“Eslovénia: o próximo resgate” – Nuno Araújo

A Eslovénia será o “próximo cliente” do FMI, UE e BCE, vulgo Troika. Eu aposto que sim, a Eslovénia não escapará a um resgate, devido ao mau estado em que se encontra o seu sistema bancário. Esse resgate, a acontecer, deverá ocorrer antes de Junho deste ano, altura em que vencem 700 milhões de euros em obrigações para com credores.

O novo primeiro-ministro esloveno, Alenka Bratusek, assumiu o governo há duas semanas atrás, depois de uma moção de censura ter passado no parlamento esloveno, e assim o governo conservador de Janez Jansa “caiu”.

Os valores falados oscilam um pouco. Numa semana em que os juros da dívida pública deverão chegar aos 7% (altura em que Portugal pediu o resgate), o sistema bancário esloveno deverá necessitar de pelo menos 10 mil milhões, sendo que mais de metade desse valor deverá cobrir valores considerados como não recuperáveis. O restante valor deverá servir para a recapitalização dos bancos em necessidade. Para a economia real, mais 20 mil milhões de euros, é a minha impressão acerca do valor que será preciso nos cofres públicos eslovenos. No total, um resgate entre 25 a 35 mil milhões de euros não será demasiado irreal, no terreno das probabilidades.

Europa: fim dos paraísos fiscais?

O resgate financeiro ao Chipre parece estar a endereçar uma mensagem à zona euro. Não aquela que menciona que os bancos devem salvar-se a si mesmos, usando coletes salva-vidas em caso de naufrágio (o mesmo que dizer que devem recapitalizar-se bem, e não criar dinheiro virtual, inexistente, como é prática comum em paraísos fiscais), mas sim a mensagem de que os paraísos fiscais, vulgo off-shores, estarão à beira do seu fim.

Porém, nem todos os off-shores europeus deverão acabar, até porque temos sempre a original “economia de casino” do Mónaco, que deve o nome ao Casino de Monte Carlo. A ilha de Man e o bailio de Jersey, ambos britânicos, devem conseguir escapar a esta nova estratégia da Comissão Europeia e Conselho Europeu, por forma a controlar os fluxos de capitais, ao invés de harmonizar processos no que toca a políticas fiscais, e também na simbiose intracomunitária em matéria de tributações sobre transacções financeiras. As instâncias comunitárias só conseguirão intervir em áreas onde o Euro circule, caso que não afecta território britânico ou sob dependência da coroa britânica.

A relevância parece ir mesmo para o facto de alguns paraísos fiscais europeus estarem à beira do seu fim, o que longe de ser uma teoria, é já uma realidade. O Chipre já foi, seguem-se-lhe o Liechtenstein (já com orçamento de austeridade), Luxemburgo, entre outros. Perante este contágio evidente da crise cipriota, começa-se a antever que as eleições germânicas deste ano obrigarão Merkel a intervir “a sério” na crise, sob pena da não reeleição, porque seguramente que serão dominadas pelo cenário de crise europeia. Os alemães querem poder económico, mas precisam de quem lhes compre Mercedes, BMW e outras máquinas de produção alemã, e para isso há que resolver convenientemente a crise europeia. É que a crise chinesa está já “ao virar da esquina”…

Entrevista de José Sócrates

A entrevista de José Sócrates é um marco significante no actual rumo dos acontecimentos políticos nacionais. A presença de Sócrates, durante hora e meia, deu direito ao início do “ajuste de contas”, na praça pública, entre o ex-primeiro-ministro e Cavaco Silva, actual Presidente da República. Histórias do passado recente fizeram a primeira metade da entrevista, não deixando passar em claro a passividade da actual liderança do PS perante as críticas do PSD-CDS à governação de Sócrates, o que mereceu uma crítica discreta mas firme por parte do ex-governante. A actual liderança do PS terá de unificar o “aparelho partidário”, e deixar de fingir que Sócrates foi primeiro-ministro por outro partido, pois se Sócrates foi o primeiro-ministro que chamou a Troika, também foi o primeiro-ministro que conseguiu o défice das contas públicas mais baixo em quinze anos.

Sócrates disse não ambicionar qualquer cargo político, seja o de primeiro-ministro ou de presidente da República. No entanto, ambiciona, sem dúvida, “tomar o pulso” aos portugueses, quanto à opinião pública acerca da sua figura política. Mais: ambiciona continuar a ser político, e não um mero comentador da cena política nacional. E enquanto político, dedicou grande parte da entrevista a “atacar” Cavaco Silva por, alegadamente, ter liderado uma “conspiração” pela queda do governo de Sócrates. A verdade é que um acessor de Cavaco Silva, o seu “best man”, falou de “escutas”, e assim se criou um caso de desconfiança institucional.

Para já, digo que Sócrates voltou, mas não para sair de cena. Agora, está cá, a sério, como oposição que é e querendo derrubar o que resta de Cavaco Silva e do governo, verdadeiros “cadáveres políticos” em Portugal.

Ameaças da Coreia do Norte aos EUA: “cão que ladra não morde”

Mísseis norte-coreanos apontados a bases norte-americanas? Porquê esta aposta norte-coreana em “inflamar” o discurso contra os vizinhos do sul e os EUA? Discursos “inflamados” de “ajuste de contas”, por parte de Kim Jong Un, líder norte-coreano? Até onde estará ele disposto a ir com este tipo de ameaças? E a China, qual o seu papel nesta subida do tom de ameaça?

A primeira pergunta responde-se com facilidade: sim. Mísseis norte-coreanos estarão, decerto, apontados, para alvos norte-americanos. Isso faz parte de exercícios diários tidos pelo exército norte-coreano, um dos mais numerosos em homens, no mundo inteiro.

As segunda e terceira questões têm a ver com a eleição em Dezembro último, há 3 meses atrás portanto, da nova presidente sul-coreana, Park Geun-hye, que por sinal é conservadora. Ora, a retórica de Kim Jong-Un serve precisamente para dar “boas-vindas” ao difícil e tenso jogo diplomático, de palavras, entre Coreia do Norte e Coreia do Sul.

Logo, estes discursos “inflamados” são apenas mais “farinha do mesmo saco”, ou seja, atitudes que já vimos dantes serem efectuadas pelo lado norte da península coreana. Como se sabe, a melhor forma de fazer uma ditadura prosperar é argumentar que existe um inimigo real e dar-lhe um nome, para que a população fique assustada o suficiente para se subalternizar; é o que sucede na Coreia do Norte. Porém, e apesar de tudo, há sempre que contar com a inexperiência de Kim Jong-Un, que parece ser aconselhado de perto por generais norte-coreanos, com interesses muito particulares na subida de tom de ameaça dos norte-coreanos aos sul-coreanos e norte-americanos.

Contudo, diversos generais norte-americanos têm dito, ultimamente, que mísseis norte-coreanos não conseguirão acertar em nenhuma base norte-americana, até porque esses foguetes têm uma tecnologia muito arcaica. Ou seja, todos os intervenientes directos neste “jogo diplomático” sabem que nada irá acontecer. “Nada” significa precisamente que nenhum acto de guerra irá ocorrer, como por exemplo disparos ou lançamentos de mísseis directamente para alvos sul-coreanos ou norte-americanos.

Assim sendo, há que concluir que, no que toca às relações com a Coreia do Norte, é necessário saber aquilo que os norte-coreanos pretendem, e que é o mesmo de sempre: vender armamento. Em troca, os norte-coreanos pretendem fazer “baixar” o nível do embargo, que dura há tantos anos ao seu país, e assim angariar medicamentos e alguns outros artigos de primeira necessidade, em virtude de um inverno extremamente rigoroso vivido na Coreia do Norte. Quem sabe se Bill Clinton não será chamado a intervir pessoalmente nesta contenda, por forma a resolvê-la? A ver vamos.

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana