**Estreia**A Crise que Portugal atravessa a quem é que mais sacrifica? – Júlio Silva

Já todos nós sabemos que Portugal está a atravessar uma crise sem procedentes, embora já tenhamos passo por outras crises, as quais alguns se recordem no tempo após 25 de Abril, dai que não sejamos alheios a este género de sacrifícios. No entanto, direi que ninguém estava preparado para viver uma crise com tal envergadura como esta, que o Governo nos exige que vivemos nos dias de hoje.

Para mais, depois de uma época de fartura de dinheiro, oferecida pelos bancos aos Portugueses e não só. Quem é que não se recorda, ai à uns 8 ou 9 anos atrás de ser procurado em sua casa por um comercial, ou por telefone a oferecerem-lhe dinheiro emprestado, com todas as facilidades de pagamento e acesso imediato a esse dinheiro (24 horas), bastando para isso preencher uns papeis mediante a apresentação do BI e do Nº Contribuinte.

Papeis estes, que eram assinados na hora muitas vezes mesmo em cima do joelho, perante a insistência do comercial uma vez que este ganhava à comissão. Tal era a oferta, que muitos Portugueses, contraíram mais do que um empréstimo, alguns mais de dois e outros três e até quatro, mesmo já nessa altura não podendo pagar o primeiro, endividavam-se na esperança do seguinte vir tapar o primeiro e sucessivamente, vivia-se no tempo das vacas gordas. Mas com a facilidade com que se chegava a estes empréstimos, também se o gastava com a mesma facilidade, e estes Portugueses não reparavam ou não criam reparar que estavam a meter-se num poço sem fundo, ao endividarem-se desta maneira.

Perante esta situação, é que eu hoje pergunto a quem é que esta crise que Portugal atravessa mais afeta? E eu direi que afeta, os citadinos que vivem na grande Lisboa, no Porto, e em outras cidades onde terão de comprar tudo. E que com toda a certeza, estavam habituados a ganhar salários muito mais altos, do que aqueles que vivem numa aldeia do interior do País.

Sim são estas pessoas que sentem muito mais esta crise. Porque a maioria pertenciam à classe média, alguns por exemplo usufruíam ordenados de 3.500.00€ nos mais diversos Ministérios, e de um momento para o outro viram-se sem trabalho e sem direito a fundo de desemprego.

Outros com ordenados similares, viram-se de um dia para o outro sem emprego, porque as empresas deram falência e pediram insolvência, e os empregados despedidos. Os que tiveram direito ao fundo de desemprego, viram-se com os ordenados reduzidos a metade, outros que não tiveram direito a esse fundo, viram-se a receber o subsídio de Reinserção Social, vendo-se do dia para a noite a receberem uma importância irrisória.

Aqueles que usufruíam os ordenados altos, quando chegavam ao final do mês, nunca pensaram no espectro do desemprego. Por esta razão, nunca pensaram em fazer um pé-de-meia, ou se pensaram foram adiando a intenção de o fazer.

Só que de um momento para o outro, passamos de um país rico a um país financeiramente falido, empobrecido, onde a classe média se vê na penumbra da miséria, e desaparece.

Alguns, sem casa, porque tiveram de a entregar ao banco, sem poder levar a vida faustosa a que estavam habituados, sem poderem frequentar os Restaurantes a que eram clientes habituais, e nos quais eram tratados com especial atenção, sem poderem ir de férias ou de gozar um fim de semana prolongado, de um dia para o outro vêm se na miséria total. Nos dias de hoje, essa classe média procura para sobreviver a sopa dos pobres, as Associações de caridade, vivem em casas alugadas ou em quartos de pensões, na maioria com os casamentos desfeitos.

Os que vão aguentando as suas casas, sejam elas alugadas ou próprias, já vivem na maior parte dos casos sem água, sem luz e sem gás, porque estes foram cortados por falta de pagamento. Alguns, sobrevivem hoje em dia, abastecendo-se de água nos postos de abastecimento de gasolina, através dos olhares recriminatórios dos funcionários, que mesmo assim ainda vão tolerando estes pequenos abusos, outros expedientes de sobrevivência, são a utilização dos candeeiros a petróleo para a iluminação, com a ajuda da iluminação da rua com o sistema de abrirem as persianas quando os outros e como é natural as fecham.

Devido a este panorama da realidade desta gente, é que eu digo que quem mais sente a crise que Portugal atravessa neste momento são os citadinos…

Se não vejamos, um Português/a que sempre viveu num Concelho com mais ou menos 10 a 20.000 habitantes, fora das grandes cidades é chamado de provinciano, no entanto, este provinciano normalmente sempre viveu com um ordenado mínimo ultimamente na casa dos 400€. Mas devido ao seu cognome de provinciano, na maioria tem ao seu dispor, um quintal onde cria uns galináceos, uns coelhos, uns suínos que na altura certa mata e coloca na arca congeladora.


Se quiser não paga gás, porque tem a possibilidade de cozinhar a lenha, pode optar por não pagar água porque normalmente tem um furo de água em casa, de onde retira esta mesma água através de uma bomba manual ou um motor. Tira os legumes do seu quintal que previamente semeou, dai que as contas mensais se resume à eletricidade, à despesa da Farmácia e a algum conduto para a casa.

Com este modo de vida, estes Portugueses que nunca conheceram outro ordenado, que não seja o ordenado mínimo, conseguem sobreviver a esta crise, embora reclamem como os demais porque o reclamar já é um vício do Português.

Mas apesar da crise, do ordenado mínimo e de todas as dificuldades que possam surgir durante o mês, ainda existe Portugueses que a viverem nestas condições, no final de cada mês, ainda conseguem poupar alguns euros, aumentando assim e desta maneira o seu mealheiro, ou a sua conta poupança. Como o conseguem fazer?

Eu sei, porque me identifico com esta gente, sou um deles, mas não digo o segredo, se quiserem saber como se faz venham viver para o campo. Venham habitar as velhas casas desabitadas, que um dia as abandonaram trocando-as pela cidade, venham cultivar os terrenos que se encontram abandonados, terrenos que outrora foram férteis em alimentos e que hoje estão transformados em silvados por causa do abandono.

Vindo para estes locais, vocês estão a regressar às vossas origens e vão descobrir as vossas  raízes, e talvez descubram como se consegue todos os meses fazer crescer a vossa conta poupança, ganhando apenas o ordenado mínimo.

Crónica de Júlio Silva
A opinião de Júlio Silva