O país está a regredir em cultura numa velocidade atroz. Com a “obrigação” imposta pelo governo e uma adaptação de seis anos, o mesmo pretende arruinar por completo e chacinar a língua portuguesa. Como produtora cinematográfica e aspirante a escritora de romances penso que é uma imposição que só nos faz regredir em vez de andar para a frente.
O acordo ortográfico luso-brasileiro de 2009 é um insulto à população portuguesa. Muitos cidadãos nascidos em Portugal recusam-se a concordar com este homicídio à língua portuguesa.
Com o conhecimento que tenho sobre este assunto, dou os parabéns ao CCB por não ter “embarcado” nesta injunção. Imposta por um governo que nada percebe sobre cultura.
Crónica de Filipa Gomes Gouveia
O Mundo, os seus defeitos e as suas virtudes
Não percebi nada. A cultura regride, porquê? Chacina a língua portuguesa, porquê? É um insulto, porquê? Dá os parabéns ao CCB por o CCB virar costas ao presente e ao futuro, porquê?
O acordo é, confessadamente, uma questão política e não linguística. É inconstitucional e imoral e não trás qualquer benefício, pelo menos para Portugal. É mais um triste caso de inépcia e um crime contra a cultura portuguesa.
Pedro Costa, vou responder-lhe ponto por ponto, na minha qualidade de estudante de linguistica.
– A cultura regride pois a escrita evolui consoante o seu uso, é um marco cultural, varia de país para país e cultura para cultura consoante as necessidades e o rumo que o uso lhe deu. Neste caso em singelo foi uma evolução artificial, praticamente inédita nos dias de hoje, que deixou o resto do mundo a abanar as cabeças de tristeza quanto ao que foi feito.
– Chanica a língua Portuguesa porque não obedece aos seus preceitos básicos, destrói regras e cria outras que o seriam, não fossem totalmente arbitrárias. Linguisticamente não tem o minimo sentido e cria duplas-grafias, que vão contra o próprio conceito de ortografia. Um acordo ORTOGRÁFICO que crie duplas-grafias é o equivalente a ir fazer a revisão ao carro e ele sair de lá sem dois pneus.
– É um insulto pois em pleno século XXI um Estado é capaz de passar por cima de toda a gente (independentemente da sua opinião pessoal, tem que admitir que o resto do país não quer o Acordo, e está a ser imposto.), incluindo aqueles que realmente usam e percebem da língua. Não é democracia, pura e simplesmente.
– O “presente” e o “futuro”? Não vejo o povo a aceitar o A.O, e quanto ao futuro, sim, é muito possível, mas não é um bom futuro. Já somos gozados que chegue no estrangeiro desde que esta estupidez foi aprovada. O CCB fez o que qualquer cidadão deveria ter feito, lutar pelo que acredita. É por gente como o Vasco Graça Moura que ainda podemos ter opinião e o direito a expressá-la.
Por isso com todo o respeito, Pedro Costa, cale a boca e aprenda um pouco mais do assunto antes de vir tentar estupidificar o resto de nós.
E mesmo se pudermos hipotéticamente (e estupidamente) concordar com as mudanças introduzidas por este fumegante pedaço de bosta pseudo-legislativa (porque cada um sabe de si e eu cá conheço muita gente a quem sempre irritaram as malfadadas das consoantes mudas), a verdade é que o Acordo, como o Mário muito bem referiu, é tão pura e simplesmente um atentado contra a democracia. Não só consegue ultrapassar as vontades de largos milhões de falantes, muito mais que os 10 no nosso rectângulozinho tacanho; o AO consegue ultrapassar-se a si mesmo, na medida em que foi imposto mesmo não estando as ratificações em todos os países por afectados concluídas OU um dicionário comum estabelecido, ambas condições sine qua non para a sua entrada efectiva em vigor. Coloquemos as coisas de maneira mais clara: não bastando a ilegalidade do Acordo em si mesmo, que foi redigido por gente de que linguística não percebe nada, foi redondamente chumbado na opinião de todos os linguistas de Português e mais alguns, e atenta contra a protecção da língua que é um dever do Estado e do Governo consagrado na Constituição da República Portuguesa; a imposição do Acordo antes das suas próprias condições se verem verificadas é ilegal (e ilógica, digna de um circo de burros amestrados) do ponto de vista do próprio Acordo! Atente-se, onde é que isto já alguma vez se viu, ilegalidade elevada a um quadrado de estupidez pura! Portanto o Sr. Vasco Graça Moura, e consequentemente o CCB, e qualquer outra instituição ou personalidade que recuse o Acordo não estão só a marcar um ponto de vista; estão a cumprir o dever de qualquer cidadão minimamente consciente, que é o de não cumprir com legislação ilegal e anticonstitucional.
Tenho de assumir portanto, Sr. Pedro Costa, que você não só não tem qualquer interesse/orgulho na língua sua e dos seus pais, como não é um cidadão minimamente responsável e informado, não merecendo sequer, portanto, direito a uma opinião nesta matéria.