Esquerda ou Direita? Venha o Diabo e escolha!

Estás chateada por o teu partido não ter ganho, mas tens de respeitar a opinião das outras pessoas. Esta foi a frase que alguém comentou comigo, após a minha reacção menos simpática a respeito do resultado das eleições.

Bem, vamos ver se nos entendemos: eu não pertenço a nenhum partido, não sou da esquerda, nem da direita, nem de baixo nem de cima, não sou laranja nem cor-de-rosa, nem comunista nem porra nenhuma. Eu não andei com as bandeirinhas laranja feliz da vida enfiada em nenhum comício, nem andei em jantarada dos partidos, onde se paga vinte e cinco euros por cabeça, e também não andei atrás da Catarina Martins, qual debandada qual quê, a desfilar pelas ruas do centro do Porto, nada disso, afinal alguém tem de trabalhar  e sustentar este país da treta, afinal alguém tem de pagar a dívida deste país miserável.

Eu não percebo nada de politica, e como tenho um principio como cronista que é, escrever só sobre o que sei e só sobre o que percebo, nunca escrevi uma crónica sobre politica. Mas hoje resolvi fazê-lo, mas sem usar palavras caras e aborrecidas, vou escrever em nome do povo e para o povo (algum povo, o povinho não, se é que me entendem). Sou uma pessoa conscienciosa, atenta e informada. Não pertenço a nenhum partido e provavelmente nunca vou pertencer, a menos que o idealismo da politica mude radicalmente.

Achei a Campanha eleitoral 2015 pavoroso, sem eira nem beira, a empurrar o povo para uma decisão sem coerência. Há vários itens que me irritam nas campanhas, eu podia enumerar umas vinte mas nunca mais saímos daqui, por isso vou escrever apenas duas: As escolas fecharam na Sexta à tarde e na Segunda de manhã…mas mas, as escolas públicas não iniciaram o ano lectivo muito tarde? Com a falta de muitos professores em varias turmas? Os pais não têm cada vez mais dificuldade em poder pagar um local onde deixar os filhos? Estão a brincar comigo? Só falta a passadeira vermelha e uns paparazzi à entrada. Nos países ricos e desenvolvidos as eleições são a um dia da semana, os eleitores podem ir votar, tranquilamente, na hora do almoço ou quando saem do trabalho ao final da tarde, não há escolas fechadas, é um dia normal como outro qualquer, e no dia a seguir os partidos já estão a meter a mão na massa, a trabalhar como qualquer cidadão, mas aqui em Portugal o Passos só se reuniu hoje com o Presidente, três dias após as eleições. Outra coisa que me deixa perplexa é a frase típica que tenho ouvido nos últimos dias: ah, eu não votei no Passos, ah quem o pôs lá não fui eu. Ora, se um mais um são dois, bem feitas as contas, se o primeiro-ministro teve 36 % de votos, mais coisa menos coisa, alguém teve de votar no partido dele, ou foi obra do Espírito Santo? Ámen!

Na minha opinião o Passos Coelho ganhou as eleições por um único motivo: a escolha era muita (tantos partidos que parecia a lista do supermercado) mas pouco fiável, pouco digna, pouco credível. O povo pensou: se é para ficarmos ainda mais na merda, então é melhor deixarmos a merda como está. E não venham dizer que o Costa ficou prejudicado pelo famoso prisioneiro Sócrates (pelo menos até à data de hoje, mas estou a ver a merda a descambar), o Costa teve uma campanha igualmente fraca, sem conseguir reagir de maneira positiva à coligação, e por falar em coligação, não gosto do Portas, nunca gostei alias, anda a raspar o tacho, como tantos outros, a única diferença é que ele tem mesmo cara disso.

Obviamente que o Sr Coelho não tem a culpa toda, quando ele chegou ao Governo anteriormente liderado pelo PS, os vidros já estavam mais que espalhados, ele só teve a apanhar os cacos, mas o que condeno é te-lo feito de uma forma tão austera e agressiva, que não nos deixa respirar. Reforma aos 67 anos, sobretaxa do IRS, cortes nas pensões, cortes nos subsídios, aumento do IVA, o caso BES, estas e outras medidas e situações negativas que afundaram os portugueses.

Fiquei perplexa pela percentagem de abstenção, 43 por cento, eu pensei que, este ano o povo, tendo em conta as dificuldades em que estão a viver, iriam ser activos nesta escolha. Mas afinal não, parece que houve jogo de futebol nesse dia e o Zé do vinho não pode ir votar (o Pinto da Costa paga-lhe as contas por isso não há problema). A Maria da Fonte também não foi votar porque foi passear para o shopping. Agora o que o Zé do vinho e a Maria da Fonte não se lembraram é que, por causa da abstenção deles, eu vou ser governada por um governo que eu não queria. E isso leitores, é puro egoísmo, quem não vota é egoísta e não se preocupa com o seu futuro nem com o futuro do país. Há 41 anos atrás era proibido ir votar, a ditadura governava, por isso o povo não podia decidir absolutamente nada, alias, o povo nem podia estar em plena rua a conversar sobre bananas ou fosse o que fosse, que iam logo conhecer as paredes catitas da PIDE, acusados de conspiração. Quem não foi votar não respeita os camaradas, os nossos irmãos, os nossos avós, que tanto lutaram no 25 de Abril pelos nossos direitos, inclusive votar. Mas se, mesmo depois de tudo isto que leu não se sente pressionado em ir votar, então o voto devia ser obrigatório. Há coisas banais neste pais para as quais não há uma obrigatoriedade, como fumar, passar as tardes nos cafés, faltar ao trabalho e receber rendimentos mínimos aos correios, mas votar sim. Uma lei que obrigasse ao voto, e a uma multa a quem não o fizesse, seria uma triste medida eu sei, mas o povo português funciona assim.

Para finalizar esta minha crónica cheia de politiquice, envio um bem haja para o nosso Presidente da República, o excelentíssimo Senhor Cavaco Silva, por ter feito birra e não ter presidido à cerimonia do 5 de Outubro. A minha pergunta é: se eu também amuar amanhã de manhã e não for trabalhar…também posso não posso? Pois, não posso…é que alguém tem de trabalhar para sustentar malandros destes.