Euromilhões – Fé na Sorte

São vários os entusiastas que já se habituaram à sua aposta semanal no totoloto ou no euromilhões, ou ainda à rotina de tomar um café no balcão enquanto faz uma raspadinha.

Desde 2010 que tem havido um aumento nas apostas nacionais e, só nos últimos 12 meses, cerca de 5.6 milhões de portugueses (isto é, dois em cada três portugueses) afirmaram ter tentado a sua sorte, fazendo com que sejamos um dos povos que mais dinheiro gasta neste tipo de jogos.

E porque o fazemos?

A tristeza hesita no ar, expirada pelas pessoas que fitam pelos vidros das montras os sonhos afastados pela exaustão dos seus trabalhos de escravatura moderna, pelas leis tiranas que nos furam os bolsos e secam o corpo diminuído, nas casas que mal podem pagar, em condições que apenas a porta pode enganar.

As crenças demoram o seu tempo a ramificar, pouco se alteram, mas adaptam-se. Da fé à sorte, da Bíblia ao trevo de quatro folhas, todos temos qualquer coisa ou um qualquer gesto supersticioso presente nas horas de aperto pela crença que nele depositamos. E este tipo de jogos poderá ser uma interpretação da mesma.

Temos que acreditar em algo para poder [sobre]viver à lentidão dos dias que voam pelos anos – E talvez seja desta vez ou talvez da próxima! São uns euros por aposta em troca de milhares de milhões. Porque não jogar?

Têm-se somado vidas pela debilidade da humanidade face aos espasmos deste enorme, frágil e ainda desconhecido planeta, e por aqui andamos, de rostos voltados para o chão, para as dificuldades do d ia ou problemas da vida. Deveríamos – sim! – unirmo-nos como espécie que somos, reformular e partilhar consciências, sentimentos e soluções.

Gastamos os trocos de trocos quando são só trocos que temos – Porque pode ser a minha vez!

Porque a esperança é, sem dúvida, a última a morrer.

 

“You may say I’m a dreamer, but I’m not the only one. I hope some day you’ll join us. And the world will live as one.”

John Lennon

Artigo de Ana Flora