A Escola dos Sonhos

Vocês lembram-se da vossa escola primária?

Eu lembro-me bem da minha! Edifício centenário em Vermoim na Maia, uma escola pequena, só tinha duas salas e um pequeno recreio. As salas tinham as velhinhas carteiras, de madeira maciça, inclinadas e com sítio para meter o tinteiro e a pena, os bancos de madeira não eram nada confortáveis, as salas tinham também o famoso mapa de Portugal e a Cruz de Cristo!

Eu só tinha escola à tarde, e lembro-me de ir para a escola a pé, em amena cavaqueira com amigos próximos, que andavam na mesma classe que eu! Naquele tempo andava-se bem a pé!

4.ª Classe para dentro, gritava bem alto a menina bonita da professora, era ela a campainha da classe e era também a delatora de todos os “crimes” ocorridos no recreio. Estávamos preparados para aprender Meio-Físico, Expressão plástica e outras disciplinas, não tínhamos Inglês e muito menos Educação Física, não naquelas condições.

Na sala sentávamos-mos por ordem alfabética, chegávamos a criar uma relação de irmandade com o nosso companheiro de carteira, a não ser que fosse uma menina e aí surgiam sempre as primeiras paixonetas e toda a sua inocência.

Era outro tempo, com outro respeito e outra educação, lembro-me que tinha medo de falar com a minha professora, ela era rígida, sempre tudo na linha, não havia barulho, risadas o que quer que fosse, “Brincar é lá fora” dizia ela! A minha professora tinha uma amiga que chegou a ser minha amiga também, um pedaço de madeira alisado pelo tempo e pelas diversas mãos em que bateu, falta de TPC duas reguadas!!!! Não sabes a resposta?! Quatro bolos!!! Ó Senhora, eu sei o que são bolos e eu gosto de bolos e isso é tudo menos bolos!!! É levar com uma tábua na palma da mão,é uma dor agoniante, é vergonha em frente aos nossos amigos!

Outra vergonha pela qual passei, não sei se vocês passaram, era quando iam lá as enfermeiras dar-nos injecções (não foram muitas vezes, mas foram) as meninas iam para uma sala à parte, os rapazes levavam ali, na sala em frente a toda a gente! No rabo, leram bem, era no rabo, agora imaginem a vergonha de levar uma injecção no rabo em frente as meninas!

Cá fora cantavam, tu, tu e tu sem querer eu vi-te o c………..

A hora do recreio, era sagrada, jogávamos à bola enquanto as meninas saltavam ao elástico, ou então às caçadinhas, autênticas perseguições que só terminavam quando alguém se espalhasse no chão e ficasse com o joelho em sangue…..

Siga lá para dentro, que é a segunda parte……no meio das risadas que ainda vinham do recreio, ouvia-se um “”pouco barulho e abram o livro na página 14”. Parecíamos meninos do coro, alinhadinhos a cantarolar tabuadas e rios de Portugal.

Lembra-me de olhar lá para fora pela janela e ter todos os sonhos do mundo, enquanto ouvia bem baixinho a professora Miosete a falar, tantos Outonos de folhas caídas, tantos Invernos de chuva a bater nas janelas, e Primaveras sem fim….

Bons tempos esses, em que éramos reis e rainhas sem reino, pequenos petizes de vida feliz,

Saudades desses tempos, daquelas carteiras, daquelas salas, daqueles meninos.

Não se esqueçam de recordar, e de sonhar, porque a vida é feita de sonhos.

Espero que gostem!