Estado civil: numa relação amorosa com um aparelho dentário!

Olá, caríssimo leitor. Cá estamos para mais uma crónica semanal de “Graças a Dois”, não é verdade? Alto! Escusa de responder, porque era uma pergunta meramente retórica. (E assim evitei que o caríssimo leitor fizesse papel de totó, ao estar a falar sozinho enquanto respondia à minha pergunta. É, eu sou assim: sempre preocupado com o bem-estar dos leitores que perdem alguns minutos do seu precioso tempo, a ler esta crónica. Sou aquilo a que alguém, um dia destes, sentado na sanita a ler uma crónica de “Graças a Dois” – e após terminar de ler – exclamou alto e em bom som: “Eita, que tipo catita, este Ricardo Espada!”)

Há cerca de cinco anos, a minha cara-metade viu-se obrigada (por motivos de saúde) a colocar algo que iria mudar para sempre a sua vida e, por conseguinte, a minha também. Falo, obviamente, de um aparelho dentário. Esse grande terror e inimigo do ser-humano.

Toda a gente tem consciência que o uso de um aparelho dentário nunca é fácil para ninguém. Ou são as dores insuportáveis que implica colocar um aparelho nos dentes, derivado do constante apertar dos dentes que os leva a mover-se de uma forma desenfreada, não com a força que lhes é aplicada, mas sim (na minha opinião) porque tentam fugir daquela tortura a todo o custo — como se fosse um filme de terror em que são persistentemente perseguidos por um psicopata munido de uma catana (Jason, por favor VOLTA!); ora porque um aparelho dentário implica uma manutenção minuciosa por parte do seu utilizador.

Está certo que, no final, a pessoa fica com um sorriso de encantar meio mundo, mas até lá são anos e anos de sofrimento. Tirando as dores ao mastigar, temos: feridas, aftas e dificuldade em falar, parecendo que uma pessoa sofre de uma patologia qualquer ao nível da fala. E depois vem a terrível e paciente missão de, após todas as refeições, ter que pegar numa espécie de piaçaba em ponto pequeno, para retirar os restos de comer que ficam entalados no aparelho dentário, que dá o nome de “Escovilhão”.

Coitadinhas das pessoas que têm de usar um aparelho dentário…

O que elas sofrem…

Coitadas…

Tadinhas…

É um horror…

ENTÃO E AS PESSOAS QUE PARTILHAM A VIDA COM ESSAS PESSOAS? OS NAMORADOS? OS COMPANHEIROS? ESSES NÃO INTERESSAM? ESSES NÃO SOFREM HORRORES, É? POIS QUE SOFREM SIM, SENHOR! E NÃO MENOS DOLOROSOS, FIQUE O CARO LEITOR A SABER!

(Peço desculpa pelo repentino ataque psicótico… Já estou mais calmo… Já contei até dez… Já inspirei e expirei várias vezes… Sim, já estou mais calmo… Acho que estão reunidas as condições para retomar a crónica… Sim, prossigamos!)

Quantas vezes, depois de se jantar num ambiente totalmente romântico, estamos prontos para a sobremesa (e quando digo “sobremesa”, refiro-me claramente a “forrobodó do bom”…) e somos confrontados com uma imagem que deita tudo por água abaixo: vários pedaços de comer encalacrados entre o aparelho dentário e os dentes da pessoa amada. O que leva ao incómodo de termos de dizer: “Ó paixão… Hum… Eu sei que… Bom, eu estou pronto para o forrobodó… Mas, tipo… e se fosses antes à casa-de-banho retirar esses verdadeiros chambões que tens entre os dentes?…” O que é algo que arruína por completo o ambiente que já se tinha formado com o jantar romântico, levando a que, mais uma vez, o “forrobodó do bom” fique para uma outra altura.

Isto para não falar quando se trata da troca de fluídos corporais. É uma verdadeira aventura para se tentar retirar algum prazer, sem acabarmos com uma língua ferida ou mesmo presa em alguma parte do aparelho. Chega a dar a sensação de que se está numa relação com o Robocop – é só arames, ferros e outros que mais a colocar a nossa língua em risco… (Só falta o aparelho gritar algo como: Thank you for your cooperation… You are under arrest!”)

Mas claro, quando se gosta verdadeiramente de uma pessoa, há que fazer um esforço para que ela se sinta o menos mal possível ao usar o aparelho dentário, porque não é fácil…

O TANAS! PARA MIM, O RAÇA DO APARELHO DENTÁRIO DEVERIA SER ERRADICADO, POIS PODE MUITO BEM SER A CAUSA DE MUITAS SEPARAÇÕES OU DIVÓRCIOS! O APARELHO DENTÁRIO É UM SER MALÉFICO CRIADO PELO DIABO! SIM, POR ESSE SACANA DO BELZEBU, SÓ PARA DAR CABO DA VIDA ÀS PESSOAS! RAIOS PARTAM O BELZEBU! RAIOS PARTAM OS APARELHOS DENTÁRIOS! RAIOS PARTAM EDWARD HARTLEY ANGLE, POR SER CONHECIDO PELO “PAI DA ORTODONTIA MODERNA” O QUE LEVOU À INVENÇÃO DO RAÇA DO APARELHO DENTÁRIO! RAIOS PARTAM!

(Calma, Ricardo… Inspira, expira… Isso… Isso… Calma… Conta até dez… Um… Dois… Três… Quatro… Cinco… Seis… Sete… Ah, já está bom. Já estou mais calmo…)

Até para a semana, malta catita.