Estou gorda! – Sandra Castro

Sim, é um facto, estou gorda! Os meus 55 quilos já eram, e em vez de curvas tenho dobras!

Vou ser honesta comigo mesma e com os meus leitores, as pessoas gostam de afirmar que engordam por causa da genética, do ritmo do dia-a-dia ou engordam até do ar, mas a verdade é que, salvo raras excepções, só se engorda por uma razão: come-se de mais e gasta-se de menos (mais e menos calorias, ora pois) .

E eu tenho comido que nem uma lontra ( peço desculpa às lontras que levam com as culpas ). Nestes dois últimos meses tem sido um festival de francesinhas, bifanas, pizzas, bolos, sem esquecer o meu amigo chocolate. E adorei saborear cada um destes alimentos altamente calóricas.

Confesso que tenho uma relação de amor-ódio com a comida. Adoro comer, mas como de mais e pelos motivos errados. É porque estou deprimida, é porque estou feliz, é porque estou carente, é porque estou stressada, é porque estou a ver um filme, é porque estou a ler…para mim todas as ocasiões são excelentes para umas apetitosas batatas-fritas ou uma deliciosa bola de berlim.

Todos os meus sentimentos, principalmente os maus, como a frustração e o negativismo, são depositados na comida, na falsa esperança que depois da barriga ( e da culpa) cheia de donuts e amendoins eu me sinta francamente melhor.

Gostava de ser daquelas pessoas que até se esquecem de comer, raramente têm fome e nunca têm vontade de comer.

Não fumo nem bebo mas tenho um vício igualmente infeliz, o vício pela comida, e desse lado haverá alguns leitores que se identificam com as palavras que aqui escrevo.

Aliado a este estúpido vício ainda tem o facto de ter desistido do ginásio ( o Sr. Vítor Gaspar é o culpado), mas eu pensei: Ora Sandra, sabes fazer ginástica querida, podes continuar o trabalho exaustivo de modelagem do teu corpo no conforto da tua casa. Sabes fazer alongamentos, flexões, agachamentos, tens samba no pé, isto vai ser canja!

Lá estou eu no meio da sala, equipada a rigor, com uma esteira improvisada com tapetes no chão, os meus halteres de 1 kg, música de incentivo, e começo o meu fantástico treino com um aquecimento leve.

Passado três minutos, o meu filho: Mãeeeeee, não encontro o livro do homem-aranha e quero brincar com os legos. Logo a seguir, o meu filho mais novo: Mãeeeeee, o mano empurrou o bebe , fez dói dói, ba be bi bo bu…Ok ok. Respiro fundo. A ginástica pode ficar para mais tarde, ou para outro dia, mais banha, menos banha não vai fazer qualquer diferença, digo eu.

Mas para meu contentamento pessoal tenho alguns pontos a meu favor para que este desleixo não se torne numa catástrofe. Gosto de mim, mais curvilínea ou menos curvilínea, gosto de mim.

Sou uma pessoa positiva e muito activa, trabalho muito, danço muito, ando muito a pé, rio muito, beijo muito…

Sou sincera comigo mesma. Estou com uns quilos  a mais, rabo grande e barriga inchada ? A culpa é minha! Se quero sentir-me melhor, tenho de fazer por isso!

Mas o que me motivou a escrever a crónica sobre este assunto é que passei a tarde toda a experimentar vestidos de noiva, e embora me ache uma noiva linda, vi o meu desleixo através daquelas luzes fortes e espelhos cintilantes, e a minha auto-estima ( quase sempre elevada) baixou a pique.

E o que é que eu fiz logo após o passeio pelas lojas de noivas? Ginástica! Claro que não queridos leitores! Aqui a madame curvilínea foi ao supermercado e comprou um pacote de amêndoas de chocolate! E comi-as todas!

Crónica de Sandra Castro
Ashram Portuense