Está frio na boca das pessoas – Vânia Tavares

Acordo (só porque o despertador me obriga).

Levanto-me (passado meia hora).

Está frio. Custa-me abandonar os cobertores.

O ambiente está cinzento, apagado, murcho.

Cheira a indiferença, a maldade, a ignorância.

Tal como eu, muitas e muitas pessoas estão a acordar, a levantar-se e a sentir frio. Mas cada uma à sua maneira. Nem o frio se faz sentir da mesma forma.

O acordar é diferente de pessoa para pessoa, assim como o levantar.

E o que é que isso interessa? Ninguém quer saber como acordam ou como se levantam os outros. Parece que ninguém quer saber de nada. O mundo anda apático. As pessoas nem andam, deixam-se levar. Os sorrisos estão adormecidos, as demonstrações de amor são cada vez mais fingidas e a preocupação pelos outros foi substituída pela cusquice.

Na rua, parece assustador olhar nos olhos. Parece estúpido cantar, rir alto ou mostrar qualquer tipo de alegria – qualquer tipo de calor.

Está frio.

As palavras estão frias, os gestos estão frios, a mente está fria.

VaniaTavaresLogoCrónica de Vânia Tavares
Desafiar o obrigatório
Visite a página da autora