Europa: solidariedade ou federalismo germânico?

As opiniões de José Vítor Malheiros ao Público e de Pedro Santos Guerreiro no Expresso fez-me lembrar o que eu próprio escrevi no Mais Opinião, mas em Dezembro de 2011.

No final de 2011 eu escrevi:

“Mas o que está aqui em causa é o EURO. A Alemanha – que, reza a história, foi o primeiro Estado Membro a violar um pacto de estabilidade imposto por Bruxelas – quer manter à força uma união monetária que foi, desde o inicio, mal pensada. Com uma organização diferente, não estaria neste estado. Já levou Sarkozy atrás – tipo “moço de recados” – e agora que levar todo o resto da união europeia.

Parece-lhe estranho? Não é. A Alemanha já tentou, por duas vezes na história, conquistar a Europa pela força, pelas armas. Esta é só outra forma de tentar controlar a Europa, desta vez pela economia e pela politica. Porque se a Alemanha tivesse interesse em resolver a crise já tinha agido muito mais cedo. E o Reino Unido, sempre teve, reza a história europeia, ao lado dos “aliados”, contra a Alemanha e os seus interesses. Só que desta vez, a França é um “peão”, nas mãos da Alemanha.

Uma coisa que não gostaria de relembrar – mas para fazer sentido, tem de ser – é que, nas outras duas tentativas da Alemanha de controlar a Europa acabaram com o velho continente de rastos. Esperemos que não aconteça o mesmo agora.”

Muito actual, não acha?
José Vitor Malheiros diz que “a União Europeia são 28 e no fim obedece-se à Alemanha” e que “o Eurogrupo são 19 e no fim e no princípio obedece-se à Alemanha.” Pedro Santos Guerreiro diz, sobre a Grécia e o acordo com os credores “a Alemanha quis tanto destruir o Syriza, por vingança e por dissuasão a que outros países elejam partidos radicais, que perdeu a noção da força. Mais um pacote recessivo vai destruir mais economia e mais emprego numa economia já exangue.

Na semana passada escrevi que solidariedade na UE já era. Aqui só há mesmo a Alemanha a comandar, para que os seus bancos e os dos parceiros franceses tenham sempre liquidez. Por isso, a pergunta do título é um pouco retórica.
Isto é tanto mais curioso se pensarmos que, segundo o Público, a revista alemã Der Spiegel revelou que Helmuth Kohl, antigo chanceler, «afirmou a um amigo que as políticas europeias de Merkel são “muito perigosas”», tendo mesmo afirmado “ela está a destruir a minha Europa“. Como se ainda não bastasse, há a “birra” do ministro das finanças alemão que teimava em empurrar os gregos para fora do Euro, ainda que temporariamente, e, com a recusa dos parceiros – incluindo Merkel – a nessa opção, ameaça demitir-se.

Ao fim do dia, isto é um jogo para o governo alemão. E todos podem perder, menos os germânicos.

Crónica de João Cerveira

Este autor escreve em português, logo não adoptou o novo (des)acordo ortográfico de 1990