Eu, (ir)racional, me confesso – Bruno Neves

Diz-se por aí que os humanos são a única espécie racional, mas eu duvido bastante, pelo menos em alguns casos. E não se esteja já a rir e a lembrar daquele amigo meio destrambelhado, porque todos nós temos um lado irracional. O que acontece é que algumas pessoas só têm esse lado irracional. São, portanto, incapazes de suprimir o “ir” que há dentro delas. Esta foi infantil, eu sei, foi o meu lado irracional a expressar-se (ele ás vezes tem vontade própria). É precisamente esse tipo de actos que eu vou abordar esta semana.

Comecemos pelo mais frequente: falar sozinho. Todos nós em algum ponto da nossa vida já falámos sozinhos. Resta agora saber se é um acto isolado ou, pelo contrário, frequente. Quando se verifica em crianças é normal, é aliás nessa altura que surgem os amigos imaginários. Estranho é quando aos 35 anos os amigos imaginários ainda não se foram embora! E o falar sozinho também pode ocorrer apenas na nossa mente, tornando assim todos os dias um autêntico documentário do BBC Vida Selvagem com direito a narração 24 horas por dia.

Outro acto que não faz ponta de sentido, mas que é amplamente praticado por todos nós (literalmente todos), é agredirmos os electrodomésticos quando estes deixam momentaneamente de funcionar. Por exemplo, o comando da televisão deixa de funcionar….qual é a nossa primeira acção? Agredir compulsivamente o comando. Sim senhor, tem lógica. Tornamo-nos automaticamente num agente do FBI em pleno interrogatório a um possível terrorista. É com se o comando estivesse a fazer de propósito. É que nem sequer nos lembramos de que funcionam a pilhas e que estas, por sua vez, podem estar a ficar descarregadas precisando assim de ser mudadas. Não, nem pensar! Esmurrar o comando é muito mais racional!

O seguinte apenas afecta os leitores, ou seja, aqueles que (frequentemente ou não) gostam de ler um bom livro. Por melhor que seja o livro existe sempre, mas sempre, um problema. Qual a melhor posição? Não estejam já a fazer duplas interpretações. Vocês realmente são danados para a brincadeira. Continuando…o mais racional seria ler o livro numa postura correcta e banal: sentado, de costas direitas. Mas chegam os dedos de uma mão para contar as vezes que isso acontece. Arranjamos sempre maneira de ler mais posições mais estranhas, tipo deitado de barriga para cima! Esta opção pode revelar-se especialmente cansativa caso o livro em causa tenha, por exemplo, 700 páginas! Obviamente que as costas e os braços, por exemplo, vão dar sinais de dores. Bem-feita, lessem sentados como as pessoas normais!

Algo que nos assiste a todos num determinado momento é uma doença tipicamente portuguesa: “preguicite aguda” (e sim, a palavra é inventada, mas todos nós a dizemos). Acontece regularmente, por exemplo a seguinte situação: estamos deitados, ou sentados, e mal acabamos de nos instalar é necessário ir buscar o telemóvel. Ora o que fazemos nós? Em vez de nos levantarmos simplificando a acção fazemos os possíveis, e os impossíveis também, para não nos levantarmos! Mesmo que isso implique estar numa posição completamente impossível, digna de uma contorcionista coreana do Circo Chen! A preguiça bate à porta de todos, por isso não se esteja a rir! Nunca se sabe quando ela vai bater à sua porta….



Crónica de Bruno Neves
Desnecessariamente Complicado
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