“EUA à beira de um ataque de nervos” – Nuno Araújo

Os EUA estão em “shutdown”, ou seja, grande parte dos serviços federais estão paralisados devido à falta de dinheiro para pagar salários e despesas correntes dos departamentos governamentais. A ala mais à direita do Partido Republicano, vulgo “Tea Party”, está apostada em não fazer aprovar mais dinheiro para Washington gastar, sendo que assim a 17 de Outubro chega-se ao limite de dívida inscrito na lei, no valor de 16 biliões de dólares.

Em boa verdade, este “shutdown” resulta de um “acto hostil e vingativo” até, perpetrado pela ala mais radical do Partido Republicano, ala essa extremamente activa nos seus protestos intra e extra-parlamentares às políticas de cariz social do governo dos democratas, liderado por Obama. Nos EUA, o Presidente Obama fez entrar em vigor a lei que introduz a possibilidade de qualquer norte-americano, mesmo sendo “pobre”, aderir a um seguro de saúde com preço comportável, isto garantido pelo governo de Washington D.C.. Porém, leis ambiciosas como estas encontram sempre grandes resistências por parte de sensibilidades políticas comprometidas com o chamado grande capital, secotr esse onde se incluem líderes e demais funcionários de companhias de seguros e outras afins do ramo do comércio de seguros de saúde, enfim pessoas com vários interesses. É o caso desta lei já apelidada de “ObamaCare”, em que o Partido Republicano, ao não aprovar a proposta de orçamento federal, faz a maior economia do mundo ficar em suspenso, com serviços federais bloqueados e centenas de milhares de trabalhadores em desemprego temporário, tudo isto apenas para colocar Barack Obama numa situação embaraçosa perante o povo norte-americano. Mas Obama não é culpado, quem deve ser responsabilizado nesta contenda devem ser os congressistas vários que têm evitado aprovar o orçamento federal.

Cerca de 900 mil pessoas estão “de férias” forçadas, num “lay-off” temerário para a economia norte-americana. E assim, os EUA estão à beira de um “ataque de nervos”. Se a 17 de Outubro se acabar o dinheiro para garantir o normal funcionamento das instituições, exceptuando a parte militar, diria que o mundo industrializado estará à beira de um colapso parcial, no mínimo.

A calamitosa situação orçamental pela qual os EUA estão a atravessar pode mesmo ser algo mais grave do que aquilo que parece.

Ora, esta lei “ObamaCare” já levou a que várias figuras públicas norte-americanas conotadas com uma ideologia “Tea-Party” (nacionalistas conservadores) apelidassem o presidente dos EUA, Barack Obama, de “socialista”, um termo empregue com frequência por forma a denegrir a imagem de determinado político em questão. Com efeito, os EUA têm em Obama o líder mais determinado das últimas décadas em reduzir défices de qualidade de vida para os mais desfavorecidos, embora muitos outros aspectos estejam naturalmente em falta.

Os EUA pararam, portanto, uma série de serviços federais; sem salário, milhares e milhares de pessoas estão à beira da falência, onde a solidariedade norte-americana está a funcionar, felizmente, sobretudo devido ao sentimento de que todos pertencem a uma mesma comunidade. Os EUA, mesmo que estejam à beira do colapso financeiro, não deverão certamente entrar em bancarrota, pois se isso acontecesse seria o fim do sistema financeiro mundial, assim como o conhecemos. Mas será um acontecimento pior do que a crise de 2008, muito provavelmente.

Pergunto eu: e na UE? Se se passasse o mesmo, por exemplo, com os países com intervenção da Troika, estaria a UE a salvo de uma grande derrocada? Não, claramente que não. As 8ª e 9ª avaliações da Troika ao desempenho do governo em Portugal são positivas para Passos Coelho, mas o país está cada vez pior, afundando-se em dívida, essa claramente insuficiente. Exige-se um governo que rompa o ciclo de políticas de austeridade, por forma a garantir nada menos do que a criação de emprego, a recuperação da sociedade portuguesa e da sua soberania sobre o país, tanto recuou desde 2011, ano de entrada da Troika em Portugal. Todos os portugueses neste país devem ter a consciência do ditado ”para grandes males, grandes remédios”, o que significa que todos devemos estar à altura da exigência dos acontecimentos.

Crónica de Nuno Araújo
Da Ocidental Praia Lusitana