– És booã como o milho, comigo até viravas pipoca!

“Diz-me como te chamas para te pedir ao Pai Natal.”

As ruas do Porto já não são o que eram, perderam todo o seu encanto e charme. Antigamente (quer dizer, há seis meses atrás, mas tenho de ser dramática que o titulo da crónica assim o sugere), uma gaja vestia umas calças de ganga justas e uns saltos altos e saía de casa com a certeza que ia ouvir um piropo à trolha. Uma tipa vestia um vestido curto e sabia de antemão que não lhe iam faltar assobios à pedreiro, mas isso acabou. Acabou minhas caras, podem vestir uma burka e desfilarem assim na rua, porque desde Agosto de 2015 que os piropos são considerados crime, com pena de prisão até três anos, se o piropo tiver como destinatárias miúdas até aos 14 anos. Uma medida proposta pelo PSD, já muito contestada na opinião publica, que obteve a aprovação do parlamento.

“És como um helicóptero: gira e boa.”

Há cerca de um mês, eu ia toda janota a caminho do trabalho, passei por um grupo de trolhas que estavam a descarregar material para uma casa que, aparentemente, estava a ser remodelada. O trolha carregava um pedaço de madeira (já não me recordo se era um trolha jeitoso ou não, que pena), e quando eu passei mandou um piropo. Ora, nesse mesmo instante eu pensei: então agora vou ter que ir à esquadra mais próxima apresentar queixa do tipo? Apresentar queixa, identifica-lo, enviar todos os meus dados para que o caso seja tratado por advogados e, posteriormente, por um tribunal, vou perder uma manhã de trabalho e daqui a uns tempos outra manhã de trabalho para me deslocar ao tribunal. Mas na esquadra dão justificação da minha ausência para entregar à entidade patronal? Ligo à minha chefe a dizer que fui severamente piropada (desculpem o trocadilho, a língua portuguesa é tramada) e que senti necessidade de apresentar queixa na identidade competente? Oh pá, não me façam rir seus malandros! Preocupem-se com os faqueiros, os cálices e os conjuntos da vista alegre e deixem os piropos em paz e sossego.

“Ainda dizem que as flores não andam.”

Não há um único piropo que eu tenha ouvido em trinta anos de existência que me tenha causado desconforto. Na realidade quando os ouço dá uma vontade enorme de me rir, seguro-me ao máximo, mas o que eu queria era virar-me para trás e agradecer por animar o meu dia. Sem querer menosprezar ninguém, o piropo à trolha portuense é o melhor do país. Não deve haver grande piropos na zona sul, suponha que as tias de cascais, por exemplo, não sejam adeptas da piropada, também não há nada que se compare ao nosso sotaque portuense, tão característico, não há nada que se compare ao nosso ó booã, comia-te toda. Não gosto de piropo de velho, piropo de novo armado em bom, piropo de doutor nem de piropo já foste, não vou especificar as características de cada um porque não me apetece, mas não deve ser difícil de o leitor perceber.

“Por acaso és católica? É que tens um cu que valha-me Deus.”

Ao escrever sobre esta medida do Governo, constatei algo que nunca me tinha passado pela cabeça: nunca mandei um piropo a ninguém! Nem sequer a uma mulher. Isto é gravíssimo leitores. Elogios muitos sim, piropos nunca. Sou uma safada e uma brincalhona mas a timidez e as faces rosadas tramam a minha pessoa.

“Com uma montra dessas… imagino como é que é o armazém!” 

Portanto, sempre que eu passar por um grupo jeitoso de trolhas, estejam à vontade meus caros, podem mandar piropos à vontade, continuem com a vossa graça porque as ruas perderam a graça toda e de desgraça já basta as presidenciais.

“Só queria que fosses uma pastilha elástica para te comer o dia todo.”

Não posso terminar esta crónica sem escrever o meu piropo favorito até aos dias de hoje: Não tens vergonha? De quê? De seres tão gira!