O Estado de Graça

Ora viva!
Hoje irei falar-lhe sobre o “estado de graça”. Aquele estado tão lindo, tão maravilhoso, tão nhó nhó nhó, tão kutxie, kutxie, tão ooowwwnnn, que só quem passa por ele é que sabe que, de “graça”, tem muito pouco. É tipo o Ultramar – só quem passou por ele é que sabe… (Pelo menos é o que o meu Pai diz e eu acredito.)

A semana passada contei-lhe que o primeiro teste de gravidez, que a minha mulher fez, foi inconclusivo. Já o segundo não nos pregou a mesma partida. Desta vez não havia margem para dúvidas. Ela estava mesmo grávida. Íamos ser papás. Ou como disse a médica, estávamos grávidos! (Tenho a dizer que adoro esta expressão. Desde que soube que “estávamos grávidos” já engordei uns 3kg. Não sei se é dos nervos, se por simpatia, ou pura e simplesmente porque ando a comer este mundo e o outro. É que dizem que um gajo, quando os bebés nascem, mal tem tempo para comer, por isso há que aproveitar agora. Só para ter uma ideia do tamanho da minha pança posso-lhe dizer dizer que, quando ela estava de quatro meses, chegámos a estar “taco-a-taco”. Mas claro, agora eu já ganho. Ups… Quer dizer, agora ela já me ganha!)

Ok! “Estamos grávidos”… Então e agora?! O que fazer? A quantidade de coisas que nos atropelam o pensamento quando recebemos uma notícia destas é imensurável. (Sim, eu escrevi imensurável! Um gajo quando sabe que vai ser pai até começa a usar palavras eruditas…) A minha querida esposa tinha um bebé a crescer dentro dela e dentro de poucos meses eu ia deixar de ser “o Gil” para passar a ser o papá. Ou, simplesmente, o pai do bebé… (Pessoas sem filhos, se querem manter a vossa identidade abstenham-se procriar. Assim que os putos nascem vocês deixam de ter nome. As pessoas deixam de querer saber como vai a vossa vida e nunca, nunca mais ouvirão alguém dizer que tinha saudades suas. Só dos bebés… Eu próprio ainda não sou pai e já sofro dessa maleita…) Mas pronto, pensamento positivo. Agora há que olhar em frente. Até porque pela frente teremos um lindo (e longo) caminho a percorrer. O caminho do “estado de graça”!

O caminho do “estado de graça” é mais ou menos como o caminho de Santiago. Custa como o caraças. É duro de se percorrer, uma pessoa fica cheia de bolhas nas mãos, com os pés e pernas inchados, dores no corpo, tudo e mais alguma coisa… Mas depois, quando se chega ao final, tudo é esquecido. Tudo é passado. Tudo é maravilhoso. (Felizmente para a minha mulher, já vamos a dois terços do percurso e ela parece estar em excelente forma física. Já as minhas mãos… Essas não podem dizer o mesmo!)

Quanto mais penso no termo “estado de graça”, mais ridículo me parece. Quem é que se lembrou que colocar “Estado” e “Graça” na mesma frase seria algo correcto de se fazer? Desde quando é que o Estado tem graça? Ou desde quando é que o Estado dá alguma coisa de graça? É que nem o Estado (“conjunto das instituições – governo, forças armadas, funcionalismo público etc. – que controlam e administram uma nação”), nem o estado de gravidez (“conjunto de sintomas – sono, cansaço, dores no corpo, falta de apetite, excesso de apetite, desejos, náuseas, enjoos, vómitos, irritabilidade, hiper-sensibilidade sensorial, alteração hormonal, etc…”) tem graça alguma!

A graça da gravidez resume-se meramente aqueles momentos em que a mulher mal se consegue mexer e o marido se ri (silenciosamente e sem ela ver, claro) como forma de vingança por tudo o que ele tem vindo a passar. Ou, no máximo, a graça está naquele momento da gravidez em que a grávida cai. Sim, há sempre um momento em que as grávidas caem. Diz que é porque o centro de gravidade muda… (E não se ponham cá com falsos moralismos porque toda e qualquer pessoa que caia e não se magoe, tem piada. Atenção que eu disse: E NÃO SE MAGOE! Se a grávida cair e partir qualquer coisa é um assunto sério. Agora, se a grávida cair e não se magoar, tem piada. Especialmente se ficar de braços e pernas no ar – feita tartaruga – sem se conseguir levantar… Isso é hilariante!). Mas até lá, o melhor mesmo é armar-me em caminhante, agarrar-me ao “bastão”, e pôr-me a caminho que se faz tarde!