Especial Star Wars Parte 1

 

Especial Star Wars

 

Nas próximas duas edições do Magazine Mais Opinião tenho o orgulho de apresentar um tema que tem sido alvo das mais variadas noticias nos últimos meses. O passado e o futuro de Star Wars, ou como será dito por pessoas com mais alguma idade, de A Guerra das Estrelas. Ao longo destes artigos vou explorar a história dos filmes que mudaram a ficção científica, e do cinema em geral, e estabelecer que perspectivas e que problemas terão as produções, os argumentistas e o realizador J.J. Abrams de absorver e resolver na próxima trilogia para prender os fãs. Nesta primeira parte, centrar-me-ei nas duas trilogias existentes de Star Wars, já na segunda parte tecerei reflexões importantes sobre os futuros filmes. Venha acompanhar-me nesta aventura numa galáxia muito, muito distante neste Magazine perto de si.

Corria o ano de 1977, faltavam sensivelmente 15 anos para eu nascer, e os míticos anos 80 ainda nem sequer tinha aparecido em todo o seu esplendor. Neste interessante ano de 1977 surge um título nos cinemas americanos que iria revolucionar a ficção científica, Star Wars, na altura sem qualquer tipo de especificação ou numeração  entrou nas salas de cinema no dia 25 Maio… já em Portugal transformamos o filme numa espécie de aperitivo para o Natal uma vez que só chegou as salas lusitanas no dia 6 de Dezembro do mesmo ano, um mês depois de Espanha e 14 anos antes da Checoslováquia (só para perceberem que não somos assim tão “atrasados”).

Star Wars tinha sido um problema para produzir, meses de gravações e filmagens nos sítios mais inóspitos com um clima nem sempre condescendente e um grande leque de efeitos técnicos que para 1977 eram fruto de uma nova geração tecnológica. O próprio elenco principal não acreditava no filme ao princípio, e a falta de conexão com o realizador e criador George Lucas era abismal uma vez que o seu estilo de direcção de actores era demasiado peculiar e passivo o que interferia com a mecânica das cenas. O perigo de falhanço total era evidente em todos os envolvidos, no entanto… o filme foi um sucesso, tornou-se num fenómeno sem precedentes à escala planetária, uma completa explosão ao nível cinematográfico com possivelmente mais fãs do que qualquer outra franchise. Mas o que de facto fez com que Star Wars se tornasse o fenómeno que temos hoje? É difícil perceber, George Lucas refere que é a familiaridade e a escala mitológica deste universo que pode ter ajudado ao seu sucesso. A alusão a épicos literários mais antigos juntando elementos cinematográficos das mais variadas origens tornam Star Wars no remix dos remixes, e isto não é uma crítica, ou pelo menos não é uma crítica negativa, Star Wars aproveita o que de melhor existe nos mais variados ramos e períodos cinematográficos criando uma peça única, compacta e coerente. Temos o mentor, o aprendiz, o vilão mascarado, e citando Mark Hamill, um greatest hits religioso, a Força. Não podemos esquecer também que este foi o filme que criou uma das mais emblemáticas armas do cinema, o lightsaber (não consigo levar a sério “sabre de luz”).

Star Wars catapultou as vidas dos actores principais: Mark Hamill, Harrison Ford e Carrie Fisher para a ribalta embora fossem desconhecidos aos olhos da audiência. Ford tinha participado num filme anterior de Lucas, American Graffiti; Mark Hamill era um actor relativamente desconhecido de algumas series e com algum trabalho de dobragem: Carrie Fisher tinha participado nalguns filmes específicos para a televisão.

Mas o que acho eu deste primeiro filme de 1977 na perspectiva de quem o viu em VHS por volta de 1998? Considero Star Wars um filme intemporal, poderei argumentar que é um filme estruturado e consigo perceber o que as mentes de 1977 pensariam naqueles primeiro momentos em que o texto desaparece e explosões e naves surgem do cimo do ecrã. É um filme que embora intemporal teve a sua sorte no período em que chegou aos cinemas. Talvez estejamos perante uma contradição mas esta é a verdade, Star Wars em 2014 não teria o mesmo impacto, talvez porque se tornaria num paradoxo. Sem Star Wars em 1977 o cinema teria evoluído de forma um ponto diferente em termos de ficção científica, no entanto, se saísse em 2014 não conseguiria competir com o cinema que já teria sido criado devido ao seu legado. Confuso? I know… os paradoxos são confusos.

Star Wars entrou na década de 80 com uma sequela que em muito ultrapassou original, muito devido à visão de Irvin Kershner que substituiu George Lucas na realização com resultados tremendos. Empire Strikes Back, ou O Império Contra-Ataca, (uma surpreendente tradução literal que não tira impacto ou seriedade ao titulo) era a sequela mais aguardada do ano de 1980 e tornou-se uma das melhores sequelas da ficção científica, quiçá de todo o cinema. O segundo filme de Star Wars tem todos os elementos que uma sequela deve apresentar, tem ritmo e tem uma história aprofundada, no entanto, é o final que se destaca com uma das revelações mais inesperadas do cinema e um final triste mas que ao mesmo tempo se envolve em suspense e leva a audiência a desesperar por mais. I am your father é possivelmente a frase mais relembrada, no entanto, não é possível esquecer a resposta arrogante mas ao mesmo tempo desesperante de paixão de Han Solo, I know

Empire Strikes Back é sem dúvida o melhor filme da saga expandindo o universo de Star Wars para novas fronteiras e anunciando com o seu final um novo filme que apenas surgiria três anos depois…

starwarsempire14115

Return of the Jedi (1983), inicialmente anunciado como Revenge of the Jedi e modificado por vingança ser altamente contra o código de um Jedi, é o último filme da trilogia e divide alguns fãs, embora não em quantidades tão astronómicas como as prequelas, mas para essas já lá vamos… O Regresso de Jedi, um titulo que gramaticamente me faz cocegas na sua tradução portuguesa, é um filme vitimado pela fasquia elevada em que que encontrava, envolto num grau menos dramático quando comparado com outros filmes de Star Wars. A inclusão de ursos de peluche em miniatura que são capazes de destruir um exército de soldados imperiais foi difícil de engolir para muitos fãs, juntando o facto de que estes momentos na selva de Endor são intercalados com o que realmente interessa, a batalha entre o bem e o mal no interior da Segunda Estrela da Morte. Return of the Jedi pode não ter a qualidade de Empire Strikes Back, no entanto, não se pode tirar o mérito pois tal feito seria quase impossível. É um filme sobre amor, sobre o mítico triunfo do bem sobre o mal tanto no universo como dentro de um único homem. Este filme é a conclusão merecida para a saga intergaláctica mais famosa do cinema e talvez por isso seja problemático estabelecer um fio condutor a partir daí para as futuras sequelas.

Em 1999, o pesadelo de alguns fãs começou com as prequelas, uma trilogia que separou muitos dos fanáticos e fez alguns esquecer inclusive que existiam. Introduziu também algumas mudanças em toda a história e sem uma visionação cuidada por parte de uma nova geração poderá definitivamente destruir a grande revelação de Empire Strikes Back. O primeiro filme desta “nova” trilogia é possivelmente o mais fraco dos seis. The Phantom Menace (A Ameaça Fantasma) tem o maior recorde de bilheteira de todos os filmes da saga (15º no ranking dos filmes que mais lucro arrecadaram em bilheteira) muito possivelmente devido à espera de 16 anos que muitos dos fãs ultrapassaram. É um filme com um elenco que poderia justificar uma grande qualidade e possivelmente quem assistiu ao anúncio deste estaria tão entusiasmado como estão algumas pessoas hoje pelo grupo de actores que fazem parte do novo capítulo.

A qualidade de The Phantom Menace (1999) é discutível, e a este filme podemos juntar a sua sequela The Attack of the Clones (2002). O primeiro juntou a sua qualidade mediana à expectativa elevada dos fãs. Atormentado por uma falta de familiaridade com a trilogia original e com a inclusão de personagens como Jar Jar Binks,que ainda hoje são o pesadelo dos fãs, e juntando alguns problemas em termos de representação por parte do elenco mais jovem. A corrida de pods na arena também não abona a favor do filme pela sua duração, e no fim a única qualidade renovadora é a batalha final que mais uma vez é cortada sistematicamente por acontecimentos com menos grau de interesse para a audiência.

O Ataque dos Clones é um filme com pouco conteúdo, demasiada politico e confuso na sua história, sendo em suma um filme que para muitos fãs é ainda pior que o anterior. No entanto, existem mais familiaridades com a trilogia original e embora seja atormentado pelos mesmos problemas de representação dos anteriores consegue escapar pela qualidade mais ou menos coerente da sua meia hora final e os vislumbres de Darth Vader a surgirem na penumbra.

Distanciado em termos de qualidade dos primeiros dois filmes da nova trilogia está o último, A Vingança dos Sith (2005), um título que diz tudo e que em conteúdo salva as prequelas do total desastre. Finalmente a empresa de Lucas parece ter acertado e conseguiu abranger um maior número de fãs. Revenge of the Sith é o perfeito ponto de ligação, a banda sonora cada vez mais nos faz lembrar a trilogia original, as personagens têm o mesmo efeito que seria de esperar de um filme clássico de Star Wars sendo o final a ponte necessária para que toda a estrutura não desabasse. A transformação tão desejada de Anakin Skywalker para Darth Vader mantém a audiência presa ao filme e todo o drama final culminando com a cena clássica e nostálgica do pôr-do-sol em Tatooine.

LightsaberCSWE

Fazendo uma análise pessoal destas prequelas torna-se claro que são importantes pela sua história e para expansão do universo de Star Wars, no entanto, talvez seja os seus problemas de representação e a história nem sempre interessante que destrói um pouco da sua magia no que poderia ser um regresso de uma saga clássica para um patamar não tão distanciado da trilogia original. A inclusão de CGI em quantidades exageradas descurando de efeitos práticos parece também ser um problema para alguns fãs embora com a mais modesta opinião tenha gostado deste exagero em Revenge of the Sith talvez porque a história se mostrou de maior interesse do que os próprios efeitos especiais. No entanto, estas prequelas não foram suficientes para destruir o prestigio da saga… e por isso agradecemos, uns mais outros menos.

O recente lançamento da edição Blu-ray com algumas alterações para muitos desnecessárias abalou um pouco os fãs mais acérrimos uma vez que as mudanças não são novas. Star Wars tem visto ao longo dos anos mudanças enormes nos seus filmes e com os constantes lançamento em novas plataformas como o VHS, DVD e Blu-ray respectivamente, os filmes têm sido modificados de forma bastante peculiar que leva os fãs a pedir uma edição original do filme sem alterações para estas respectivas plataformas sem nenhuma mudança de George Lucas que em 80% da vezes não melhora o filme. Inclusão de elementos de CGI, mudanças estéticas em determinadas cenas e o mais grave a inclusão de voz no outrora silencioso Darth Vader na sua decisão final de salvar Luke, expressando um “Não!” bastante anti climático; são as inúmeras razões para temer uma reedição dos filmes.

Star Wars está em constante expansão com um grande número de literatura que tem sido criada desde que a saga começou. Estas histórias agora ameaçadas são para alguns fãs parte do universo dos filmes e consideradas cannon, ou seja, pertencem e facto à história criada por Lucas. Estas histórias estendem-se à BD, aos livros e mais recentemente aos videojogos, decorrem antes, depois e durante os eventos de Star Wars e contam as histórias dos descendentes de Luke Skywalker e dos restantes heróis.

Como vamos ver no próximo artigo este é um dos problemas que a nova trilogia vai encontrar pois o período que os novos filmes vão cobrir deixam um vazio e uma serie de acontecimentos que vão ser ignorados para que o universo da saga ganhe coerência. Este Universo Expandido é agora o universo de Star Wars Legends, um universo onde Luke Skywalker casa e tem filhos, Leia e Han Solo perdem um dos seus para o Lado Negro da Força, sendo eventualmente morto pela sua irmã… mas não sem que antes este mate a esposa de Luke Skywalker. É uma espécie de fan fiction oficial bastante levada em conta pelos fãs mais ligados à saga. Confuso? Não sabia pois não? Mas não se preocupe, um documento oficial diz que um fã de Star Wars para o ser só precisa de ter conhecimento dos filmes, sendo um fã do Universo Expandido tão fã como outro qualquer!

Star Wars não dá sinais de derrota nem de idade, é visto por milhares de pessoas em todo o mundo repetidamente. Eu próprio sou um orgulhoso detentor da versão em Blu-ray dos seis filmes com 40 horas de extras que custa basicamente pouco menos do que uma centena de euros, e embora não concorde com a maior parte das mudanças aos filmes consigo ultrapassa-las com um pequeno botão chamado “mute” quando Vader resolve falar no seu silêncio…

E é também com “mute” que me despeço, até porque Star Wars continuará no coração dos fãs mesmo que o meu texto acabe aqui… e na próxima edição de Magazine Mais Opinião voltarei com a segunda crónica dedicada a Star Wars direccionada para o futuro de uma das maiores sagas do cinema. May the Force Be With You

Artigo de Luís Antunes