**Estreia**O Mau, o Péssimo e o Terrível

Quando em 1966 o filme de Sergio Leone, “O Bom, o Mau e o Vilão”, foi lançado em todas nas salas de cinema, estávamos longe de imaginar que o título de um dos mais famosos Westerns de todos os tempos, poderia funcionar na perfeição para descrever a situação actual dos ditos “três grandes” do futebol português. Só que, a ligeira alteração do título tornou-se necessária de forma a corresponder ainda com mais exactidão ao momento que os “três estarolas” atravessam.

O Mau. O ultimato feito tanto pelo presidente, como pelos adeptos a Jorge Jesus, não parece ter sortido o efeito desejado. O Benfica teve uma prestação medonha na Europa e só ocupa o primeiro lugar devido à inoperância dos seus restantes opositores. Jesus já teve mais do que tempo para moldar a equipa à sua maneira, os meios disponibilzados foram mais do que suficientes e os resultados tardam em aparecer, bem como uma evolução do seu léxico. Quando se vislumbra o futebol praticado pelo Benfica não nos ocorre que seja este clube detentor de 33 títulos de campeão nacional, dado o nível exibicional que apresenta. A saída de Matic por 25 milhões de euros só serviu para enfurecer ainda mais os sócios do Benfica. Sócios esses, que só foram apaziguados pela recente vitória por 2-0 sobre o rival Sporting, que não foi mais do que um atirar areia para os olhos. Este ano Jorge Jesus pode dormir descansado sem se preocupar em perder o campeonato na penúltima jornada nem duas finais numa semana, uma vez que, muito dificilmente conseguirá lá chegar.

O Péssimo. Muitos afirmarão que o Sporting está bem. Que já não se via uma equipa tão bem construída e tão forte há anos. Contudo, a visão dos mesmos está apenas toldada pelo passado recente do Sporting, em que um terceiro lugar é visto como algo de bom e de louvar. A verdade é que não está tudo bem. Jardim tem o mérito de ter mudado muita coisa e de conseguir fazer “muito” com “pouco”, no entanto o que o Sporting está a fazer não é bom, o que fez no passado recente é pior que mau, é terrível. Como tal podemos encontrar um equilíbrio e qualificá-lo como péssimo, parece-me justo. O Sporting ainda tem muitas falhas, quer a nível de jogo, quer no próprio discurso do presidente, que apesar de ser visto como um ídolo ao olhos dos mais ferrenhos, diz muita coisa errada e sem sentido. O futebol que a equipa de Leonardo Jardim pratica não é perfeito e falha nas alturas fulcrais. Falta muita coisa a este “renovado” Sporting, porém, falta sobretudo, estofo de campeão.

O Terrível. Aqui a discussão quase não se coloca. Paulo Fonseca conseguiu dois feitos em anos consecutivos, colocar o Paços de Ferreira na Champions e por o Porto a jogar o pior futebol dos últimos anos. A culpa aqui tem de recair no treinador. Paulo Fonseca quis implementar as suas ideias e o seu modelo numa casa onde se ganha. O resultado foi o previsível, miserável. Começando pelas contratações. Uma equipa que se diz querer ser dominadora no país e, como objectivo secundário, ser bem sucecedida na Europa, não pode nunca reforçar-se com jogadores da tarimba de Licá. É manifestamente curto e o resultado esperado não podia ser melhor. A estranheza aqui prende-se apenas com o facto de Pinto da Costa ainda não ter posto travão a isto. Parece que Jorge Nuno vai amolecendo com a idade, algo que nunca passaria pela cabeça de ninguém. Com tudo isto, as unhas continuam a faltar a Paulo Fonseca e não me parece que uma ida à Manicure resolva o problema.

Nesta cowboyada à portuguesa, onde reina a mediocridade e onde em vez de se dispararem balas se disparam larachas e “bocas” de um lado para o outro, nada parece decidido e só mesmo no final se verá quem é mais preciso a puxar gatilho, até lá continuaremos a ser brindados, semana após semana, com a pretensa qualidade futebolística dos “três da vida airada”. Que vença o menos mau.

AntónioBarradasLogoCrónica de António Barradas
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