Natal? O Que É Isso?

Já gostei mais do Natal.

Há perguntas difíceis que nos fazem na nossa vida, uma delas é “O que é para ti o Natal?”
Quando somos pequenos e inocentes é fácil a resposta: “os presentes”!
Sou do tempo em que recebíamos no correio os catálogos dos brinquedos de cada supermercado. Ora eu, ou recortava aquilo que queria, ou fazia uma cruz no próprio catálogo. Não havia limites!
Também cheguei a escrever cartas para o Pai Natal, pensava eu que ele as recebia… Os CTT, carinhosamente mandavam resposta para dar asas à ilusão. Agradeço-lhes por isso.

Fecho os olhos, e lembro-me de muitas fases. Houve aquele ano em que as prendas eram quase todas para mim, e eram tantas e tão grandes quanto o meu sorriso numa fotografia que temos dessa noite. Sim… também me calhou fazer de Pai Natal, com a mítica almofada a fingir a grande barriga… mas porque é que o Pai Natal tem de ser… rechonchudo?

E aqueles anos em que recebíamos aquela prenda ansiada e só nos apetecia ficar a brincar a noite toda?

Ah esperem, melhor… a fase em que não queremos aparecer nas fotografias sabem?
Bem, a minha mãe durante uns anos tentou, sim, tentou manter a tradição anual de me tirar uma foto depois de montar a decoração de natal cá de casa. Tornei-lhe essa tarefa dura durante uns 3 anos seguidos. As fotos existem mas estou de pijama, braços cruzados e o dito “burro armado”. E hoje penso… mas que raio me ia na cabeça? Realmente temos fases mesmo parvas.

“Prefiro ver fotos daquela fase em que não havia foto sem um vestígio de chocolate na cara, nas mãos e estava tudo menos a olhar para a câmara, claro, chamem-lhe parva…”

Prefiro ver fotos daquela fase em que não havia foto sem um vestígio de chocolate na cara, nas mãos e estava tudo menos a olhar para a câmara, claro, chamem-lhe parva… Saudades de ter enfeites de chocolate na árvore de natal.
Saudade, é a palavra que melhor define o Natal quando na mesa já não se sentam os mesmos… quando familiares já partiram… Este ano eu percebo porque é que algumas pessoas dizem que esta é uma altura complicada a nível emocional. Como é possível de um ano para o outro na mesa tirarmos dois lugares de uma vez?

Ser adulto traz estes inconvenientes de refletir, sentir mais, sofrer mais…
Podemos continuar para sempre crianças ao colo dos pais? Ao menos aí o mundo era seguro e mais colorido. Mas não tornemos esta última crónica do ano em algo tão pesado…

Sabem o que gosto do Natal? Da luz, das cores, tudo se ilumina, há mais vida nas ruas, nas montras, nas varandas das casas, ainda que essa “vida” seja questionável.

Não gosto da hipocrisia com que muitos vivem esta época, não contem comigo para esse jogo…
Quanto a prendas… Compro poucas coisas e tento que sejam sempre especiais e que tenham a ver com a pessoa que as vai receber. Nada paga o brilho nos olhos, um sorriso sincero quando damos o presente certo. Sou do tipo de pessoa que faz as compras ao longo do ano… Sou capaz de ver algo numa montra em fevereiro e dizer “olha isto era giro para oferecer à pessoa “X” no Natal, vou comprar”. Talvez dirão: “ok isso até é bem pensado mas… e se…?” Sei, têm razão, e tenho medo que isso realmente aconteça. Já me aconteceu, ter ficado com um presente por entregar, e por mais estranho que parece a sensação é a mesma do que ficar com algo por dizer… porque aquele presente, aquelas palavras, eram para aquela pessoa, para mais ninguém.

O que é o Natal para mim? Vou ter de falar no passado para responder. Para mim o Natal era o jantar da noite de 24 de Dezembro com a avó Maria à mesa e os almoços do dia 25 na casa da tia Fátima com os meus primos-irmãos. Um passado que já não volta. A avó Maria partiu, a tia Fátima mudou de casa e os primos-irmãos cresceram, já vivem com as/os respetivos maridos/mulheres e alguns até já têm filhos.

Natal o que é isso? Sinceramente? Não sei. Preciso de me encontrar de novo com o espírito natalício, mas sem dúvida que o melhor de tudo é estar em família e saborear os doces caseiros, que a família tem jeito para a doçaria.

Votos de um doce Natal, que nunca falte amor!
Voltamos a encontrar-nos em breve, por entre linhas e sorrisos.

Até para o ano,
Margarida Gaspar