existem coisas positivas associadas a “Warcraft”. Os cenários são espetaculares, tal como a soberba caracterização dos orcs. Infelizmente, estes aspectos mais técnicos de qualidade não são acompanhados pela estrutura narrativa.

       Quanto ao elenco, do lado da civilização humana não existem grandes destaques, cabendo a Travis Fimmel o protagonismo com Lothar, personagem um tanto ou quanto semelhante à interpretada pelo mesmo na série “Vikings”. Actores como Dominic Cooper e Ben Foster passam completamente ao lado de “Warcraft”. O grande enfâse no elenco vai para os actores que deram vida aos orcs, que foram criados através de captação de movimentos. Entre todos, há que realçar o trabalho de Toby Kebbel como Durotan. Seguindo um pouco as pisadas do fantástico Andy Serkis, o actor inglês já tinha feito um trabalho incrível em “Dawn of the Planet of the Apes” e aqui, reforça a ideia de que é de facto um especialista neste tipo de caracterização.

       O mundo dos videojogos vai continuar a ter uma forte presença no cinema, exemplo disso é  “Assassin’s Creed”, filme baseado no famoso jogo da Ubisoft que será protagonizado por Michael Fassbender, bem como o reboot de Tomb Raider que terá a esposa de Fassbender, a recém-oscarizada Alicia Vikander, na pele de Lara Croft. Depois de se ter tornado a adaptação de videojogo mais lucrativa da história do cinema (com uma grande ajuda da China), certamente que “Warcraft” voltará aos grandes ecrãs brevemente. Pelo que li, parece que as maiores aventuras do universo Warcraft ainda estão por vir, por isso vamos esperar para ver se os próximos filmes estarão à altura da grandeza do legado Warcraft.

5.5/10