Eu Não Faço Julgamentos – Amílcar Monteiro

Se existe frase que me provoca comichão no cérebro e faz com que comece a brotar, dentro de mim, uma vontade incontrolável de esfolar vivo quem a proferiu, é “eu não faço julgamentos”. Sim, porque a avaliar pelo que se ouve por aí, ninguém faz, nunca, qualquer julgamento. Creio que, hoje em dia, nem mesmo os juízes os fazem.

Obviamente que esta frase é uma absoluta mentira, dita por bestas que querem apenas passar a imagem de que são extremamente tolerantes e compreensivas. A verdade é que toda a gente faz julgamentos, a toda a hora. Sobre como o outro se veste, sobre ser gordo, sobre o carro que comprou, sobre a forma como fala, entre muitos outros comporamentos e atitudes. Mesmo neste preciso momento, o leitor deve estar a julgar-me. Provavelmente a pensar: “Olha este idiota que ninguém conhece, com a mania que tem piada, a tentar dar-me lições de moral”. E não há problema nenhum em estarem a construir esse juízo, pois isso é algo humano.

A meu ver, a questão não é fazermos julgamentos mas sim o que fazemos com esses julgamentos. Temos é de ter consciência de que, quando formulamos uma opinião em relação a determinada pessoa baseando-nos apenas em alguns factores mais óbvios e superficiais, podemos perfeitamente estar enganados. Não sabemos as motivações, problemas ou ideais da pessoa nem conhecemos o seu contexto. Para podermos emitir um juízo mais fidedigno temos, necessariamente, de conhecer a pessoa de forma mais aprofundada.

Depois de muito pensar, acho que existe apenas um tipo de pessoa que não faz julgamentos: os mortos. E é por isso mesmo que, da próxima vez que ouvir alguém a dizer que não faz julgamentos, vou assumir que se tratam de mortos-vivos e fazer a única coisa que nos pode livrar de mortos-vivos: dar-lhes um tiro na cabeça.

Crónica de Amílcar Monteiro
O Idiota da Aldeia
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