Evidência de Paz (2)

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O Papa Francisco veio dizer:

«Que os lares de idosos sejam casas, não prisões!»

Lembrei-me de várias coisas quando vi esta expressão. Em primeiro lugar veio logo ao meu pensamento as notícias que por vezes dão nos media, referindo que este ou aquele lar vão fechar por falta de condições, ou porque o vizinho X há referido que os «idosos daquele sítio eram maltratados». Por outro lado, também temos os lares associados à Misericórdia e de apoio estatal. São lares, normalmente, de uma dimensão superior e que tentam satisfazer as necessidades primárias do utente. Já entrei num lar público mas nunca entrei num lar privado. Contudo, preferia nomear ao que tradicionalmente chamam de «lar», Casas de Apoio ao Desenvolvimento da Terceira Idade, isto porque parece corresponder muito mais à ‘perspetiva’ daquilo que o idoso ‘anseia’ em adulto para ter uma Idade Terceira, digna, confortável, como parte integrada e não separada de uma vida inteira Total.

Uma vez, numa aula, um prof. De Psicologia, ao referir-se às atividades propostas aos idosos, comunicava a importância da sustentabilidade do desenvolvimento individual do Ser Humano, agora em terceira idade:

– Bom, não vamos pôr um idoso que toda a vida teve uma vida ativa, cuidando de não sei quantos pássaros, passeando sempre que podia, interagindo e comunicando desde sempre com pessoas… num lar, onde se sinta sozinho, sem qualquer atividade para realizar, ou em atividades repetitivas, onde sinta ‘o abandono’ de si e da sua vida, ou porventura sinta a sua integridade à deriva, ou já não consiga situar o espaço-tempo do seu desenvolvimento, nem tampouco ter consciência disso mesmo.

Se não foram estas as palavras, o sentido fora este. O que este prof. queria dizer, era que aquando o desenvolver da Idade apenas se deveria ‘construir’, somar saber, e nunca desencadear situações onde ‘lo anciano’, possa sentir-se frustrado pela vida que levou. Desde jogos como Damas, Sueca, o Bingo, a Jardinagem, o Artesanato, a Pintura, o yoga, a sensibilidade para a leitura e para a escrita, a música, as dinâmicas e partilhas de conselhos, até aos Cursos das Faculdades de Idade Sénior como a Universidade Sénior Contemporânea do Porto, a Universidade Sénior de Arte e Cultura do Porto, a Universidade Sénior da Foz, a Universidade de Lisboa para a Terceira Idade (ULisboa), tudo é possibilidade de potencializar o sucesso do Ser Humano, em Idade Terceira até à excelência da sua condição.

Sutton (2014) explica que o melhor lugar para a Pessoa da Terceira Idade se encontrar é na sua própria casa, quando não existem enfermidades maiores. Com isto se quer dizer que a possibilidade de ter um familiar por perto, ou ter os serviços e cuidados médicos ao dispor no conforto de sua casa, é, porventura, uma grande solução quando não existem condições de maior gravidade de doença. Caso contrário, outros lugares estão à disposição dos idosos. «Os lugares onde existem serviços para pessoas maiores e para aqueles que necessitam de atenção devido a graves lesões, doenças, ou incapacidades. Os chamados ‘lares’ eram, antigamente, os únicos sítios que ofereciam atenção 24h diárias; hoje, estes lugares já podem promover o cuidado temporal, intermédio, ou de serviços completos».

Bem sei que os lares estatais devem promover o bem-estar de todos os idosos por igual; mas tal como o Papa Francisco referiu, sou apologista de Casas de Apoio ao Desenvolvimento da Terceira Idade e não tanto de ‘Lares’ ou ‘Asilos’ (em sentido fechado e restrito). A compilação de mais de 12 idosos num mesmo espaço, em perspetiva própria, não proporciona o conforto a nenhum deles, nem tampouco se consegue assegurar a sua condição consciente da realidade para a poder desenvolver ao máximo. É tal e qual um ATL ou um Centro de Estudo; com profissionais capazes, as crianças sozinhas são capazes de desenvolverem o seu potencial máximo segundo o seu treinador ou coach educativo; acompanhadas com mais 2 ou 3 crianças, continuam a ter o apoio, não tão intentado como se estivessem sozinhas contudo com uma atenção cuidada para com as mesmas; mas quando tentámos colocar 30 crianças num mesmo espaço, o planeamento, a organização, a constatação das necessidades e das realidades integrais da criança, i.é, o apuramento e aprimoramento desta criança, dependerá muito mais dela do que propriamente do profissional que interage com a mesma. «E ela não procurou os serviços de apoio ao estudo para isso mesmo? Para ter uma atenção integral e melhorar gradualmente o seu desempenho?».

E tenhamos em atenção, que uma criança, pode levar o xarope de quando em quando, porque está doente e necessita de atenção redobrada nesse dia; e um adulto sénior? A criança ainda apresenta o impulso e a intenção de se levantar e mexer-se porque assim o seu desportivismo físico e mental ainda o permite, e o adulto sénior? Acomodando-se muitas vezes ao sofá, pela desmotivação, pelo desinteresse contínuo pela vida, pelo desinteresse por tudo o que o rodeia, mostra gradualmente a frustração por não conseguir fazer as coisas que sempre fez, ou as coisas básicas e simples, que ainda lhes encarregavam de alguma dignidade enquanto Seres Humanos.

«Usufruir das condições familiares, do conforto do próprio lar, de cuidados temporais interiores e exteriores por membros familiares em cumplicidade com técnicos especializados (a cada qual, segundo as suas necessidades), proporcionando o «cuidado maior», em total condição de amor, tomando em consideração não a condição doente de um Adulto maior mas sim a sua intemporalidade saudável e a mestria da sua vontade para ainda vir a fazer e a desenvolver…para mim, ainda é a esperança de quem vive a sua longevidade em busca de um mundo melhor».

E tudo isto estará relacionado com «a qualidade de vida», «a condição económico-social», a «educação ambiental e familiar para os problemas do envelhecimento», etc.. Estará relacionado também com as condições confortáveis que foram oferecidas ao Ser Humano para se expandir no mundo e desenvolver as suas competências e qualidades; tudo isto estará relacionado com a refutação do conceito de um Ser Humano como ‘propriedade física que se vai desgastando pouco a pouco’, mas antes, a consideração de um Ser Humano ‘pleno, prosperando no desenvolvimento das suas competências e qualidades, e aperfeiçoando-se até ao grau excelso, fruto dos seus sonhos ou não, atingindo o exponente máximo da sua saúde’.

Uma máxima da meditação: «tornar consciente todo o físico, psicológico, espiritual doente, para assim, pouco a pouco, o transformar em saúde saudável integral, num sendo feliz». Por isso, hoje em dia, o (Re)Habilitar ser tão importante quanto Habilitar. Não tenhamos somente a noção de que quem está em reabilitação está unica e exclusivamente em processo de cura de doença física ou neurológica, tenhámos a noção de um (re) habilitar como o conseguimento do grau máximo da habilitação ora doente, ora habilitada ao grau de excelência.

Surge mais recentemente a noção de ‘apoios técnicos domiciliários’, que nos incute o pensamento de que o Adulto Sénior não necessita de ser ‘arrancado’ das suas condições confortáveis ao nível familiar, mas adaptado a um sistema domiciliário diferente do habitual, com vista a dar resposta às suas necessidades. Em atividade constante, remetendo ao seu desenvolvimento contínuo, o Adulto Sénior deve de ser (re) habilitado a uma condição saudável cada vez mais feliz, e não o processo contrário e por isso a existência desta possibilidade complementar.

As chamadas ‘Casas de Apoio ao Desenvolvimento da Senioridade’ em detrimento dos ‘grandes lares’ devem de partilhar ideias amorosas, considerar parcerias com as Universidades Séniores (e não atividades propriamente ditas), com entidades médicas tradicionais e complementares, capazes de dar uma maior, melhor e mais rápida resposta às necessidades sentidas, com entidades culturais, onde o urbano e o rural possam andar de mãos dadas, com entidades desportivas, que ofereçam condições mais plausíveis para o exercício de desporto, massagem e fisioterapia, com entidades solidárias que beneficiem voluntário e usufruidor de serviço, com entidades espirituais, capazes de aproveitar, sustentar e otimizar os recursos de que cada qual dispõe com vista a um Ser Holístico mais pleno de Vida e pronto a partilhar em felicidade.

…mas sei que a vida não são rosas, mas por alguns minutos me parece e por 1 segundo pensar, que poderia ser sempre assim, um lado-paz.