Especial Óscares 2017 – Previsões

Mais um ano se passou, e está na hora de meter mãos à obra e tentar adivinhar as escolhas da academia. 2017 é um ano renhido, e a qualidade dos filmes e dos actores cria dificuldades enormes na altura de fazer previsões. Os palpites para esta edição dos óscares vão ser uma mistura de previsão com gosto pessoal, até porque a academia está bastante pressionada este ano com a existência de filmes que tentam reavivar uma época perdida de Hollywood. Se o factor nostálgico vai fazer a diferença, ninguém sabe, mas estar na corrida já é uma marca na história do cinema. Escondam os envelopes dourados, vêm dai as previsões e palpites para as principais categorias dos oscars…

MELHOR FILME

Esta edição dos óscares traz nove nomeados de um leque diversificado de estilos e temas. Mesmo com uma concorrência renhida, que advém principalmente de filmes como O Heroi de Hacksaw Ridge, Manchester by the Sea e Hidden Figures, há uma grande pressão no ar para atribuir a estatueta de melhor filme a La La Land, e não me interpretem mal, acho que é um grande candidato!

No entanto, há um filme na lista que não deve ser menosprezado em nenhuma das suas dimensões. Arrival é transcendente e de uma casta cinematográfica que há muito tempo não se via, com uma aura que emana Spielberg e Kubrick, pela mão da mestria de realização de Denis Villeneuve, que estará ocupado nos próximos anos com o peso de grandes clássicos da ficção cientifica. 

Com grandes doses de criatividade na maneira como aborda as questões temporais e linguísticas, com a sua narrativa cativante e que desafia os padrões modernos, Arrival deveria ser o vencedor, no entanto, a academia poderá jogar pelo seguro e não se aventurar num género que normalmente arrecada apenas categorias técnicas. La La Land permite à academia não fugir muito do seu modelo habitual de atribuição de prémios, com uma dose segura de nostalgia, transmitida em Panavision 35mm em vivas cores. No entanto, há sempre surpresas, como O Caso Spotlight, o ano passado!

A escolha: Arrival – O Primeiro Encontro

MELHOR REALIZADOR

O reportório de Denis Villeneuve é invejável, especialmente porque nenhum dos seus filmes foi alguma vez considerado um desastre. Falamos do realizador de Sicaro – Infiltrado (2015) e de Prisoners (2013). A subir na sua carreira e a ver o seu trabalho reconhecido, 2016 parece ter sido o ano do boom, e uma óptima oportunidade para vender o seu talento. Arrival é uma maravilha técnica, mas é sabido que nem sempre o melhor filme e realizador representam uma e a mesma coisa!

Parece, no entanto, que mesmo que falhe este ano, Villeneuve terá todas as oportunidades para regressar, tendo em conta os inúmeros projectos que neste momento representa, nomeadamente a sequela de Blade Runner e a nova adaptação de Dune. Nesta categoria há, no entanto, uma excelente concorrência, com o retornado Mel Gibson, com o seu soberbo filme O Herói de Hacksaw Ridge e com Damien Chazelle, de La La Land. A corrida é difícil, mas a meta é dos justos, ou será que não?

A escolha: Denis Villeneuve (Arrival)

MELHOR FOTOGRAFIA/CINEMATOGRAFIA

Há muitos anos que uso a palavra cinematografia em vez da mais tradicional palavra portuguesa fotografia. Chegou a altura de me explicar, acho o termo fotografia horrendo, preferindo muito mais cinematografia, que se interliga com o inglês cinematography. Em alguma coisa acabaria por preferir a grafia brasileira! Mas passando a assuntos importantes, eu sei que nas últimas duas categorias insisti muito em Arrival, e de facto é também um forte candidato a esta estatueta, pelo trabalho de Bradford Young.

No entanto, La La Land parece-me uma atribuição mais acertada pelo factor nostálgico de uma Hollywood desaparecida. Nada em La La Land é ao acaso, e representa uma conjugação incrível entre a escolha do guarda-roupa, o jogo das luzes e as técnicas de filmagem, tudo num produto final visual que certamente cativa os jurados. Linus Sandgren, o cinematógrafo do filme, já trabalhou em Golpada Americana (2013), outro nomeado para os óscares, e em Joy (2015).

A escolha: Linus Sandgren (La La Land)

MELHOR ACTOR PRINCIPAL

Não há aqui qualquer dúvida, embora a concorrência seja forte. Andrew Garfield tem uma performance sólida em O Herói de Hacksaw Ridge, assim como Viggo Mortensen em Capitão Fantástico. Ryan Gosling perde-se no meio dos números musicais e vive na sombra de Emma Stone. Casey Affleck têm os seus momentos, mas é uma performance por vezes apagada e nem sempre clara. Nenhum deles consegue transpor a personagem que Denzel Washington nos apresenta em Fences.

Na maior parte dos filmes as personagens estão bem balizadas entre os “bons” e os “maus” da fita, mas Fences traz-nos uma personagem humana, com qualidades e defeitos que vão surgindo durante todo o filme, e vão mudando a nossa perspectiva sobre a mesma. O realismo é uma peça fulcral na interpretação do actor, que também assina a realização do filme. Denzel Washington é, artisticamente, um dos grandes monstros de Hollywood, e já tem dois óscares da academia. Fará o hat-trick? Esperemos que sim, porque merece!

A escolha: Denzel Washington (Fences)

MELHOR ACTRIZ PRINCIPAL

Raios o partam ao La La Land! Emma Stone é uma forte candidata à estatueta, mas a performance de Natalie Portman no filme biográfico Jackie parece ganhar alguns pontos. As performances musicais de La La Land exigem uma actuação diferente onde a representação, por vezes, se perde por entre a música.

Já o papel de Portman, é o que se pode chamar de uma fita close and personal, que sabemos que agrada à academia. A actuação de Portman é cuidada, profissional e real, mesmo que o filme se arraste à procura do momento para brilhar. Também na corrida está Meryl Streep em Florence Foster Jenkins e Isabelle Huppert em Elle. Se há categoria em que a estatueta não está garantida, é provavelmente esta!

A escolha: Natalie Portman (Jackie)

MELHOR ACTOR SECUNDÁRIO

Mesmo com a concorrência de Jeff Bridges em Hell or High Water, a nomeação, e possível entrega da estatueta a Mahershala Ali pode ter uma mensagem politica forte, que a academia pode querer explorar. Não querendo menosprezar a sua actuação brilhante em Moonlight, claro!

Com a administração Trump a tomar medidas anti-imigração e baseada em Islamofobia, entregar um prémio a um actor islâmico é o murro no estômago, e uma jogada brilhante. Não esqueçamos, no entanto, Ali pela sua interpretação majestosa, que merece rivalizar com qualquer um dos outros candidatos!

A escolha: Mahershala Ali (Moonlight)

MELHOR ACTRIZ SECUNDÁRIA

Com uma concorrência forte com nomes como Nicole Kidman, Octavia Spencer e Naomi Harris, parece-me que há duas candidatas que se destacam, uma pela positiva e outra apenas pela surpresa de estar entre as nomeadas. Michelle Williams não me suscitou grandes impressões com a sua prestação em Manchester by the Sea, embora tenha um ou dois momentos.

Já Viola Davis parece ser a escolha certa, e um bom suporte à estatueta principal de Melhor Actor Principal de Danzel Washinton.  Mais uma vez num registo real e pessoal, os desafios da sua personagem são inúmeros, e aquela cena que todas as as pessoas que viram o filme reconhecem, são um isco enorme para a academia. Nós sabemos da qualidade de Davis, e está na altura de lhe entregar a primeira estatueta!

A escolha: Viola Davis (Fences)

A Cerimónia de Oscares de 2017 promete uma luta renhida, com a maior parte das categorias em aberto. Tudo indica que o grande vencedor da noite é La La Land, contrariando muitas das previsões desta crónica. No entanto, a academia reserva sempre surpresas, e nada está definido. Resta esperar por um excelente espectáculo, que não dispensará a mensagem politica. Se o microfone não passar pela Meryl Streep não será uma cerimónia à altura! Esperemos para ver…

Volto para a próxima, com mais cinema!